Rede de hotéis Othon entra com pedido de recuperação judicial

Empresa, que fechou unidade em Salvador, pede prazo na justiça para pagar credores

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 27 de novembro de 2018 às 13:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

(Foto: Evandro Veiga/CORREIO) A rede de hotéis Othon divulgou nesta terça-feira (27) que entrou com um pedido de recuperação judicial para conseguir pagar os credores após o fechamento de duas unidades: o Bahia Othon Palace, em Salvador, e o Belo Horizonte Othon Palace, na capital mineira.

Em nota, a empresa afirmou que o pedido de recuperação judicial visa "equacionar os compromissos com os credores". Com a medida, a rede recorre ao Poder Judiciário para suspender por 180 dias o pagamento de cobranças feitas na justiça. No período, o funcionamento do negócio é mantido e é possível gerar caixa para a empresa.

Com 284 apartamentos, o Othon era o maior hotel em atividade de Salvador. Fundado em 1975, seu fechamento acontece quase três anos após o encerramento do Hotel Pestana - primeiro cinco estrelas de Salvador, inaugurado como Le Méridien, em 1974. 

O hotel, um dos mais tradicionais hotéis de Salvador fechou as portas em 18 de outubro - 184 funcionários foram demitidos. Ao todo, trabalhavam na filial baiana da rede carioca cerca de 240 pessoas, incluindo terceirizados.  Reprodução de comunicado divulgado pela rede de hotéis carioca. Clique para ampliar (Foto: Reprodução) Segundo o comunicado da rede, a empresa tentou evitar a medida, assim como o fechamento das duas unidades, "promovendo uma importante reestruturação interna nos últimos quatro anos". Mas, ainda segundo a empresa, o cenário econômico de "profunda retração no país" este ano não permitiu a retomada do crescimento do setor de turismo. 

A rede de hotéis reforça que a decisão de fechar as portas das unidades em Salvador e Belo Horizonte aconteceu após "o máximo de tentativas para evitar o acontecimento", mas a crise hoteleira que assola o setor desde 2015 foi mais forte.  A empresa mantém a continuidade das operações no Rio de Janeiro e em outras oito cidades: São Paulo, Araraquara, São Carlos, Matão, Fortaleza, Natal, Recife e Macaé.

“Tentamos evitar ao máximo o fechamento destas unidades, promovendo uma série de ajustes e uma importante reestruturação interna nos últimos quatro anos. Tínhamos esperança de assim ganhar fôlego financeiro para mantê-las em pleno funcionamento, mas o cenário econômico de profunda retração, este ano, não permitiu a retomada do crescimento do setor, infelizmente", diz a diretoria da Rede.

'Jogo limpo' Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis (Sindhoteis), Almir Pereira teve uma reunião com a diretoria do Othon na segunda-feira (26) e 40 funcionários tiveram as demissões homologadas. Ainda segundo o presidente do sindicato, a empresa “jogou limpo com os trabalhadores e expôs toda a situação que estão enfrentando, mas ao que tudo indica eles [os patrões] vão honrar todos os compromissos e pagar as rescisões de todo o mundo”.

Por telefone, Almir Pereira contou ao CORREIO que o Othon alegou dificuldades para conseguir aprovar o financiamento que vai pagar os trabalhadores demitidos. Ele explica que, por existir muitos funcionários antigos no Hotel, os custos são elevados com despesas relativas a FGTS e outros direitos dos trabalhadores, por exemplo. O prazo de pagamento desses primeiro 40 trabalhadores homologados é na quinta-feira (29). Fora as demissões, o trade turístico estima que 50 áreas sejam afetadas diretamente com o fechamento do hotel em Salvador. 

O pedido de recuperação judicial impede que qualquer dívida seja paga durante 180 dias, o equivalente a seis meses. Segundo o advogado especialista em recuperação judicial, Diego Montenegro, isso inclui as dívidas trabalhistas - ou seja, a rescisão dos 40 trabalhadores do Othon que foi homologada ontem, não pode ser paga até a aprovação do plano de recuperação judicial. 

Caso o plano seja aprovado pela assembleia de credores, as dívidas trabalhistas precisam ser pagas com um prazo mais urgente: no caso dos trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos, o período até que a empresa realize o pagamento é de 60 dias. Acima deste valor, o prazo é de um ano.

“Gigante do turismo” Quando nasceu, em 1975, o Othon foi oriundo de um plano para aquecer o turismo da capital baiana. “Naquela região [de Ondina], foram instalados vários hotéis. Era um plano de turismo para Salvador. Se aproveitou o fato de estar à beira-mar para explorar o local. O Othon chegou a ser o hotel mais importante, um gigante do turismo, e uma das principais características dele foi ter fomentado indiretamente no turismo de negócio. Ele acabou se especializando em evento e em negócio”, explicou Nelson Cadena, jornalista, pesquisador e colunista do CORREIO.

