Representantes do agro e Bamin assinam memorando para levar cargas para a Fiol

Já na primeira etapa da ferrovia, 1,5 milhão de toneladas de produtos agrícolas devem ser movimentados

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  • Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2022 às 19:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Bamin

Em busca de melhores condições logísticas para o escoamento da produção, representantes do agronegócio baiano e da Bamin assinaram um memorando de entendimentos para o uso da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), para a movimentação de produtos agrícolas. As expectativas são de movimentar até 1,5 milhão de toneladas, a partir de 2026, quando o primeiro trecho da linha férrea, entre Caetité e Ilhéus, estiver operacional. Quando a ferrovia chegar a Barreiras, aí os grãos e outros produtos do campo deverão disputar boa parte dos 60 milhões de toneladas  de capacidade anual da Fiol.

O acordo foi assinado durante a 16ª Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães, a 970 quilômetros de Salvador. Além da direção da Bamin, participaram do encontro representantes da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB) e a Associação Baiana de Produtores de Algodão (ABAPA). Representantes do agronegócio e da Bamin assinam memorando (Foto: Divulgação) O memorando de entendimento prevê ainda uma série de discussões voltadas para o crescimento do agronegócio baiano e de investimentos no setor. A expectativa é de se criar o maior complexo logístico integrado para movimentar minério e grãos do país. 

Na pauta estão o dimensionamento do mercado atual de grãos; perspectivas de crescimento do agronegócio com foco em soja, milho e algodão; levantamento dos gargalos técnicos, operacionais e de logística; discussão dos parâmetros para projetos de infraestrutura portuária e equipamentos ferroviários que atendam o mercado agropecuário do oeste baiano; discussão de tarifamento e custos ao longo da cadeia logística produtor-porto; e possíveis parcerias em investimentos para projetos de estruturas ferroviárias, armazenagens e outros equipamentos. 

Moises Schmidt, vice-presidente da AIBA, afirma que o documento aponta para a disposição e o interesse do setor de agronegócio em relação à FIOL e ao Porto Sul. “É um momento importante para o agro por conta dos números de produção que já temos na região. Hoje, nossa produção passa de 6 milhões de toneladas, e um consumo de 1,5 de toneladas em fertilizantes. Por isso, estamos estreitando os laços com a Bamin para esses investimentos futuros”, destaca. 

Para Humberto Miranda, presidente da FAEB, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste vai ajudar a otimizar a produção agrícola que já existe no estado, mas também deverá fomentar novos negócios. “A infraestrutura é fundamental para estruturar a produção, com energia e conectividade, para escoar e para trazer insumos fundamentais. Nós temos um transporte essencialmente rodoviário, que encarece nossos produtos”, explica. 

Segundo Miranda, o agronegócio baiano vai demandar bastante da ferrovia. “Nós fizemos questão de levar para o pessoal da Bamin o que está sendo feito, com nossos aumentos de produtividade através de muito investimento em tecnologia”, diz. As expectativas são de movimentar, a partir de um porto seco que será implantado em Caetité, 1,5 milhão de toneladas de produtos agrícolas a partir de 2025. 

“O que nós mostramos para eles foi que este é um cenário bastante conservador, é o que já temos hoje. Com a ferrovia em operação e a verticalização da produção, que vem crescendo, estes serão números modestos”, garante. Entre as explicações para esta análise, ele cita o avanço da pecuária no cerrado baiano. “Em breve teremos a possibilidade de exportar carne. Já temos um enorme rebanho bovino e a suinocultura está em expansão. Não vamos nos limitar a movimentar soja e algodão”, afirma. “A Fiol nos dará a possibilidade de competir no mercado de produtos com maior valor agregado”, acredita. 

“Isso que a gente está vendo ser feito pela Bamin, investindo não apenas na estrutura ferroviária, mas também na portuária, é algo fundamental”, pondera. Ele explica que o algodão baiano atualmente sai quase totalmente pelo Porto de Santos, em São Paulo. “Imagina o quanto custa tirar o produto daqui e levar para um porto na região Sudeste, isso encarece e tira nossa competitividade no mercado internacional”, diz. 

