Quatro em cada dez jovens até 37 anos têm dívidas

Estudo aponta que cenário de inadimplência da Geração Z e dos Millennials impacta no tamanho das despesas dos pais

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  • Priscila Natividade

Publicado em 11 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr.

A inadimplência está atingindo cada vez mais cedo às novas gerações. Pelo menos quatro em cada 10 jovens até 37 anos estão endividados. É o que aponta um estudo recente feito pela Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), que mostrou ainda que o tíquete médio (média por pessoa) da dívida passa dos R$ 3 mil.

“Esses números refletem um ambiente carente de educação financeira e de mentalidade de poupança. O que torna o problema mais grave para quem faz parte das gerações Z e Y é que há evidente escassez de emprego e dificuldade de acesso a este tipo de conhecimento”, analisa o presidente da ANBC, Elias Sfeir. 

De acordo com a pesquisa, 32% da Geração Z (até 21 anos) está endividada e acumula um débito médio de R$ 1.676. Os Millennials (idade entre 22 e 37 anos) devem mais que o dobro: R$ 3.737. O percentual de endividados destes últimos é de 40%, o equivalente a 20,6 milhões de jovens nessa faixa etária.

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Este cenário impacta nas finanças dos pais. Quase metade da Geração X (idade entre 38 a 53 anos) está endividada por conta dos gastos dos seus dependentes, com um ticket médio que chega a R$ 5.351 em dívidas. 

“Os integrantes dessas gerações mais novas não sofreram a pressão própria de quem tem uma série de encargos adicionais para arcar no dia a dia, como manutenção da casa, educação dos filhos e plano de saúde. São esses justamente os gastos que oneram tanto o orçamento da geração X”, pontua Sfeir. 

Para o especialista, a motivação maior do endividamento do jovem tem a ver com o consumismo. “Não dá para ignorar os efeitos do consumismo. Coisas como tênis, celulares e notebooks são constantemente trocadas pelo último modelo lançado. Como sabemos, não há orçamento que aguente tantos gastos diante do desemprego”, considera.

Além da conta

O universitário Gabriel Nascimento, 20 anos, sabe muito bem o efeito de se empolgar com um cartão de crédito. Quando conseguiu fazer o seu primeiro cartão de loja sem nem precisar comprovar renda, se empolgou e acabou levando pra casa uma dívida de R$ 1 mil. 

“Comprei bastante. Até comecei a pagar direito, mas com o tempo teve mês que não deu para pagar, até porque era minha mãe que me ajudava. Só que chegou uma época que ela não tinha mais. Aí começaram a vir os e-mails de cobrança e boletos com juros cada vez mais altos”, lembra o universitário.

Depois que conseguiu um estágio, Gabriel foi até a loja e negociou a dívida, que pagou em 12 parcelas. “O meu nome ficou sujo e eu não pude fazer nenhum outro cartão. Quando  você compra algo muito caro, mesmo que parcelado, tem de entender que tem que ter aquele dinheiro nos próximos meses. Eu tinha muita dificuldade de pagar uma dívida como uma prioridade até ver os juros crescerem rapidamente”. 

Para o educador financeiro da Dsop Educação Financeira, Ricardo Natali, o jovem precisa entender que independência financeira só vem com planejamento e controle. “Dificilmente o jovem aprendeu na escola, com os pais ou com os amigos a melhor forma de lidar com o dinheiro. O consumismo e o imediatismo são os grandes vilões para se gastar mais do que se ganha”, afirma. 

O padrão de vida precisa ser adequado ao bolso, seja qual for a geração. “As complicações financeiras distanciam aquele consumidor de suas realizações. Por isso se torna fundamental controlar estes impulsos para ter uma vida financeira que proporcione realizar sonhos e qualidade de vida”, completa Natali. 

Alerta vermelho

O diretor de planejamento financeiro da Fiduc Planejamento Financeiro, Valter Police, destaca também a importância de saber usar o crédito: “O crédito pode até ser uma solução de curto prazo, mas que quando mal utilizado traz inúmeros problemas que podem permanecer por um longo tempo”. 

É ter o dinheiro no bolso primeiro, antes de gastá-lo sem limites. “Somos treinados nos meios sociais a valorizar a ‘ostentação’ e muitas vezes os jovens se deixam levar sem ter as condições financeiras para isso. Quando tiver um impulso de compra, avalie se você realmente precisa daquilo. Tenha objetivos financeiros. Eles irão ajudar a controlar este impulso e garantir um bom dinheiro guardado”, aconselha Valter Police. 

DICA DA SEMANA: DE OLHO NAS CONTAS

Orçamento Avalie seus gastos mensais e veja onde moram os excessos. Entenda para aonde vai cada centavo que você ganha e gasta, a partir daí, veja o que é prioridade e o que é supérfluo.

Segure a onda   Não é fácil controlar impulsos, principalmente com um cartão de crédito na mão... O risco é ainda maior. Primeiro tenha o dinheiro para depois gastar e não ao contrário. Em outras palavras, fuja do uso do crédito. Quando tiver um impulso de compra, espere 72 horas e avalie novamente.

Objetivos  Quando a gente define metas e tem planos fica mais fácil se sentir motivado para controlar o orçamento e até guardar algum dinheiro para realizar o objetivo. Seja uma viagem, um curso ou a compra de um carro, o importante é que não deixe de definir um objetivo financeiro. E lembre-se: Tenha os seus próprios sonhos, mas tome cuidado para não acabar perseguindo os sonhos de outros e sem perceber, acabar perdendo tempo, energia e recursos. 

Educação financeira Dificilmente o jovem aprendeu na escola, com os pais ou com os amigos a melhor forma de lidar com o dinheiro. O consumismo e o imediatismo são os grandes vilões que levam a se gastar mais do que se ganha. Conhecer as finanças a fundo ajuda a reverter o endividamento e a volta dos  problemas financeiros. 

Gastos com lazer  Busque alternativas mais econômicas. Muitas vezes reunir os amigos em casa é mais divertido e  muito mais barato do que restaurantes, cinemas ou barzinhos.

Bom de papo  Sempre negocie suas compras. Independente de qual for o item ou serviço que for adquirir, peça desconto.

E antes de comprar...  Aproveite as promoções. Pesquise bem os itens que deseja, compras coletivas ou por atacado costumam ser mais baratas.

Gere renda extra  Caso deseje algum item mais caro do que pode pagar, pense em alguma estratégia de geração de renda, como por exemplo trabalhar aos fins de semana em algum evento ou vender produtos comissionados.

Padrão de consumo  Um ponto fundamental é o de buscar um padrão de vida ideal e adequar sua renda a ele. Isso inclui também procurar alternativas que caibam no bolso, sem que isso gere uma dor de cabeça quando a fatura do cartão de crédito chegar.