Cadena explicou que, mesmo nos tempos áureos do Centro de Convenções da Bahia (CCB) - que sofreu um desabamento parcial em setembro de 2016 -, o Othon conseguia atrair eventos e alcançar ocupação máxima. “O hotel foi muito importante. Teve vários eventos internacionais, vários presidentes se hospedaram ali, inclusive”, contou Cadena.

Resultados insatisfatórios No balanço do terceiro trimestre deste ano, a rede Othon justificou o fechamento das unidades de Salvador e de Belo Horizonte como uma tentativa de "melhor enfrentar os efeitos negativos da crise que já dura alguns anos".

"Tradicionais e muito conhecidos nas regiões em que atuavam, estas unidades já tiveram seu tempo de glória. Mas atualmente, devido ao cenário de redução econômica dos últimos anos, com consequente queda nas taxas de ocupação, estas unidades deixaram apresentar resultados satisfatórios para a Empresa", escreveu a administração em uma mensagem.

Além do fechamento de unidades, o Othon afirmou estar em uma estratégia de redução de custos e despesas que inclui a demissão de pessoas das funções operacionais, administrativas e de "backoffice". 

"Apesar de encerrar as atividades em três de suas unidades este ano, a rede mantém sua estratégia de crescer via novas parcerias com investidores interessados em ter a marca forte 'Othon' administrando suas unidades. O intuito é crescer para o interior de grandes estados e regiões promissoras, com grande potencial de fluxo de turistas e hóspedes corporativos ou a lazer, tais como São Paulo, região Nordeste, Sul e Centro Oeste e, e principalmente no estado de Minas Gerais", escreveu o grupo sobre sua estratégia.

Entenda o que é recuperação judicial Advogado especialista em recuperação judicial, Diego Montenegro explica que a medida é ofertada ao empresário em dificuldade para que ele possa reestruturar as atividades, pagar dívidas com credores e evitar a falência da empresa. "Basicamente, o pedido de recuperação dá um fôlego para o empresário renegociar suas dívidas", explica.

Funciona da seguinte forma: a partir do momento em que a empresa dá entrada no pedido de recuperação judicial, ela fica impedida de pagar qualquer dívida durante o período de 180 dias. Em paralelo, é necessário que a empresa monte o chamado “plano de recuperação judicial”, que é onde será explicado ao juiz e aos credores como o empreendimento pretende sanar as dívidas. O prazo para apresentar o plano de recuperação é 60 dias.

Após a apresentação desse plano, um conselho de credores deve ser organizado para votar a aprovação do documento (150 dias). Caso a votação seja positiva, a empresa continua exercendo suas atividades, caso seja reprovada pela assembleia, o juiz decreta falência.

Segundo o capítulo três da Lei de Falências e Recuperação de Empresas (LFRE), de 2005, a recuperação judicial tem como objetivo viabilizar que a empresa supere a situação de crise econômico-financeira, buscando evitar a falência.

“A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica”, aponta o artigo 47 da lei.

Para solicitar a recuperação judicial, a legislação determina, entre outras coisas, que o devedor não tenha passado por falência anteriormente e, além disso, exige que exerça regularmente suas atividades há mais de dois anos - o Othon tinha 43 anos de operação da Bahia.

Confira, na íntegra, o comunicado divulagdo pelo grupo:Comunicado oficial | Hotéis Othon

A Hotéis Othon entrou nesta terça-feira (dia 27/11) com pedido de recuperação judicial. A decisão foi comunicada com pesar pela empresa e justificada pela grave crise que o setor de turismo vem enfrentando no país desde 2015, com importante impacto na rede hoteleira.

Com esta medida, a companhia pretende equacionar seus compromissos com os credores e se recuperar para voltar a crescer. A empresa reafirma, no entanto, o seu compromisso com a continuidade das operações hoteleiras no Rio de Janeiro e em outras oito cidades: São Paulo, Araraquara, São Carlos, Matão, Fortaleza, Natal, Recife e Macaé.

Semana passada, a rede fechou duas unidades no Brasil (Salvador e Belo Horizonte), após 40 anos de atividades. “Tentamos evitar ao máximo o fechamento destas unidades, promovendo uma série de ajustes e uma importante reestruturação interna nos últimos quatro anos. Tínhamos esperança de assim ganhar fôlego financeiro para mantê-las em pleno funcionamento, mas o cenário econômico de profunda retração este ano, não permitiu a retomada do crescimento do setor, infelizmente”.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier