Órgãos investigam se navio em PE foi origem de petróleo no litoral no Nordeste

Imagem de satélite ajuda no trabalho; oito estados foram atingidos

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  • Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2019 às 21:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Adema/Governo de Sergipe

Uma imagem de satélite registra o que seria o navio responsável pela mancha de petróleo cru que atingiu praias em oito estados do Nordeste nesse último mês. Ainda não há resultado conclusivo, diz a Folha de S. Paulo, mas um ponto em alto mar foi identificado pelo grupo que estuda o caso, formado por órgãos ambientais estaduais e federais, além da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). 

“Imagine que temos quase uma cor só. Por isso, a gente está analisando pixel a pixel (ponto a ponto). Identificamos um ponto, que seria um suposto navio, e estamos trabalhando para saber a densidade desta mancha”, diz Eduardo Elvino, diretor de controle de fontes poluidoras da Agência Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH), destacando que o trabalho é difícil por conta das imagens distorcidas.

Não há nenhum detalhe sobre essa possível embarcação, nem a distância dela para a costa. Pela aquantidade alta de petróleo cru descartada, ainda é preciso considerar se o material veio de apenas uma fonte. 

A mancha avança aproximadamente 10 centímetros em um segundo. OIto estados do Nordeste já tiveram praias atingidas - a Bahia é a única exceção. “É um quebra-cabeça. Pego o mapa de vento e a imagem de satélite para construir esse padrão. O tempo de chegada na costa vai dar um histórico para apontar há quanto tempo isso está viajando", diz Marcus Silva , professor do departamento de oceonagrafia da UFPE.

A mancha  já atingiu mais de 2 mil quilômetros do litoral do Nordeste - 5 praias de 48 municípios. O poluente afeta a fauna e causa um desastre ambiental de consequências ainda não totalmente avaliadas.

De fora do país A coordenadora de Emergências Ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fernanda Pirillo, afirmou tratar-se de um acidente sem precedente no Brasil, por causa da grande extensão. O Ibama diz que o composto não é fabricado no Brasil, com base em análise da Petrobras. Constatou-se até agora a morte de seis tartarugas-marinhas - outras três sobreviveram - e uma ave, mas a fauna atingida pode ser maior. Conforme a bióloga Liana Queiroz, do Instituto Verde Luz, um boto foi achado morto na Praia de Iracema, em Fortaleza, e muitas tartarugas com vestígios de óleo acabaram devolvidas ao mar. Liana citou a hipótese de que o óleo seja proveniente de depósitos de petróleo cru atingidos pelo furacão Dorian nas Bahamas. Já o professor Marcus Silva, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), acredita que o óleo seja proveniente de lavagem de tanques de navios no oceano, em ponto distante da costa. "Nesta época, o vento flui do sudeste para noroeste e pode estar empurrando as manchas do mar para a terra. Acho muito improvável que o óleo tenha vindo das Bahamas ou de outro local daquela região, pois o padrão de circulação dos ventos não favorece esse deslocamento." Além disso, dois barris de óleo foram encontrados na costa sergipana, o primeiro em uma praia no município da Barra dos Coqueiros, litoral norte, e o outro na Praia Formosa, na zona sul da capital. Uma força-tarefa com equipes de meio ambiente locais, Ibama e Marinha monitoram a costa. O barril encontrado na barra estava aberto e a suspeita inicial é de que não tenha sido trazido pelo mar, mas sim colocado ali. Se o responsável por qualquer despejo for identificado, mesmo que seja estrangeiro, poderá ser multado em até R$ 50 milhões, com base na Lei 9.605/1988, que pune condutas lesivas ao meio ambiente. Terá, ainda, de responder pelo crime ambiental. As primeiras manchas foram identificadas no dia 2 e continuam sob investigação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do governo federal, e da Marinha. Conforme o Ibama, a substância se trata de hidrocarboneto. O órgão está recolhendo amostras, assim como a Marinha. Após sobrevoo pelo litoral por cinco horas nesta quinta, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Ceará informou que não identificou mais manchas de óleo em uma faixa de até 12 quilômetros da costa Mas os registros na área do Maranhão aumentaram. Já o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) informou que a coleta do produto deve ser feita com ferramentas específicas para evitar contato com banhistas. A medida é "preventiva contra irritações e processos alérgicos", especialmente na superfície da mão, nos olhos e na boca. Conforme o Ibama, até esta quinta não havia evidências de contaminação de peixes e crustáceos, mas a orientação é para que a qualidade do pescado capturado nas áreas afetadas para fins de consumo humano seja avaliada pelo órgão de vigilância sanitária. Para a professora Mônica Costa, do Departamento de Oceanografia da UFPE, a melhor solução é manter distância do produto, isolando as praias até que se consigam informações mais completas sobre a substância. "A fim de preservar a vida e a saúde das pessoas, é importante não tomar banho, pescar ou comer nas praias afetadas", diz. A Petrobras descartou a hipótese de a substância ter sido produzida ou comercializada pela companhia, mas afirmou que está cooperando para a limpeza das praias. Em nota, o Ibama ressaltou que mais de cem pessoas trabalham na limpeza dos pontos.Turismo O óleo mancha cartões-postais do Nordeste, como a Praia do Futuro, no Ceará, e Maragogi, em Alagoas, e deixa o setor turístico em alerta. "Como atrair visitantes para uma região que está sendo afetada por uma substância química?", indagou o presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo, Elzário Pereira. Já a CVC, uma das principais operadoras do País, informou que seu Centro de Controle Operacional não registrou queixas e destacou que consequências como cancelamentos só devem ocorrer a médio prazo. Na mesma linha foram órgãos públicos de turismo consultados pela reportagem em Pernambuco, Maranhão e Sergipe. No entanto, Marcos Barbosa, proprietário de um restaurante de Pirambu, em Sergipe, onde o óleo chegou nesta semana, já vê problemas. "Desde quando começou a aparecer a mancha, reduziu em 70% o fluxo de turistas." Funcionária de um hotel na Barra de São Miguel, na Grande Maceió, outra área afetada, Deyse Marinho indica que a insatisfação de clientes cresceu após ida às praias "Mas a expectativa é de que esse tipo de acidente não ocorra mais e sejam sanados os problemas." As informações são do jornal