Quase 90% dos jovens com HPV em Salvador têm comportamento sexual de risco

Com 71,9% de incidência entre pessoas de 16 e 25 anos, capital lidera ranking nacional

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 29 de novembro de 2017 às 05:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO

Salvador é a capital brasileira com o maior número de jovens entre 16 e 25 anos infectados pelo HPV (papilomavírus humano) entre a população pesquisada, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde.

O levantamento, que é preliminar, mostrou que a capital baiana apresentou a prevalência de HPV mais alta do Brasil, com 71,9% dos resultados dos exames positivos - a média nacional é de 54,6%.

Dentre os jovens com o vírus, 50% dos soteropolitanos apresentam HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer - mais do que os 38,4% da média brasileira. Os dados completos serão divulgados em 2018.

Atrás de Salvador, aparecem Palmas (Tocantins, 61,8%), Cuiabá (Mato Grosso, 61,5%) e Macapá (Amapá, 61,3%).  Na outra ponta da lista, com a menor prevalência, está Recife (Pernambuco), com índice de 41,2%. A cidade de São Paulo - a maior do país - tem taxa de 52%, próxima ao índice nacional. Já Brasília, Campo Grande e Belo Horizonte não informaram dados suficientes para que a pesquisa fosse fechada.

Perfil dos soteropolitanos Em Salvador, os dados do projeto POP-Brasil - Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Infecção pelo HPV foi realizado com 291 participantes, sendo 234 do sexo feminino e 57 do sexo masculino. Em todo o país, foram entrevistadas 7.586 pessoas.

O consumo de álcool entre os pesquisados de Salvador foi de 90,7%, segundo maior do Brasil, ficando atrás apenas de Florianópolis, com 91,3%. 

Predisposição Segundo Adriana Miranda, coordenadora da Atenção Primária na Secretaria Municipal de Saúde, esse é um dos fatores que podem estar relacionados ao alto índice de prevalência do vírus em Salvador por aumentar a predisposição a comportamentos de risco, como o sexo sem camisinha.“Outros estudos são necessários para identificar as causas da infecção”, explicou Adriana, ressaltando que ações nesse sentido também serão realizadas, como um trabalho junto a escolas públicas e particulares para discutir com crianças e adolescentes, além dos pais, a importância da vacinação contra o HPV. “O índice alto de prevalência do vírus indica que uma intervenção é necessária”, diz ela.Embora a pesquisa tenha sido realizada majoritariamente entre jovens das classes D-E (47,8%) e C (44%) - dados de Salvador -, a prevalência de HPV é alta também entre jovens das classes A e B. “O HPV é a infecção sexual mais prevalente no mundo, independente de classe”, explica a ginecologista Karen Abbehusen, integrante da Câmara de Ginecologia e Obstetrícia do Conselho Regional de Medicina (Cremeb). A presença de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como HIV ou sífilis, foi detectada em 15,8% dos jovens pesquisados.

Segundo o infectologista Alessandro Farias, dentre os 100 sorotipos de HPV, o 16 e o 18 se destacam por estar associados ao câncer de colo de útero, câncer na região orofaríngea (boca e garganta), câncer retal e câncer de pênis. “Fazer exames anualmente é importante para prevenir e tratar o HPV. Em menos de um ano, é difícil que uma lesão se transforme em câncer”, explica Alessandro, que é gerente de ensino do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap). Outros dois tipos, o 6 e o 11, também estão entre os mais incidentes na população e são responsáveis pelos aparecimento de verrugas genitais. A vacina previne contra esses quatro tipos de vírus.

Comportamento sexual de risco Dentre os participantes baianos, 88,3% apresentaram comportamento sexual de risco (primeira relação antes dos 14 anos ou mais de quatro parceiros durante a vida ou relações sexuais sob a influência de álcool ou drogas ou ter relações sexuais desprotegidas), índice maior que a média brasileira (83,4%) e o terceiro maior entre as capitais.

Apenas 33% dos jovens baianos relataram utilizar camisinha na última relação e 44,3% utilizaram preservativo rotineiramente. “Vacinação e uso de preservativo são as principais formas de prevenção contra o HPV”, afirma a médica Karen Abbehusen, ressaltando que a proteção não é 100% eficaz e deve ser associada a um menor comportamento de risco. A idade média de início da atividade sexual dos jovens soteropolitanos foi de 15 anos, e o número médio de parceiros nos últimos cinco anos foi de 10,9.“Alguns jovens desenvolvem doenças e a maioria fica com a infecção latente, sem se manifestar. Assim, podem contaminar o parceiro meses após contrair o vírus. Se o parceiro tiver comportamento de risco, aumenta a chance de contaminação”, esclarece a ginecologista.Segundo o Ministério da Saúde, é a primeira vez que um estudo estima a prevalência do vírus na população brasileira. O dado é importante, afirma a pasta, para medir o impacto da imunização daqui a alguns anos.

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Vacina está disponível nos postos de saúde da capital A vacina é disponibilizada gratuitamente nos postos de saúde para meninas de 9 a 15 anos e para meninos de 11 a 14 anos.

Neste ano, a pasta incluiu no calendário de vacinação meninas que chegaram aos 14 anos sem tomar a vacina ou que não completaram as duas doses indicadas e meninos de 12 e 13 anos.

Embora o imunizante seja gratuito e esteja disponível em todos os postos de saúde do país, o governo federal tem tido dificuldades de alcançar a cobertura vacinal ideal. Nos últimos anos, a taxa de adesão tem ficado em cerca de 50%.

Na pesquisa do Ministério da Saúde, somente 28% dos jovens de Salvador relataram ter recebido informações acerca do HPV com um profissional da área.

Informações sobre a doençaTransmissão: Relações sexuais, pelo sangue, por roupas ou objetos contaminados (toalhas, roupas íntimas ou sabonetes), pelo beijo e durante o parto. Sinais: Feridas na região genital, pernas e braços. Verrugas perto do útero e que podem levar ao câncer. Prevenção: Vacinação e uso de preservativo são as principais formas de prevenção.