Policial teve corpo mutilado por traficantes antes de ser morto

Coração do PM foi encontrado a mais de um km do corpo; na sexta, ele esteve no enterro de outro PM

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 10 de junho de 2018 às 16:36

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

"O que fizeram com ele não se faz nem com um gado de abate". A frase é de um amigo do policial militar Gustavo Gonzaga da Silva, 44 anos, assassinado na madrugada da última sexta-feira (8) por traficantes no bairro da Santa Cruz, em Salvador. 

Gonzaga estava voltando para casa depois do trabalho e dava carona para um amigo de infância, conhecido como Jai, quando foi abordado por três criminosos, identificados como Choquito, Keka e Leno.

O PM foi torturado e teve o corpo mutilado antes de ser morto pelo trio. Gonzaga ainda recebeu vários tiros na cabeça. "Eu nunca vi isso. Tem gente que tá há mais de 30 anos na polícia e nunca viu alguém ser morto dessa forma", diz um colega do policial. 

Os autores do crime chegaram a arrancar o coração da vítima e deixaram o órgão na região do Nordeste de Amaralina, em uma localidade conhecida como Boqueirão, a mais de 1 km de onde Gonzaga foi morto. A informação foi confirmada ao CORREIO por familiares e amigos do PM.

Jai, que estava com Gonzaga, teria fugido no momento do crime e ainda não apareceu para prestar depoimento. "Era um grande amigo dele, a família toda conhece. Ele que tava junto. Ele tem que falar", diz um familiar do PM. 

"O cara sumiu. Abriu um buraco no chão e desapareceu", reclama um amigo da vítima, que não aponta Jai como participante do crime, mas quer que ele preste depoimento. "Está tudo muito estranho". Mesmo questionando o sumiço, amigos e policiais militares ouvidos pelo CORREIO acreditam que Jai não participou do crime. 

Na manhã de sábado (9), a polícia matou um suspeito de participar do assassinato do PM. Identificado como Budigo, foi encontrado na Rua dos Posseiros com revólver, munições e drogas e atirou contra a polícia. Em seguida, teria ocorrido uma troca de tiros, ele acabou atingido e não resistiu.

Mortes Muito abalada, Kelly, 23 anos, a filha mais velha de Gonzaga, se limitou a dizer que o pai era "um bom policial". A irmã dela, de 15 anos, está em choque.

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Gonzaga foi o segundo policial morto em pouco mais de 24 horas em Salvador. O também cabo da PM José Luiz da Hora, 51, foi norto na noite de quinta-feira (7) no Subúrbio Ferroviário. No final da tarde da última sexta, Gonzaga compareceu ao enterro do colega, no cemitério Bosque da Paz.  Gonzaga foi sepultado neste domingo e, na última sexta, esteve presente no velório de outro PM (Foto: Raquel Saraiva/CORREIO) O tenente-coronel Moreno, comandante do Batalhão de Polícia de Guarda da Polícia Militar (BG), esteve ao lado dele no enterro na sexta, muito emocionado, e neste domingo disse que estava de luto pela morte dos dois policiais. 

“O policial militar jura defender a sociedade colocando em risco a própria vida. Temos que manter serenidade, ficar tristes e enlutados. O que esperar? Foi uma barbaridade, uma execução que nem nos tempos medievais acontecia". "Já virou rotina. A gente nem pensa nisso senão não sai de casa, não vive. Mas cada colega que tem a vida ceifada é como se tirassem um membro do nosso corpo", diz um amigo da vítima.Velório O sepultamento de Gonzaga ocorreu na manhã deste domingo (10), no cemitério Campo Santo, e foi marcado pelo sentimento de comoção de amigos, familiares e integrantes da Polícia Militar, que seguem escandalizados com as circunstâncias da morte. 

"Duas mortes tristes e trágicas. As duas causaram muita comoção no seio da tropa. Essa última foi ainda mais triste por causa dos requintes de crueldade”, lamentou o coronel Paulo de Tarso Alonso Uzêda, do Comando de Operações da PM. 

Mais de 300 pessoas compareceram ao velório de Gonzaga. As filhas levaram a farda do pai no velório. “Ele não merecia ter morrido assim. Até usuário [de drogas] ele aconselhava e levava pra recuperação, fez isso com uns quatro conhecidos dele. Perdi um colega. Mais um”, disse outro amigo do PM.

Amigos e policiais militares contaram que, apesar de aconselhado, ele não pensava em sair do bairro onde cresceu. “Ele dizia que mal nenhum iria acontecer porque ele conhecia a todos, mesmo os que desviaram do caminho. E agora acontece essa tragédia", comentou coronel Uzêda. 

*Sob supervisão da editora Perla Ribeiro.