O presidente da Bamin, Eduardo Ledsham, presidente da Bamin, explica que já no primeiro trecho da Fiol terá um espaço para movimentar grãos. “Seremos uma opção bastante competitiva, mesmo no primeiro momento para movimentação de cargas num raio de influência mais próximo a Caetité, então estamos mostrando os planos que temos para a ferrovia e para o porto”, explica. Segundo ele, haverá espaço para movimentar tanto grãos quanto fertilizantes. “Temos a ideia de ter um terminal dedicado a isso, compartilhando a infraestrutura”, afirma, referindo-se à ponte de 3,5 quilômetros, o berço para a atracação de navios e o quebra-mar. 

Ledsham destacou a importância do entendimento entre a Bamin e os representantes do setor agrícola, lembrando que as conversas são importantes para o longo prazo. “A gente já está levantando o potencial de demanda que poderíamos atender quando a Fiol 2 chegar aqui ao Oeste”, explicou. “A Fiol 1 deverá ser um volume menor, mais próximo ao raio de influência, porém já estamos prospectando um potencial pensando numa estrutura mais robusta, já saindo de Barreiras”, explicou. 

“O Oeste da Bahia é uma região impressionante, onde há mais de 30 anos se aplica tecnologia de ponta na produção agrícola. Sem dúvidas, não devem nada a nenhum polo do tipo em nenhum lugar do mundo. Acredito que nós poderemos agregar muito a eles com nossa solução logística”, destaca. 

A Fiol está em fase de conclusão do diagnóstico detalhado da sua estrutura. Segundo o presidente da Bamin, este diagnóstico será apresentado em breve para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Existem 150 pessoas trabalhando neste processo em um escritório montado pela empresa em Jequié. Ao mesmo tempo, a empresa já iniciou o processo de seleção dos parceiros que trabalharam na conclusão da ferrovia entre Jequié e Ilhéus. 

No Porto Sul, as obras iniciais estão sendo concluídas e a expectativa é de começar as obras no mar ainda no segundo semestre deste ano. “O porto é o nosso maior desafio, tem um cronograma de 48 meses, que estamos ajustando com o da ferrovia e da mina”, diz. 

O contrato da concessão da foi assinado em setembro do ano passado entre a Bamin e o Ministério da Infraestrutura (Minfra). Para concluir a ferrovia, o investimento da mineradora será de R$ 3,3 bilhões, sendo R$ 1,6 bilhão em obras civis e R$ 1,7 bilhão em material rodante, como vagões e locomotivas. A subconcessão tem a duração de 35 anos, sendo cinco para construção e 30 anos para operação.

A Fiol terá capacidade para movimentar 60 milhões de toneladas por ano, com a Bamin utilizando 40% desse potencial. Os outros 60% estarão disponíveis para outras mineradoras, agronegócio e todos os demais setores que precisarem escoar seus produtos e receber insumos, máquinas e implementos agrícolas.

Quando estiverem concluídos, em 2026, a ferrovia e o Porto Sul irão viabilizar o novo corredor de integração e exportação Oeste-Leste. Um terminal de águas profundas, o Porto Sul poderá receber navios com capacidade de até 220 mil toneladas e é projetado para movimentar até 42 milhões de toneladas anuais.  “A FIOL vai aumentar a eficiência do escoamento da produção. Isso significa redução dos custos, ampliação da capacidade de carga e maior agilidade no transporte. Esses fatores beneficiam os produtores rurais e refletem, diretamente, nos investimentos que devem gerar mais emprego e renda para o Oeste da Bahia”, afirma o presidente da Aiba, Odacil Ranzi.

*O jornalista viajou para a Bahia Farm Show a convite da AIBA

O projeto de conteúdo Bahia Farm Show é uma realização do jornal Correio com o apoio da ABAPA.