Popó participa de aula de boxe na base comunitária do Calabar

O ídolo fará sua segunda luta de despedida em outubro, em Belém

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  • Vitor Villar

Publicado em 1 de setembro de 2017 às 03:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: Beteto Jr./CORREIO

Ex-campeão mundial de boxe, nesta quinta (31), Acelino Popó Freitas deixou de lado sua rotina de treinos para praticar um ato de humanidade. Participou de uma aula de boxe num projeto social amparado pela Base Comunitária de Segurança (BCS) do Calabar.

Foi praticamente uma missão de resgate. Popó ficou sabendo da história do garoto Jonathan Richard dos Santos,  16 anos. Morador da comunidade Fortaleza, no Alto das Pombas, e aluno do projeto no Calabar, ele foi campeão baiano de boxe amador em março. Mais um talento promissor que a Bahia pode lançar para o esporte, mas que passava por um momento difícil em casa.

“Estava brigando muito com meu pai, ficando pouco em casa”, resume Jonathan, tímido com os jornalistas.

Mas não precisava dizer muito, realmente. O caso dele era o mesmo de milhares de garotos e garotas que vivem em comunidades de Salvador: a chamada vulnerabilidade social. Em meio a conflitos familiares, frequentando pouco a escola e sem vislumbrar uma carreira, os jovens acabam cedendo às tentações do tráfico.

“A vida na comunidade é assim. Os traficantes ficam sondando os adolescentes, procurando saber como estão em casa. Se descobrem que o menino está com problemas, oferecem logo uma tentação. Mostram celular, tablet e esse garoto entra para o caminho sem volta do tráfico”, resume o pastor Marthos Esteves, que atua junto com a Polícia Militar na BCS do Calabar.

Muito antes que o “estrago” acontecesse, Marthos fez a ponte entre Popó e o boxe da comunidade. Conhecido de ministrar palestras na mesma igreja do pugilista, o pastor chamou o ex-campeão mundial para uma conversa com os garotos que fazem parte das aulas no Calabar.

A conversa começou por um áudio pelo WhatsApp, enviado por Popó para Jonathan. Era um convite: o campeão queria saber se poderia trocar uma luva ontem com o garoto, também campeão.

Popó explicou o motivo da resposta imediata ao convite do pastor e da PM: “Eu comecei num trabalho como esse, e não tinha dinheiro para pagar nada”, disse. “É por isso que eu faço questão de vir para uma visita dessas com meu melhor carro, para mostrar para eles: ‘sabe por que tenho esse carro aqui? Porque batalhei muito. Você também pode’. E não é pelo caminho que a vida pode levar eles, o melhor caminho é o do esporte”, afirmou o campeão.

Popó terá a sua luta de despedida – a segunda dele – em outubro, em Belém. Enquanto isso, 65 garotos treinam na segunda e quarta no Calabar. Sinal de que a história de vencedores pode continuar.