Paulo Gustavo: 'É cara de pau falar que sou homofóbico. Sou uma bandeira ambulante'

Minha Mãe é uma Peça 3 entra em cartaz com ausência de beijo em cena de casamento gay

  • Foto do(a) author(a) Daniel Aloísio
  • Daniel Aloísio

Publicado em 26 de dezembro de 2019 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Para os fãs de comédia, a estreia do filme Minha Mãe é uma Peça 3 será um presente atrasado de Natal. Dessa vez, o longa que estreia nesta quinta (26) vai trazer uma Dona Herminia (Paulo Gustavo) que tem que aprender a lidar com o casamento homoafetivo do filho Juliano (Rodrigo Pandolfo) e a gravidez de Marcelina (Mariana Xavier). 

Dirigido por Susana Garcia e com roteiro de Paulo Gustavo, o longa entra em cartaz com ausências de piadas com gordofobia e gays, como esteve presente nos dois primeiros filmes da franquia. Mesmo assim, Minha Mãe é uma Peça 3 não deixou de se envolver em polêmicas sobre o tema. Em setembro de 2019, Paulo Gustavo chegou a ser acusado de ter feito censura depois que o ator Rodrigo Pandolfo afirmou em entrevista para a imprensa que a cena do casamento gay não teria um beijo entre os noivos.

"A arte tem que ser livre. Eu não posso ser obrigado a escrever nada", defendeu-se, afirmando ainda que "o beijo seria um detalhe que não senti necessidade de escrever. Nem pensei em escrever, muito menos censurar uma cena que nunca foi gravada". Na entrevista ao CORREIO, o ator falou ainda sobre o que vai rolar no filme, contou detalhes da sua vida pessoal que influenciaram no longa e novidades sobre a nova série do globoplay da franquia Minha Mãe é uma Peça. "Eu vou adiantar para vocês que a primeira temporada começa quando Juliano e Marcelina tinham oito anos. Metade do seriado é ela casada com as crianças novas e a outra metade é ela separada", disse. Confira:  

Depois de dois filmes de sucesso, qual a história será contada em Minha Mãe é uma Peça 3? 

O filme começa com Dona Hermínia instalada na sua casa, sozinha. E mente vazia é oficina do diabo: ela tem um piripaque, vai parar no hospital e Juliano e Marcelina chegam com as notícias da gravidez e do casamento. Isso vira um combustível para a vida dela. Ela invade o espaço dos filhos e quer tomar decisões que, na verdade, quem tem que tomar são eles. Aí começa essa grande brincadeira. Ela resolve viver a vida dela, passear, curtir, mas não consegue e volta para os filhos. Só que ela vai ter que reencaixar essa novidade com a sua vida. Eles não são mais crianças, formaram novas famílias. Paralelo a isso, tem a Lesa que está mais moderna, agora ela transa, a vida dela tá ótima, desenrolou. Isso acaba tendo uma dobradinha com Hermínia, que é totalmente o oposto. É um filme que fala sobre casamento homoafetivo, quis falar sobre minha experiência com isso. E acho que é um filme engraçado, emocionante e político, um filme importante para os dias de hoje, nesse momento que a gente vive.

A Dona Hermínia é uma personagem inspirada na sua mãe. Nesse terceiro filme, o que vamos ver da Dona Dea? 

 Eu tiro tudo pela minha família. E minha mãe, assim como todas as mães, extrapolam. Quando anunciei que estava grávido, minha mãe fez um quarto de criança na casa dela. Se deixar, ela mora aqui em casa, bota o colchonete pra ela no quarto das crianças. Quando tá sozinha, diz que tá com problema de saúde, pressão alta. Eu mando ela passear com as amigas, fazer alguma coisa. Agora mesmo ela tá fazendo um curso sobre história da arte. Isso é bom que dar uma movimentada na vida dela. Meu pai foi morar do lado dela. Minha mãe no 901 e ele no 902. Eu percebi que isso dá muito pano pra manga e decidi brincar com isso no filme. Essa é uma característica minha, levar histórias minhas, coisas pessoais, experiências vividas por mim mesmo pros meus projetos. Eu acho que é por isso que o público se identifica, porque é tudo muito legítimo, eu falo do dia-a-dia, do cotidiano. É uma produção que fala sobre as complexidades da família com muito humor. 

