Reaproveitamento do coco verde vira negócio na Bahia

Empresa de Beneficiamento de Resíduos reaproveita material descartado por empresas que envazam água de coco

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  • Murilo Gitel

Publicado em 14 de abril de 2018 às 06:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: arquivo Correio)

Embora seja orgânico, o resíduo do coco é de difícil degradação e demora até dez anos para se decompor completamente, além de sobrecarregar os aterros sanitários. Para ajudar a reduzir o problema na Bahia, estado campeão nacional na produção (com mais de 500 milhões de frutos/ano), uma empresa de Catu de Abrantes, Camaçari, realiza o beneficiamento desse tipo de material.

Criada em 2016, a Empresa de Beneficiamento de Resíduos (EBR) reaproveita o material descartado por companhias que envazam água de coco e transforma 100% do resíduo orgânico em produtos que voltam ao consumo, tais como: casquilho, substrato, fibra e pó.“A empresa nasceu com o intuito de promover uma colaboração com o planeta, associando nossa força de trabalho à contribuição com o coletivo. Buscamos uma maneira de sermos úteis à população e fazer a nossa parte em escala ampla”, destaca Álvaro Mattos, economista e gestor da EBR.A empresa conta atualmente com cerca de 30 parceiros comerciais, entre eles a Aurantiaca (detentora da marca Obrigado) e a Coco Mania.

Valorizada por seus benefícios nutricionais e pela moda entre as celebridades, a água de coco viu sua produção se intensificar no Brasil nos últimos anos, impulsionada pelo aumento do consumo doméstico e global. O país é o maior produtor da bebida, com 1,9 bilhão de cocos colhidos em 2015, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Situada no município de Conde, a 187 km de Salvador, a Aurantiaca é um símbolo do crescimento da água de coco brasileira nos mercados americano e europeu. Roberto Lessa, CEO da companhia, observa que a Obrigado foi mais vendida nos Estados Unidos, no ano passado, do que no Brasil. “Há cinco anos, os americanos quase não compravam", acrescenta. Até 2025, a Aurantiaca prevê comercializar 75% da produção fora do Brasil. Para isso, o grupo pretende aumentar em 50% sua capacidade de produção.

Lei dos Resíduos Sólidos

A Lei nº 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), prevê a redução na geração de resíduos e propõe a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização, principalmente quando há valor econômico agregado.“A estratégia comercial da empresa foi desenhada como resposta eficiente à Lei 12.305, que prevê diretrizes ao saneamento básico e visa contribuir com o bem-estar sustentável da população, uma das nossas preocupações primordiais”, explica Roque Augusto Brito, especialista em Resíduos Sólidos Urbanos e sócio da EBR.Depois de destinado por empresas do setor, o resíduo do coco verde é triturado e transformado em novos produtos, que atendem a mercados de paisagismo, jardinagem e hortos. O casquilho, por exemplo, serve como substrato para orquídeas de alta qualidade. A fibra ajuda no controle de erosão de áreas degradadas, enquanto o pó melhora a condição física e biológica do solo.

“Com máquinas específicas para este tipo de tratamento e beneficiamento nós conseguimos hoje evitar que 480 toneladas de coco verde sejam jogadas, literalmente, no lixo. Até 2020 esse número deverá chegar a 2.000 toneladas/ano”, projeta Brito.

O sócio da EBR evita em falar sobre crescimento e faturamento da empresa, mas comemora o que define como “excelente aderência do mercado e positivo retorno de parceiros e clientes”.

“Ainda estamos em processo inicial de crescimento. Atualmente, a maior preocupação da EBR é em estabelecer suas bases no compromisso com a redução do resíduo sólido urbano, no caso, o gerado pelo coco verde, pois entendemos que isso ainda exige uma mudança muito mais profunda nas políticas públicas e na visão geral do ‘que é lixo’”.

Conheça alguns dados da produção de coco no Brasil:

1) Segundo um estudo da Euromonitor de 2016, o mercado brasileiro de água de coco deve ter uma expansão anual média, em volume, de 9,2% até 2020, tomando parte do mercado de refrigerantes;

2) O Brasil é o quarto maior produtor mundial de coco, atrás de Indonésia, Filipinas e Índia, mas é o maior de coco verde, do qual é extraída a água de coco;

3) A Bahia é o estado campeão nacional na produção de coco, com a colheita de 500 milhões de frutos/ano