Pesquisa aponta os erros que fazem o recrutador descartar um currículo

Veja orientações para tornar o seu histórico profissional mais atraente e competitivo para os recrutadores

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  • Priscila Natividade

Publicado em 25 de fevereiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Há quem acredite que o seu currículo não foi selecionado por falta de experiência, de fluência em outra língua ou por conta da escolaridade. Esses podem até ser alguns dos motivos, porém, não são os principais. O fato de não ser chamado para uma entrevista pode estar na falta de um olhar mais atento na gramática: são os erros de português os maiores responsáveis pela  eliminação de currículos por recrutadores. 

Segundo um levantamento feito pela Catho, plataforma de recrutamento online, três em cada dez dos currículos recebidos pelas empresas não passam para a próxima fase da seleção por conta de um erro de ortografia.

“Quando você apresenta um currículo com erros de português, você passa muitas mensagens para o selecionador. A primeira delas é a falta de cuidado com sua própria imagem, visto que o currículo é sua apresentação. É como chegar a uma entrevista com uma roupa rasgada ou suja, o que pode demonstrar pouco apreço, cuidado ou desatenção”, aponta a assessora de carreira da plataforma, Elen Souza.

Em seguida, a falta de experiência (25%), ausência de objetivos profissisonais (10%), residir longe da empresa e falta de apresentação visual (ambos com 9%) se somam à lista de motivos de descarte de currículos. Não ter formação superior ou cursos complementares responde por somente 3%, enquanto o fato do currículo ter mais de uma página, 1%.

“Um currículo campeão deve ser objetivo, conter informações sobre as experiências do profissional e estar de acordo com o cargo a que se destina. Além disso, deve ter estrutura limpa, bem organizada e passar por minuciosa revisão antes de ser enviado”, destaca  Elen. 

Pontos fortes

Para o currículo abrir as portas para uma entrevista é preciso deixar claro de que ele foi alvo de uma atenção redobrada na definição do objetivo profissional e no destaque dos pontos fortes do candidato. A orientaçaõ é da diretora de Operações da Consultoria Lee Hecht Harrison (LHH) Nordeste, Mariangela Schoenacker.

“O profissional tem que deixar claro  sua área de interesse e  fazer um bom resumo das suas principais qualificações, além de suas realizações e/ou contribuições em cada cargo/ empresa que trabalhou”, diz. “Ou seja, dar a dimensão  específica de como, por exemplo, contribuiu para a empresa aumentar as vendas em ‘x%’ no período de 1 ano”, completa.

O formato também é outro ponto importante. “Um currículo longo, prolixo, contendo documentos de identidade, local de nascimento, muitos adjetivos  para se autovalorizar  e  erros de ortografia e linguagem deve ser evitado a todo custo”, alerta. 

O novo currículo

O mundo do trabalho mudou e o currículo teve de acompanhar. Tornou-se fundamental ressaltar não só a qualificação técnica, mas as competências comportamentais, como recomenda a fundadora da startup Chawork - que também atua na área de recrutamento - Liliane Fernandes. A empresa desenvolveu uma ferramenta que detecta a personalidade do candidato com base em testes comportamentais. 

“Aproveite o espaço destinado às experiências profissionais para descrever o resultado que você entregou. Nas estrelinhas, com certeza, o bom recrutador já terá uma grande noção do seu perfil que ultrapassa a sua qualificação técnica”.

Existem atualmente muitas ferramentas de inteligência artificial e sistemas que ajudam o recrutador nos processos seletivos de candidatos. No entanto, isso não tira nem diminui o tamanho do cuidado com o currículo. 

“A análise agora vai muito além. As empresas observam e avaliam valores, perfil comportamental e postura profissional, mas o currículo continua sendo a porta de entrada para essas  análises mais profundas. Então, sem ele você não tem a oportunidade de apresentar o quanto você pode fazer a diferença na empresa. Seja relevante, congruente e objetivo”, completa.

RELATO: CURRÍCULO CAMPEÃO*

Thiago Suassuna, executive manager do canal Grande Varejo Nordeste da Operadora Tim   O currículo deixou de ser uma mera apresentação do profissional. Toda empresa quer ver os resultados que você alcançou com base nas experiências profissionais que teve, e foi justamente essa estratégia que eu adotei na hora de elaborar o currículo que garantiu a minha contratação na Tim. Quanto mais expressivos os resultados, mas seu currículo é valorizado. Outro ponto importante diz respeito à qualificação.  As empresas não contratam mais braços, elas contratam cabeças. É preciso sair da média para se destacar. Não basta ficar no nível da pós ou do mestrado. Avancei para o mestrado e o doutorado e isso deixou claro que sou capaz de casar a minha formação com a atividade prática. Então, o currículo precisa te qualificar em termos de conteúdo e resultado. É como se você estivesse vendendo um produto para a empresa e ele precisa estar pautado nisso. Apostar também em cursos e palestras conta positivamente para destacar o seu interesse em se manter atualizado. Acredito que isso tenha sido outro ponto que favoreceu o meu currículo. O caminho é atrelar a cronologia das empresas onde se trabalhou com os desafios e resultados que alcançou. Isso irá despertar, de imediato, o interesse do recrutador. 

