Orlando Tapajós vai receber pensão vitalícia de R$ 6 mil por mês

Benefício será concedido pela Associação Baiana de Trios Independentes (ABTI)

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  • Gil Santos

Publicado em 4 de fevereiro de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

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O construtor de trios elétricos Orlando Tapajós, 84 anos, vai receber da Associação Baiana de Trios Independentes (ABTI) uma pensão mensal no valor de R$ 6 mil. A instituição se sensibilizou com a história do artista depois que o CORREIO publicou uma reportagem, no último domingo (28), onde contou que um dos maiores nomes do Carnaval de Salvador estava vivendo com R$ 900 por mês. 

Segundo o assessor da presidência e membro da ABTI, Cassini Rosselo, no dia seguinte a reportagem, o presidente da associação, Paulo Leal, se reuniu com Tapajós e decidiu ajudar o artista. A primeira pensão será paga ainda esse mês. 

"O trio elétrico tem um DNA próprio que foi formado na Bahia e exportado para o mundo. Seu Orlando é responsável pela criação dessa carroceria. Ele trouxe a estrutura de escadaria e banheiro para os trios. Ele faz parte da história do carnaval. Nunca houve na ABTI nenhum tipo de estrutura que permitisse dar apoio ao trio elétrico. Estamos mudando isso, então, essa é uma atitude generosa e de responsabilidade", afirmou.

Orlandinho, filho do artista, contou que o pai não passou por dificuldades graças à família. Ele está arcando com as despesas de Tapajós porque a pensão de um salário mínimo que o idoso recebe não supre as necessidades. Para os familiares, o esquecimento é outro fator que entristece. 

Bruno Tapajós, neto do artista, contou que a maior dor do avô é não subir no trio na época de carnaval e não ser reconhecido pelo trabalho que fez. "O homem precisa viver hoje pensando no amanhã, porque nada é eterno! Tudo um dia acaba ou muda. Meu avô não acreditava nisso, pensou que trio elétrico sempre seria trio elétrico", acrescentou.

Pensando nisso, a ABTI disse que está estudando uma forma de homenagear Orlando no carnaval. "Não decidimos os detalhes ainda, mas a ideia é que ele possa voltar a ser o carnavalesco que está acostumado e que gosta de ser", afirmou Rossello. 

Construtor de trios

Seu Orlando Campos de Souza virou ‘Tapajós’ no final da década de 1950, depois que uma banda de músicos contratada por ele para fazer um show em um trio elétrico não apareceu no evento. O local da festa era a sede do Flamenguinho, antigo clube de futebol do bairro de Periperi, do qual Orlando era diretor. Naquele mesmo dia ele decidiu que construiria o próprio trio elétrico. 

Orlando recorreu a Dodô para aprender o ofício. O inventor do trio elétrico ensinou todos os passos do processo para o amigo e, aos poucos, começava a nascer o primeiro trio Tapajós. 

O nome veio do pai. “Ele disse ‘bota Tapajós”, conta Seu Orlando, sem se recordar muito dos detalhes do motivo. Naquele momento, nem Orlando, nem seu pai faziam ideia de que o Tapajós daria origem a vários outros ‘jós’: Marajós, Valnejós... Todos queriam um Tapajós para chamar de seu. 

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Crescimento

As festas começaram a surgir. Primeiro, no próprio bairro de Periperi, onde morava. Festas de largo, eventos para políticos... “E, aí, fui melhorando, prosperando, e não deu outra: o Tapajós começou a aparecer em todos os lugares”. 

A ascensão do trio Tapajós coincide justamente com o período em que Dodô e Osmar ficaram fora do Carnaval de Salvador. Na época, o sogro de Osmar Macêdo, seu Armando, faleceu. O sogro sempre tinha sido um dos maiores apoiadores do trio elétrico e, desgostoso, Osmar preferiu se afastar. 

O Tapajós, então, foi o primeiro trio elétrico a percorrer o Brasil. Esteve em grandes eventos – que vão desde o Círio de Nazaré, em Belém (PA), até na abertura do Carnaval do Rio de Janeiro, antes mesmo das escolas de samba. “Quando chegamos, eles não sabiam o que era trio e mandaram a gente ir na frente. Eu saí tocando e o povo enlouqueceu. Depois disso, o pessoal das escolas de samba nunca mais deixou o trio sair lá”, diz ele, aos risos.

No currículo do Tapajós, há desde a Festa da Uva, no Rio Grande do Sul, até o Festival Internacional da Canção. Estiveram presentes até mesmo na inauguração da TV a Cores e no primeiro campeonato mundial do Flamengo. “Levei um ônibus cheio de artistas para tocar na Lagoa. Capoeiristas, Paulinho Camafeu... Todo mundo para tocar o Carnaval”. Para completar, foi o primeiro trio a gravar um LP.