Esse vai ser o último filme da franquia ou a gente já pode esperar um Minha Mãe é uma Peça 4?

 Eu acho que é o último, mas a gente não pode dizer nunca para o futuro. Vai ter o seriado agora, então vai demorar um pouco pra ter filme. Se daqui a uns cinco anos eu tiver vontade de fazer um outro longa da Dona Hermínia, com uma nova história, a gente faz.

No ano passado, você anunciou que a franquia vai ganhar uma série no Globoplay com quatro temporadas já confirmadas. O que você pode nos adiantar da atração?

 A série tá sendo totalmente escrita, a gente só grava em junho do ano que vem. Eu vou adiantar para vocês que a primeira temporada começa quando Juliano e Marcelina tinham oito anos. Metade do seriado é ela, casada com as crianças novas, e a outra metade é ela separada. A gente vai ver a Dona Hermínia em outro lugar, num outro momento da vida dela. Vai ser muito legal, hilário e emocionante. 

A franquia já atingiu a marca de 13 milhões de espectadores e uma receita de quase R$ 174 milhões. Qual a receita para o sucesso de Minha Mãe é uma Peça?

O sucesso da Dona Hermínia vem porque ela é simples. É um filme que eu escrevo com muita simplicidade e verdade. É tudo legítimo o que conto. E é um filme que fala do dia a dia, da complexidade da família. Eu acho que é um filme que tocou o coração da família brasileira. Além disso, a personagem é muito carismática, irreverente, espirituosa e divertida. Eu acho que tudo isso contribui para o sucesso do projeto. 

Você pretende atuar em outros gêneros cinematográficos ou a comédia é definitivamente a sua casa? 

Acho que em algum momento vou fazer um gênero diferente. Já fui chamado para fazer um filme de drama e até topei, mas aí veio o filho e tive que adiar tudo. Agora a comédia é minha casa mesmo. Eu adoro fazer comédia, me divirto fazendo, sou feliz. E acho que a gente tem que trabalhar com o que a gente gosta. Temos que ser feliz.  

Como você “superou” a polêmica que houve devido o filme não ter a cena do beijo gay no casamento? 

Essa polêmica foi criada por pessoas que não viram o filme. Elas julgaram sem saber, sem embasamento. Pegaram uma fala de alguém solta numa boate e isso reverberou. São coisas negativas proporcionadas pela internet. O filme é lindo, é super político. O beijo não faz a menor falta, pois o meu filme é muito maior do que um beijo. Acho também que isso ficou no assunto do dia por causa da história do Crivela, que censurou aquele livro na Bienal. Se não tivesse acontecido isso, talvez ninguém teria falado tudo isso que disseram na época. E a arte tem que ser livre, não tem que ser pautada. Eu não posso ser obrigado a escrever nada. O fato de eu não ter colocado um beijo não faz o filme menor. As pessoas que assistiram me mandam mensagens lindas dizendo o quanto o filme é importante para o momento que vivemos. Então, o beijo seria um detalhe que eu não senti necessidade de escrever. Nem pensei em escrever, muito menos censurar uma cena que nunca foi gravada. Eu acho que isso tudo foi uma grande besteira que acabou, não tem como emplacar essa de que sou homofóbico. Minha vida é um livro aberto. Sou casado com um homem, tenho dois filhos com ele, sou assumido, escrevo sobre isso em todos os meus projetos. É cara de pau falar que sou homofóbico. Sou o oposto: uma bandeira ambulante, praticamente.  

Confira o trailer oficial do filme Minha Mãe é uma Peça 3: 

   

*Com orientação da editora Ana Cristina Pereira