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Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2020 às 23:32
- Atualizado há 2 anos
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, avisou ontem ao presidente Jair Bolsonaro que deixará o governo caso o chefe do Executivo imponha um novo nome para o comando da Polícia Federal, atualmente ocupado por Maurício Valeixo. O ex-juiz da Lava Jato não aceita que essa troca venha de “cima para baixo”, e defende o direito de fazer a escolha. >
Apesar de ter entrado em rota de colisão com o presidente em pelo menos cinco ocasiões desde que abandonou a carreira jurídica para assumir o Ministério da Justiça, esta foi a primeira vez que se teve notícia de Moro acenar com a possibilidade de pedir demissão. Valeixo já havia tratado de sua saída do cargo de diretor-geral da corporação com Moro, que tentava encontrar um nome de sua confiança para o posto. O delegado, amigo do ministro, demonstra exaustão.>
Já no fim da noite, os bastidores da política em Brasília indicavam que a possibilidade de saída do ministro se tornou uma hipótese remota. Ministros da chamada ala militar entraram em campo para apaziguar os ânimos, mas esta não é a primeira vez que este roteiro acontece. No final das contas, quem esteve do outro lado da mira de Bolsonaro acabou levando a pior. >
Foi assim com o ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebiano, que fora aliado de primeira hora do ex-capitão do Exército quando ele ainda disputava a presidência da República. A história se repetiu mais algumas vezes, até mesmo em disputas com ocupantes de cargos de terceiro escalão, como o cientista Ricardo Galvão, exonerado do cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), após processo de fritura. >
No andar de cima, caíram após desgaste com o presidente também o general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, e mais recentemente o ex-deputado Luiz Henrique Mandetta, após um longo embate. Este último caso mostrou que a visibilidade e o apoio popular, que poderiam ser trunfos de Moro para fazer valer suas ideias, nem sempre são levadas em conta no Palácio do Planalto. Mandetta caiu gozando de elevada aprovação popular. >
Comando da PF Bolsonaro avisou a Moro que ele mesmo escolheria um substituto para a direção da Polícia Federal. Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe. Entre os nomes que são cotados para o cargo estão o do atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, e do secretário de segurança do Distrito Federal, Anderson Torres.>
Valeixo foi escolhido por Moro para o cargo ainda na transição, em 2018. O delegado comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) da PF e foi Superintendente da corporação no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado pelo ministro, ex-juiz da operação, para assumir a diretoria-geral.>
Interlocutores de Valeixo dizem que a discussão sobre sua saída iniciada no começo do ano não teria relação com o que aconteceu no segundo semestre de 2019, quando Bolsonaro tentou pela primeira vez trocá-lo por outro nome. Na ocasião, o presidente teve que recuar diante da repercussão negativa que a interferência no órgão de investigação poderia gerar.>
Ontem, Valeixo reuniu-se com os 27 superintendentes regionais nos Estados por videoconferência. Também participaram os delegados federais que ocupam diretorias estratégicas da PF. O diretor-geral descartou com veemência que sua saída seja movida por pressões políticas. Ele afastou rumores de que sua disposição em dar adeus à cadeira número 1 estaria relacionada à uma reação de aliados de Bolsonaro por causa de investigações que incomodam o Planalto.>
No ano passado, após Bolsonaro antecipar a saída do superintendente da corporação no Rio de Janeiro, ministro e presidente travaram uma queda de braço pelo comando da PF.>
Em agosto, o presidente antecipou o anúncio da saída de Ricardo Saadi, justificando que seria uma mudança por “produtividade” e que haveria “problemas” na superintendência. A cúpula da PF contradisse o presidente. Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. “Quem mandasou eu”, chegou a dizer.>
Relembre as divergências entre Bolsonaro e Moro 28 de fevereiro de 2019 - Moro revoga nomeação Especialista em segurança pública, Ilona Szabó havia sido indicada pelo ministro para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. O ministério informou que a revogação foi provocada por “repercussão negativa em alguns segmentos” da sociedade. >
16 de agosto de 2019 - Bolsonaro anuncia troca na PF Sem o conhecimento da cúpula da PF, Bolsonaro anunciou a troca do superintendente da PF no Rio, o que provocou uma reação na cúpula da polícia >
19 de agosto de 2019 - Presidente transfere Coaf para o Banco Central Bolsonaro transferiu o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça, chefiado por Moro, para o Banco Central. O Coaf é defendido pelo ministro como instrumento no combate à corrupção>
22 de agosto de 2019 - Bolsonaro ameaça trocar diretor Bolsonaro disse que poderia tirar Maurício Valeixo do cargo de direção. “Ele é subordinado a mim, não ao ministro, deixar bem claro isso aí”, afirmou o presidente.>
Lembre de ministros que já deixaram o governo Bolsonaro>
Gustavo Bebiano Depois de ter dito que falou com o presidente três vezes através do Whatsapp e que a relação entre eles estava tranquila, Bebianno foi desmentido pelo vereador Carlos Bolsonaro, que ganhou a chancela do pai. No fim da queda de braço, que envolveu discussões nas redes sociais e mobilizou parlamentares do Congresso, Bebianno acabou demitido da Secretaria Geral da Presidência >
Ricardo Velez Bolsonaro demitiu em 8 de abril Ricardo Vélez Rodríguez do Ministério da Educação. O anúncio foi feito pelo Twitter, após decisões polêmicas, como a revisão dos livros didáticos sobre o golpe e a ditadura militar e uma orientação para que as escolas filmassem os alunos cantando o hino nacional>
Santos Cruz O presidente demitiu em 13 de junho Carlos Alberto dos Santos Cruz da Secretaria de Go verno por uma suposta “falta de alinhamento político-ideológico>
Gustavo Canuto Foi demitido do Ministério do Desenvolvimento Regional porque não conseguiu entregar resultados >
Osmar Terra O presidente demitiu Osmar Terra do Ministério da Cidadania após as denúncias de repasses suspeitos>
Henrique Mandetta Após uma série de desentendimentos públicos com o presidente Jair Bolsonaro sobre as medidas de enfrentamento da pandemia do coronavírus, Mandetta foi demitido por Bolsonaro. O ministro defendia a necessidade de manter o isolamento social.>