Orla de Salvador terá 46 novos quiosques e 55 chuveirões no próximo Verão

Banhista terá que pagar taxa para ter acesso a duchas de água doce

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  • Thais Borges

Publicado em 22 de maio de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Marina Silva/CORREIO

Pegar um solzinho, sentar nas cadeiras de plástico na areia e comer um caranguejo ou pititinga – depende da preferência do freguês. Até a demolição das barracas de praia em 2010, essa foi a rotina nas praias de Salvador. Agora, soteropolitanos e turistas vislumbram – e já experimentam – novas formas de ocupar a praia. E, no Verão de 2019, já devem contar com até 46 novos quiosques espalhados pela orla.

Até o fim do ano que vem, serão 53. E o número pode chegar a 65 – essa é uma mudança em relação ao contrato firmado em 2015 com as concessionárias Nova Orla e Salvador Quiosques, que previa 100 na cidade.

A alteração, que, segundo a prefeitura, foi definida após estudos de viabilidade econômica, é uma das novidades do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que deve ser assinado até o fim do mês pelas duas partes. Para completar, ainda no Verão, deverão estar disponíveis os “chuveirões” de água doce na orla, mediante pagamento de uma taxa (saiba mais abaixo).

Em breve Os próximos quiosques a serem abertos devem ser os seis da Vila do Jardim dos Namorados, já nas próximas semanas, além de dois no Jardim de Alah. O novo espaço na Pituba vai funcionar nos mesmos moldes da Vila Caramuru, no Rio Vermelho.“A implantação dos quiosques de forma integrada, como na Vila Caramuru e no Coqueiral de Piatã, funcionou melhor do que os colocados de forma individual, como na Ribeira. Por isso, acolhemos a sugestão das concessionárias com a Vila do Jardim dos Namorados”, explica o secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Claudio Tinoco.Com essa mudança, as concessionárias gastam mais do que o previsto apenas com a construção e instalação dos quiosques. Esses custos, de acordo com Tinoco, devem ser compensados com a não cobrança de multas por atraso nas obras e com a possibilidade de instalação de publicidade nesses ambientes. Novos quiosques do Jardim dos Namorados serão entregues nas próximas semanas (Foto: Marina Silva/CORREIO) Funcionando Desde 2015, 28 quiosques já entraram em funcionamento – a maioria na Vila Caramuru (8) e em Piatã (7), seguidos de Itapuã (6), Stella Maris (3), São Tomé de Paripe (2), Ribeira (1) e Flamengo (1). Outros dois estão implantados, mas sem funcionar: um em Piatã, que está sem operador (ou seja, o restaurante que aluga das concessionárias), e outro na Ribeira, que aguarda a conclusão de serviços da Coelba e da Embasa.

A Coelba disse não ter recebido pedido de extensão ou ligação de rede para a área. Em nota, a Embasa afirmou que "para a execução desse serviço, é preciso que o imóvel cumpra os requisitos técnicos exigidos pela Embasa, com base na Resolução 002 da Agência de Saneamento do Estado da Bahia (Agersa), que determina: “Ficará a cargo do usuário responsável a aquisição e a montagem do padrão de ligação de água, exceto o hidrômetro, conforme especificações técnicas fornecidas pela Prestadora”. Esses requisitos também são informados ao cliente por meio de uma cartilha, disponibilizada nos pontos de atendimento da empresa". 

Segundo a Embasa, no caso do quiosque de Jardim de Alah, o primeiro pedido de ligação de água foi feito em 16 de janeiro. "O fiscal da Embasa esteve no local, em 29 de janeiro, e constatou que o imóvel não tinha sequer instalações hidráulicas ainda, o que foi comunicado por telefone aos responsáveis. O segundo pedido de ligação foi feito em 9 de março, e a visita técnica ocorreu em 14 de março. Dessa vez, o fiscal constatou que o imóvel não tinha reservatório inferior equipado com bomba para elevar a água. Finalmente, no terceiro pedido de ligação, feito no dia 2 de maio, a vistoria técnica, realizada no dia 11, constatou que as instalações internas estavam adequadas. Diante disso, a Embasa prosseguiu com o serviço, e a ligação de água desse quiosque está programada para ser feita amanhã (hoje), dia 22". 

Já quanto ao caso do quiosque da Ribeira, a empresa informou que o pedido de ligação foi indeferido, porque o imóvel estava a uma distância de 25 metros da rede da Embasa, o que excede o limite previsto na Resolução 002/2017 da Agersa (artigo 28), que é de 15 metros. Nesse caso, os responsáveis pelo quiosque precisam realizar essa obra de extensão da sua rede interna, para viabilizar a execução da ligação de água pela Embasa.

Há, ainda, dois novos quiosques que devem ser implantados na Praia do Flamengo e um em São Tomé de Paripe – os dois primeiros aguardam a reforma da orla do bairro e o último ainda não teve interesse de operação.

“Desde 2013, quando o prefeito assumiu, foi aberto um diálogo com a Justiça Federal para retomar a requalificação da orla, inclusive com equipamentos que oferecessem comida e bebida. Chegamos à definição de que seria um modelo que não tivesse construção em área de areia e distribuímos 250 kits móveis”, diz Tinoco.

Dos 46 quiosques previstos para o próximo Verão, 42 estão garantidos. Os outros quatro virão com a implantação de dois em Ondina, que dependem das intervenções na região, e dois no Farol de Itapuã, já requalificado.

Já no cronograma até o fim do ano que vem, entram quatro quiosques que vão ficar no Parque Rosa dos Ventos – ao lado do Centro de Convenções e da Arena Daniela Mercury, na Boca do Rio.

