Rio Vermelho vira maior picadeiro do mundo com os Palhaços

Manifestações culturais tomaram as ruas do bairro e carregaram multidão formada por adultos, crianças e idosos

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 16 de fevereiro de 2019 às 21:14

- Atualizado há um ano

Bloco da Latinha abrilhantou a festa (Foto: Almiro Lopes) Há nove anos, 15 dias antes do sábado de Carnaval, o bairro do Rio Vermelho se transforma no maior circo do mundo. Ontem, o espetáculo mostrou que não para de crescer, a quantidade de artistas a se apresentar nele aumenta cada vez mais e o público também só cresce.  

Lotada de crianças, idosos, jovens, enfim, famílias inteiras, a festa coloriu o bairro mais boêmio da cidade e serviu para anunciar que o Carnaval já começou. Exatamente nas décadas de 50 e 60, como conta um dos fundadores do Movimento Cultural Palhaços do Rio Vermelho, que comanda a alegria. A fantasia está de volta do Rio Vermelho graças aos Palhaços (Foto: Almiro Lopes) Na época, o Bando Anunciação do Carnaval, que inspirou a criação dos Palhaços, saía nas ruas do bairro para lembrar que o reinado de Momo estava chegando. “Os Palhaços iniciaram como uma forma de resgate desse passado. Trazemos de volta a fantasia que existia no Rio 60 anos atrás. Assim preservamos o bairro e o verdadeiro pré-carnaval popular”, diz Ruy Santana, nascido e criado no Rio Vermelho. 

Às 19h30, fogos de artifício anunciaram o início do desfile. O bloco partiu das quadras esportivas, na orla do Rio Vermelho, e seguiu rumo à Rua Fonte do Boi. As fantasias de palhaço predominavam, mas tinha de tudo. Uma amostra de que o Carnaval mais uma vez será delas, das fantasias. As plaquinhas também já faziam sucesso: “Acabo com seu amor em três dias”, anunciava uma “diabinha”. 

Manifestações

A participação popular e de artistas aumenta a cada ano. Dessa vez, blocos e manifestações culturais vieram do interior do estado e de comunidades de bairros para abrilhantar os Palhaços. Grupos como o Zabiapunga, formado por homens mascarados de Itaperoá, no sul da Bahia, não só coloriam como enriqueciam a festa com diferentes ritmos.  Grupo Zabiapunga de Taperoá. Interior do estado cada vez mais presente (Foto: Almiro Loeps) No total, 33 “caretas” do Zabiapunga desfilaram tocando ijexá. “É bom demais colorir esse bairro e levar alegria e entusiasmo para as pessoas. Nada é melhor do que fazer o povo sorrir”, afirma André Agostinho, 56 anos, o Mestre Deco, presidente do bloco. 

De Madre de Deus, o Bloco da Latinha foi uma das atrações que mais chamaram a atenção. Quando os dez homens de lata se movimentavam e faziam um curioso som, usado como ritmo da percussão, centenas de celulares apontavam para eles. 

“Essa é uma criação baseada na reciclagem. É a latinha sendo transformada em música”, explicou Aloísio da Silva, coordenador do Bloco da Latinha. Teve também o Bagunçasso dos Alagados, a Capoeirada de Sítio do Conde e até um grupo de baianas do Engenho Velho da Federação. 

Axé

As 20 baianas adultas e cinco pequenas baianinhas também fizeram sucesso. Mas, o que baiana tem a ver com palhaço? “Tudo a ver! A alegria, o entusiasmo e o axé são os mesmos”, justificou Hildete Laurindo, 56 anos, do terreiro Ilê Axé Ojuirê. “Não pode faltar baiana em nenhum tipo de manifestações cultural na Bahia e no Brasil”.  

É uma festa para qualquer idade. Dona Maria de Lourdes, 78 anos, tava lá para provar isso. “Venho todo ano e acho maravilhoso”. Já a doméstica Alaércia Santana, 30, levou a bruxinha Ágata, de 4 anos. “Por isso eu amo isso aqui! Para os pequenos é ótimo”, disse. A presença de tantas crianças e idosos tem um motivo simples. “Nesses nove anos nunca tivemos uma ocorrência grave nos Palhaços”, garantiu Ruy Santana.