Porto da Barra registra um dos maiores níveis de poluição do litoral soteropolitano

Apesar dos esforços das ações oficiais e voluntárias de limpeza, os usuários precisam colaborar evitando a contaminação da área

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 28 de setembro de 2018 às 20:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Quem frequenta as águas calmas do Porto da Barra não imagina as inúmeras camadas de lixo e dejetos que, semanalmente, são despejados no local. A sujeira não se restringe ao resto do que é consumido pelos banhistas, pois também são encontrados pneus, peças de vestuário e até mesmo enxovais de bebê. Isso é o que tem mostrado as ações da Organização Não Governamental Biota Marinha, responsável por transformar o lixo encontrado no mar em dados para pesquisa que possam ajudar a compreender melhor a fauna e a flora marinha em Salvador.

Para garantir as informações e contribuir com a redução da poluição local, semanalmente, o grupo do Biota se une ao Fundo da Folia, que cotca com cerca de 150 surfistas, para retirar o lixo da água. Atuando na limpeza das praias desde 2006, o Projeto Biota Marinha também conta com a participação de voluntários que auxiliam na limpeza do Porto Barra (Foto: Divulgação) De acordo com o gestor de projetos, mergulhador e representante da ONG, Rodrigo Maia, em cada uma dessas sessões de mergulho e limpeza são retirados, em média, cerca de 20 pneus. “Não sabemos como esse material chega até a Barra, que é considerada uma área nobre. Encontramos no local todos os tipos de pneus e não apenas aqueles usados para proteção de choque no lado externo das embarcações”, esclarece.

Para se ter uma ideia do impacto que tal poluição representa, basta ressaltar que mais de 70% do oxigênio que o ser humano respira vem do mar. Aliado a isso, a sujeira termina comprometendo a sobrevivência de espécies marinhas e até mesmo pode representar a intoxicação de peixes consumidos.  

Ele ressalta ainda que, como a região possui muitas correntes, todo o lixo recolhido é resultado de um descarte recente, realizado dias antes e que, em dias de sol, não é raro conseguir retirar uma tonelada de material das águasdo Porto. “Está na hora da sociedade começar a repensar os hábitos de consumo e de descarte nessa área”, completa o mergulhador, lembrando que em 2009 uma ação do Dia Mundial de Limpeza (Clean Up Day) conseguiu retirar 9 toneladas em um único dia. Em Salvador, Rodrigo é um dos coordenadores do Movimento Limpa Brasil, que reúne voluntários para limpar as praias. “Qualquer pessoa pode participar da ação, desde que tenha noção de mergulho em apnéia”, esclarece.

Todo o material retirado é separado e arrumado no calçadão numa proposta clara de chamar a atenção da população para o lixo produzido. “As latinhas são, geralmente, doadas para os catadores e para as cooperativas, o restante do material é analisado para saber o impacto para os animais marinhos”, esclarece, lembrando que, neste ano, todo material recolhido no Clean Up Day realizado na primeira quinzena de setembro, junto com o movimento nacional, foi entregue a Coelba, no Vale Luz, que atua numa perspectiva de reciclar e aproveitar o lixo em troca de desconto na tarifa elétrica. “Infelizmente, no dia, o mergulho estava perigoso e não conseguimos fazer uma grande retirada”, lamenta.

Segundo dados da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), o Porto da Barra – junto com Piatã, Itapuã, Ribeira, Boa Viagem, Cantagalo, São Tomé de Paripe e Tubarão – estão entre as localidades onde se registra o maior volume de sujeira ao longo dos 25 quilômetros de praia da capital baiana. Entre os resíduos mais comuns encontrados nas praias estão sacos plásticos, copos descartáveis, pontas de cigarro, palito de picolé e coco. Para o ex-presidente da Limpurb e atual chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Salvador, Kaio Moraes, é fundamental que a população apoie e abrace a limpeza das praias como uma responsabilidade pessoal e não apenas como atividade a ser exercida pelos poderes públicos.“A Limpurb tem equipes especiais para limpeza das praias, no entanto, não adianta investir em limpeza se a população não fizer a sua parte no que diz respeito ao descarte adequado do lixo, evitando, sobretudo, jogar dejetos plásticos no mar”, conclui Kaio.