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Revisão O TAC que será assinado até o final do mês deve rever a quantidade de quiosques prevista inicialmente. Pelo contrato inicial, seriam instalados quiosques até mesmo fora da orla. “A concessão é de 15 anos, mas vai depender muito da viabilidade. Eles pagam a outorga por quiosque instalado, então não há prejuízo”, diz Tinoco.O valor de outorga é de R$ 36 mil, R$ 51 mil e R$ 80 mil, por quiosques de 30m², 50m² e 100m², respectivamente. Até então, já foi pago à prefeitura o R$ 1,48 milhão.

Há quiosques, inclusive, que não tiveram sequer interesse. Dois que tinham sido implementados em Tubarão no fim de 2016 foram demolidos no início do ano. 

Outras regiões que devem receber quiosques são as praias de Amaralina, Boa Viagem, Corsário, Patamares, Itacaranha e Plataforma, embora a quantidade e o local exato não estejam definidos.

A  faixa da praia do Corsário até Jaguaribe, especificamente, vai receber também outro tipo de quiosque. Como elas não estão incluídas, até o momento, em nenhuma linha de financiamento para reforma da orla, ainda não tem a infraestrutura necessária para receber esses equipamentos da forma como estão concebidos hoje.

Por isso, a prefeitura não descarta a possibilidade de criar um novo modelo. Ao mesmo tempo, podem ser colocados quiosques para acarajé e água de coco.

O TAC também prevê delimitação do espaço para mesas na área externa e a ampliação do tempo para instalação - de 120 dias após a notificação para 180.

Chuveiros com taxa Depois do banho de mar, a maioria dos banhistas tem um desejo: um bom banho de água doce. Em Salvador, a partir do próximo Verão, as praias vão ganhar um reforço nesse aspecto: a prefeitura já mapeou 55 áreas – entre elas o Porto da Barra e a Praia do Flamengo – que podem receber “chuveirões”. Eles vão funcionar sob a cobrança de uma taxa.

O número previsto ainda deve aumentar com os que serão colocados na orla da Baía de Todos os Santos. O chamamento público para as empresas interessadas deve ser publicado até o próximo mês de julho desde ano, ficando disponível por 90 dias. O investimento previsto deve ficar em torno de R$ 2,7 milhões.“Tivemos todo um trabalho de pesquisa para identificar um modelo. A gente reconhece algumas cidades como o Rio de Janeiro e Recife, que têm equipamentos que funcionam mediante a cobrança de uma taxa”, explica o secretário Claudio Tinoco.Em Recife (PE) e no Rio de Janeiro (RJ), o valor cobrado pelo uso dos chuveiros varia de R$ 1 a R$ 2,50. Aqui, a taxa deve ficar próxima disso. “Os chuveiros são muito demandados pelos frequentadores, mas também existe a possibilidade de instalarmos guarderias de volumes e de materiais esportivos”, aponta o secretário.

Atualmente, o contrato dos empresários que alugam os quiosques prevê que sejam oferecidos sanitários. No entanto, essa operação logo se mostrou inviável, na avaliação dos bares e restaurantes que funcionam nas estruturas.

 “No contrato, se estabelece que é de uso comum, mas alguns tiveram dificuldade com isso”, declara, referindo-se ao uso dos banheiros por pessoas que não estão entre os clientes dos estabelecimentos.

Por isso, o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que deve ser assinado ainda este mês entre a prefeitura e as concessionárias dos quiosques para abarcar mudanças no contrato e deve incluir esse item.

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Comércio aposta em maior movimento No Jardim de Alah, a vendedora de coco Maria Helena Pereira, 72 anos, acompanha diariamente a implementação de dois quiosques na orla. Ela ocupa um dos três equipamentos para venda de água de coco há cerca de três décadas e, nos últimos anos, viu o movimento cair drasticamente.

“Tinha muito movimento quando tinha mais hotéis aqui e vinham os ônibus de turismo. Agora, fechou tudo. Vamos ver se com esses restaurantes que vão fazer aí, vamos trazer mais clientela. O pessoal reclama muito da falta de barracas. Antes, eles vinham, sentavam, tinha banco, balcão...”, lembra Maria Helena.

Hoje, em dias de sol, na alta estação, ela vende entre 20 e 30 cocos por dia, cada um a R$ 3. Nos dias de tempo mais fechado, chega a acontecer de voltar para casa sem ter conseguido vender nada. Com reformas, Dona Maria Helena espera voltar a vender tantos cocos quanto antigamente (Foto: Marina Silva/CORREIO) Nos tempos áureos, ela nem sabe estimar quantos clientes passavam por ali. “Está precisando de uma reforma mesmo por aqui e, inclusive, espero que façam logo o da gente. Eles disseram que vão fazer os nossos também”, diz. 

Para a presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens - Seção Bahia (Abav-BA), Ângela Carvalho, os novos quiosques devem movimentar o turismo. Segundo ela, é muito comum que a Vila Caramuru seja um destino certo de quem vem a Salvador. 

“A orla está precisando de um atendimento dessa forma, porque compensa as barracas, já que tem mais estrutura e higiene. Tenho ouvido de quem vem a Salvador pela segunda ou terceira vez que a cidade está bem melhor, mas alguns comentam que os preços da Vila Caramuru são muito altos. De repente, seria bom fazer uma variação maior de preços (nos novos quiosques)”, sugere. 

Já o presidente da Federação Bahiana de Hospedagem e Alimentação, Silvio Pessoa, pede brevidade na instalação dos quiosques. “Esses quiosques já estão atrasados. A gente queria para ontem, por isso pedimos agilidade nesse processo. Mas eles vêm em boa hora, porque precisamos de serviço de praia. Hoje, temos um serviço mal explorado que não acrescenta em nada para quem vem a Salvador”, critica. Segundo ele, 50% dos turistas que chegam à cidade vêm para conhecer as praias.