*Segundo a consultora sênior de RH da TIM Nordeste, o currículo de Thiago Suassuna chamou atenção durante o processo de seleção por conta da sua organização e pela qualificação do profissional. “O currículo dele tinha uma ordem lógica, que retratava claramente sua trajetória profissional e que vinha ao encontro do que estávamos procurando para posição, além do investimento que ele tinha feito em sua formação acadêmica. Isso foi o diferencial”.

CURRÍCULO FRÁGIL? VEJA O QUE FAZER

A fragilidade de um currículo, seja por qualificação ou falta de domínio de um idioma, ainda pode ser revertida durante o processo de seleção. Segundo a presidente da plataforma de recrutamento Jobecam, Cammila Yochabell,  é preciso ganhar competitividade com o destaque das competências e o poder de síntese.  

“A fórmula é a seguinte: uma página está excelente, no máximo duas, ter foco em resultado de algo que realizou e não cometer erros ortográficos”, recomenda.

Ela chama atenção também para os currículos criativos demais, que muitas vezes tentam fisgar os recrutadores. “Vejo o modelo de currículo animado e fico confusa com gráficos e imagens que, no final, não demonstra muita coisa, não indicam nada. É bacana inovar, mas é preciso ter cuidado com o tom. Uma maneira de inovar é enviar o link do vídeo-currículo para atrair o recrutador e levar um tradicional para a entrevista”. 

Outra dica está nas palavras-chave, como acrescenta a especialista. “O recrutador busca o profissional que vai sanar as dores que o gestor precisa resolver em alguma área de atuação. Então, saber conquistar o recrutador com expressões do tipo ‘eu posso ajudar a companhia a resolver o x da questão’, é o ‘xeque-mate’. Por isto a importância de sempre estudar a empresa, a oportunidade para a qual vai se aplicar e ser cirúrgico nas colocações”.

E o currículo de hoje não tem mais espaço para frases clichês e dados de documentos, por exemplo. “O currículo vem em constante transformação. E acredito que frases clichês ou indicar objetivo já não é atrativo. Colocar foto, dados de documentos e currículos longos com mais de duas páginas não cabem mais nos processos. Buscamos aquele currículo que é organizado e, principalmente, que mostra, com informações e com dados, que o profissional pode ajudar a companhia a executar a atividade oferecida”, pontua Cammila.

AS CINCO MENTIRAS QUE OS RECRUTADORES MAIS ENCONTRAM NOS CURRÍCULOS

1. Não dizer a verdade sobre experiências profissionais Na falta de uma qualificação e de experiência no mercado, muita gente acaba dizendo que trabalhou nesse ou naquele lugar. Não tente descrever experiências e conhecimentos que não possui. O recrutador  pode pedir  mais detalhes ou buscar referências com o antigo gestor.

2. Formação e qualificação Outra mentira que aparece constamente no currículo diz respeito à qualificação e formação acadêmica.  Alguns profissionais lançam no currículo cursos de especialização que não fizeram ou aumentam a carga horária de cursos de aperfeiçoamento profissional, como se fossem de longa duração.

3. Habilidades técnicas Muitos candidatos, por achar que terão vantagem sobre os demais, mencionam conhecimentos técnicos no currículo que, de fato, não possuem. É importante destacar que, cada vez mais, as empresas  valorizam e procuram competências e comportamentos do profisisonal que estão em sintonia com a sua cultura e os seus valores. Esse sim é o diferencial.

4. Mentir sobre resultados alcançados Mais uma pegadinha que compromete o profisisonal durante o processo seletivo. Sim, os recrutadores buscam informações com a  empresa anterior. Não fique pra você com o crédito de uma equipe ou invente uma conquista para levar vantagem e conseguir a vaga.

5. Domínio de outro idioma Muita gente costuma até passar vergonha. Alguns profissionais acabam descrevendo o domínio em um segundo idioma para se adequar às exigências da vaga e, quando chega no momento da entrevista, podem passar um grande constrangimento. Isso queima completamente a reputação durante o processo.