Safra de frutas vermelhas surpreende produtores da Chapada

Produção de morangos e amoras cresce a cada ano e vira até atração turística; chefe ensina receita de verrine

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  • Georgina Maynart

Publicado em 24 de novembro de 2019 às 12:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Georgina Maynart)

Intensos tons de vermelho. Claros, escuros, púrpura. As frutas desta cor estão em plena safra na Bahia. Elas invadiram as prateleiras e exibem nuances especiais na mesa, no paladar do consumidor e na renda do agricultor. São amoras, morangos, framboesas.

Antes raras nos campos do Nordeste, estas frutas vermelhas passaram a ser cultivadas em vários municípios da Chapada Diamantina. Os agricultores já abastecem os principais mercados do país e devem atingir um volume recorde na colheita da safra 2019/2020.“O que a gente percebe é que estas frutas vinham historicamente de outros estados, como Minas Gerais. O agricultor percebeu a facilidade de mercado e a produção vem ganhando cada vez mais importância”, afirma Augusto Barreto, supervisor de pesquisa agropecuária do IBGE. Produção de amoras pretas, com pigmentação arroxeada, aumentou mais de 1000% na Chapada Diamantina em menos de dois anos. (Foto: Georgina Maynart) De acordo com o IBGE, a produção de morangos, que praticamente nem existia na Bahia em 2006, alcançou 2.837 toneladas em 2017. Os principais produtores estão em Morro do Chápeu e Ibicoara.

Já as amoras, conhecidas como blackberry em outros países, têm registrado um crescimento ainda mais espetacular no estado. Segundo estimativas preliminares do Sebrae, mais de 100 toneladas da fruta devem sair das plantações baianas até março do ano que vem. Será uma safra surpreendente, cerca de 20 vezes maior do que a primeira. Há um ano os agricultores colheram cerca de 5 toneladas. O cultivo se espalha principalmente pela Chapada Sul, entre os municípios de Mucugê, Barra da Estiva, Ibiacoara, Novo Horizonte, Boninal e Piatã.

Em Barra da Estiva, a área plantada de amoras cresceu 1.150% nos últimos dois anos. Os pomares experimentais da frutinha contavam com cerca de 2 mil plantas em 2018. Agora mais de 25 mil pés estão sendo cultivados por pequenos agricultores familiares do município. “Foi uma surpresa até para os produtores que aderiram ao cultivo. A rentabilidade é grande e este crescimento auxilia na nossa estratégia de diversificar a economia da região. O mercado está em expansão e a tendência é crescer ainda mais”, afirma Luis Euzébio, secretário de agricultura de Barra da Estiva.Os pomares de amoras começaram a ser expandidos depois que os agricultores perceberam que poderiam cultivá-las associada ao morango, já tradicional no região produtora também de café. Nos últimos dois anos, cerca de 30 produtores rurais do município passaram a cultivar amoras, outros 800 produzem morangos.

Pioneiro Quem chega ao pequeno povoado de Capaozinho, na zona rural de Mucugê, não precisa andar muito para encontrar os maiores pomares de amoras e framboesas da Bahia. Basta chegar na casa de um dos moradores mais antigos, o agricultor Uvilson Santos Oliveira, para se deparar com um pomar cheio das frutinhas.

O local, que tem o sugestivo nome de Sítio Frutas Vermelhas, tem vista para a Serra do Sincorá. Foi nele que o agricultor começou a cultivar amoras de forma experimental em 2017.

“Eu só plantava tomate, feijão, abóbora, melancia, cultivos tradicionais. Mas em uma palestra eu ouvi falar sobre a amora e acreditei”, conta o agricultor.

Antes de começar a plantação ele pesquisou na internet, comprou mudas em outros estados, aprendeu a mutiplicar os pés e frequentou vários cursos de gestão do Sebrae. O esforço deu certo. O agricultor que também já produzia morangos, passou a cultivar amoras pretas das variedades Tupi e Brazos. O tamanho do plantio triplicou em menos de dois anos, agora já são três mil pés. O agricultor Uvilson Oliveira faz a colheita manual das amoras com a esposa Elieda. A produção do Sítio Frutas Vermelhas foi pioneira na Bahia. (Foto: Georgina Maynart)  Incentivado pelo resultado das amoras, o agricultor também foi o pioneiro da Bahia no cultivo de framboesas. Os dois frutos já estão na segunda safra.“A safra esta intensa agora. Começamos a colher e vamos seguir retirando frutos do pomar até março”, conta o produtor rural, que faz parte da terceira geração de agricultores da família.Ainda é madrugada quando ele e a esposa, Elieda Oliveira, começam a fazer a colheita manual. Com muita paciência, colhem o fruto, um a um. Depositam as amoras cuidadosamente em caixas de papelão padronizadas, depois transferem para vasilhas descartáveis. Uma parte da produção é vendida in natura ou congelada. A outra parte serve de matéria prima para geléias, doces, bolos e até licores.

“O objetivo é ter um período mais longo de produção, colher com frequência para oferecer as frutas sem interrupção e fidelizar os clientes já que a demanda está muito grande. Tem sido muito gratificante”, afirma o agricultor que deve colher este ano 10 toneladas de amoras, quase dez vezes mais do que na última safra.

Rota turística As fazendas que cultivam as frutinhas acabam de integrar um novo roteiro turístico temático da Bahia, a Rota das Frutas Vermelhas. O projeto mistura lavoura com turismo para aumentar a renda de pequenos agricultores.

A ação está sendo coordenada pelo Sebrae e já conta com cinco propriedades rurais da Chapada. Através do turismo de experiência quem visita os pomares pode vivenciar a produção agrícola, experimentar as frutas, conhecer de perto a rotina dos agricultores e comprar os alimentos diretamente nas mãos do produtores. As visitas são guiadas pelos próprios agricultores, que receberam curso de atendimento ao turista. O passeio custa entre R$ 10 e R$ 20 por pessoa, a depender da propriedade.“Existe um potencial enorme. Com esta janela turística muitos agricultores estão conseguindo até escoar a produção ainda no campo, eliminando assim a figura do atravessador que intermediava a comercializaão e acabava ficando com boa parte do lucro”, afirma Heitor Marback, gestor do projeto de Horticultura do Sebrae.A procura já é grande. O Sítio Frutas Vermelhas recebeu cerca de 1.500 turistas este ano.

“O turismo acaba agregando valor ao produto, e tem sido uma vitrine de publicidade eficiente”, conta Uvilson. Para aumentar a renda e agregar valor, os agricultores estão produzindo derivados como geléias e licores de frutas vermelhas (Foto: Sebrae) Ciência e técnica

Consideradas de clima temperado, as frutas vermelhas estão sendo cultivadas na chapada graças ao domínio e ao aprimoramento de técnicas agrícolas.

Com a ajuda de engenheiros agrônomos, os produtores estão aproveitando as baixas temperaturas da região, que podem chegar a menos de sete graus, e adaptando métodos de plantio que permitem o cultivo nesta parte do Nordeste.

A estratégia envolve várias ações, entre elas a poda e a desfolha, até o processo de indução e submissão do pomar ao estresse hídrico, um sistema que beneficia a dormência da planta em determinados períodos e a maturação dos frutos em outros.

“Esta junção de processos, quando realizada na hora certa, permite a floração uniforme e rentável de uma plantação comercial. Se deixar a planta produzir naturalmente, sem intervenção, ela vai até brotar, mas não na mesma época e com a mesma produtividade”, afirma o engenheiro agrônomo Tiago Sizilio.

A safra se intensifica agora porque as frutas temperadas perdem as folhas na época mais fria, começam a brotar na primavera e podem ser colhidas no verão quando acontece a florada.

Os pomares de Mucugê e Barra da Estiva estão gerando até 3 quilos de amoras por planta/safra, uma produtividade considerada alta. Outra vantagem é que a plantação é adensada e não precisa de grandes áreas. Os agricultores da região estão produzindo até 15 toneladas de amoras por hectare. Pomares de amoras se concentam em Mucugê e Barra da Estiva. Manutenção dos pés exige técnicas agrícolas apuradas. (Foto: Georgina Maynart) COTAÇÕES

Com a safra intensa de morango ao longo do ano e a concorrência de frutos vindos de outros estados, o quilo está saindo do campo por preços que variam de R$ 6 a R$ 8. Com o aumento da oferta nas principais centrais de abastecimento, quatro pacotinhos de morangos, com cerca de 250 gramas cada, chegam a ser vendidos por até R$ 10 pelos vendedores ambulantes nas ruas da capital baiana. Nas últimas semanas o morango chegou a registar queda de até 60% na cotação.

Já as amoras são menos vulneráveis às oscilações do mercado. Apesar do crescimento da produção, o volume ainda não é suficiente para atender os consumidores. O quilo da amora congelada está saindo do campo, em média, por R$ 16. Já em Salvador o quilo da fruta chega a custar entre R$ 20 e R$ 35.

Nutrição Segundo os especialistas, além de saborosas e belas, estas frutas com pigmentação avermelhada ou arroxeada são ricas em propriedades antioxidantes.

“São frutas que possuem propriedades que ajudam a combater o envelhecimento. Elas também auxiliam na prevenção contra alguns tipo de câncer, sobretudo esôfago e intestino. Elas têm substâncias que transformam a glicose em sorbitol, um outro tipo de açúcar que diminui o risco de diabetes", afirma o nutricionista Moisés Feitosa. 

Estudos também indicam que as frutas vermelhas, ricas em vitamina C, cálcio e magnésio, ajudam no combate a arteriosclerose, melhora a elasticidade e a memória."O ideal é consumir estas frutas ao longo da vida, e de preferência orgânica. Mas é bom lembrar que elas devem ser evitadas por pessoas que têm tendência a gastrite e úlcera, pois o morango tem uma acidez acentuada que pode provocar um desconforto", completa o nutricionista.Receita Com formato que lembra um coração, o morango é associado com frequência a ocasiões amorosas. A convite do CORREIO, o chef de cozinha Robson Bastos preparou uma receita que leva frutas frescas. A receita escolhida é uma verrine, um tipo de doce montado por camadas e que pode ser servido em pequenas porções.

Proprietário do “Sabor Desigual”, uma empresa de entrega de alimentos a domicílio, Robson eventualmente inclui a sobremesa no cardápio dos clientes através de encomendas. O doce costuma ser consumido em ocasiões especiais como jantares, almoços ou reuniões de família.

“Sempre recebemos amigos em casa e eventualmente os clientes também pedem sobremesas diferentes. Por isso chamo os morangos de frutas do amor e da paixão. São românticos assim como o creme chantilly que acompanha a receita”, afirma o chef. Verrine de Morangos Frescos é a receita sugerida pelo Chef Robson Bastos. (Foto: Ivan Cláudio) Além do morango, outra dica é usar as outras frutas vermelhas na decoração, como framboesas e cerejas.

“Elas dão um toque especial. A cereja serve para dar um contraste bonito nos pratos. O mirtilo favorece uma acidez diferenciada. E os morangos, cortados perfilados, ficam em formato de coração e sempre inspiram sentimentos”, completa o chef.

Verrine de morangos frescos Começe preparando o creme de confeiteiro, depois o chantilly e em seguida monte a verrine. Verrine de Morangos Frescos leva chantilly e creme confeiteiro. (Foto: Ivan Claúdio) *Ingredientes:

1 caixinha de morangos frescos (cerca de 250 gramas).

6 gemas peneiradas

100g de açúcar

40g de amido de milho (Maizena)

500ml de leite

1/2 colher (sopa) de extrato de baunilha

250ml de creme de leite fresco

2 colheres de açúcar refinado.

*Preparo do creme confeiteiro: Numa panela, fora do fogo, junte as gemas com o açúcar e misture bem com a ajuda de um batedor. Adicione o amido de milho e continue misturando até que fique homogêneo. Acrescente o leite e a baunilha, misture bem e leve ao fogo baixo. Mexa sem parar até que o creme engrosse e fique bem cremoso. Despeje o creme numa tigela, cubra com plástico filme e reserve.

*Preparo do chantilly: Deixe o creme de leite na geladeira de um dia para o outro, ou 30 minutos no freezer. Depois bata em velocidade alta junto com o açúcar.

*Montagem da verrine: Coloque 3\4 do creme de confeiteiro numa vasilha de vidro. Para o prato ficar ainda mais bonito, corte morangos em filetes e decore a lateral da vasilha. Adicione os morangos picados, junte o suspiro e cubra com o chantilly, decore com morangos frescos.