Rodoviários protestam por vacina e fazem paralisação em Salvador

Ação criou fila de carros da entrada da Lapa até o Dique e fez passageiros irem caminhando até o destino final

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  • Wendel de Novais

Publicado em 24 de março de 2021 às 10:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
. por Arisson Marinho/CORREIO

Quem pegou ônibus em direção à Lapa por volta das 9h desta quarta-feira (24) teve uma surpresa ao chegar perto do seu destino final. É que, da porta da estação até o Dique do Tororó, se formou uma fila de ônibus parados, fechando o trânsito por conta de um protesto dos rodoviários, que reivindicavam a compra da vacina contra o coronavírus por parte da Prefeitura e a colocação da categoria como prioridade em uma possível rotina de vacinação municipal, já que, no Plano Nacional de Imunização (PNI), os rodoviários não estão como prioritários. 

Ao todo, segundo o Sindicato dos Rodoviários, cerca de 160 motoristas e cobradores participaram do ato naquela região. Por lá, era difícil não se perder ao tentar contar a quantidade de ônibus emparelhados, encerrando a circulação do trânsito. Só que, com o fim do itinerário dos veículos, acabou também a paciência dos passageiros que se irritaram, bateram boca com os rodoviários e tiveram que seguir o rumo a pé. Entre as várias queixas, a mais vista questionava o modelo do protesto. Para quem pegou o ônibus cedo, era melhor que os ônibus nem tivessem saído da garagem, evitando o gasto que precisaram fazer com a passagem.

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População revoltada

Essa foi a principal reclamação de seu Wilson Oliveira, 87 anos, aposentado que saiu de casa para fazer tratamento de úlcera e precisou seguir do Vale dos Barris até a estação da Lapa andando. "Eu preferia que eles tivessem avisado ou nem saíssem da garagem. Porque, se eu soubesse, não saía de casa e não passaria por essa situação. Tenho 87 anos e preciso fazer uma caminhada dessa em um sol terrível, é muito descaso com a gente", reclamou Wilson, que ia até a Lapa para pegar um ônibus para Pero Vaz, onde faz seu tratamento. Wilson teve que seguir caminho a pé do Dique até a Piedade (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Mais exaltado, o vigilante Sidney de Paula, 48, que estava vindo de Ondina para o Subúrbio, criticou o sindicato dos rodoviários por não pensar nos transtornos para os passageiros. "Eu saí de casa às 5h e pago R$ 4,20 para fazer integração. E agora? Como faço pra chegar em casa? Só tinha esse dinheiro pra voltar e tô aqui sem tomar café, com sede, com fome. Como quer contar com o nosso apoio? Não tem como a população apoiar dessa forma", questionou.

Para Sidney, seria muito mais correto que o protesto consistisse na permanência dos ônibus da garagem para evitar o constrangimento e o dano aos passageiros. "Continuasse na garagem, que tava de boa. Mas os caras saem e a gente fica no prejuízo. Pai e mãe de família aqui. Um monte de gente vindo e indo pra médico. Tem o seu Wilson aí, outra senhora ali, todos vão ter que dar essa paletada em um sol desse", declarou. Sidney ficou revoltado com o modelo de protesto escolhido pelos rodoviários (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Quem também ficou indignada com a situação foi Jucilene Dias, 32, que pegou o Mirantes de Periperi rumo ao comércio para resolver problemas e foi surpreendida pelo protesto já que só tinha a passagem de ida e volta pra casa. "Tô querendo meu dinheiro de volta. Como faz isso com os trabalhadores? Deixa a gente parado aqui no sol, manda descer do ônibus e não liga para os nossos problemas. Como vou me resolver? Isso quebrou minhas pernas", disse a autonôma.

Palavra do Sindicato

A reportagem do CORREIO ouviu diretores do sindicato dos rodoviários para entender o porquê dessa forma de  paralisação. Segundo Adenilson Pereira, 52, que íntegra a diretoria, a reivindicação parte de um cenário em que os rodoviários têm se infectado cada vez mais no ambiente de trabalho e da necessidade de fazer barulho por conta disso. "A gente não é profissional de saúde, mas estamos na linha de frente por*que carregamos os profissionais que vão trabalhar e os passageiros comuns. Estamos sempre em contato com muitas pessoas. E o nível de contaminação da gente é muito alto. Eu tenho mais de 40 colegas internados no momento, fora os que, infelizmente, já morreram", afirmou 

Jeferson Reis, 44 anos, que também atua como diretor do sindicato reclamou do fato da categoria nunca ter sido considerada como prioridade em uma escala de vacinação mesmo sem nunca parar por conta das medidas restritivas.  "Tudo isso acontecendo e não temos prioridade. Os rodoviários estão vulneráveis neste sentido. A gente é serviço essencial que nunca para, com lockdown ou não. Só no momento de decidir quem toma vacina, a gente não é, nem mencionam a nossa categoria pra vacinação", pontuou.

*sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro