‘São as ideias que mudam o mundo’, diz Jean Wyllys

Jornalista e ex-deputado é convidado da Felica cujo tema é o livro como instrumento de transformação

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  • Laura Fernades

Publicado em 26 de março de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Germano de Sousa/Reprodução Instagram

A leitura transforma vidas e Jean Wyllys é um exemplo disso: da infância pobre na periferia rural de Alagoinhas, vivida em uma casa de taipa sem banheiro, energia e água, virou jornalista, professor universitário e deputado federal. “A minha vida teria sido outra e seguramente pior se eu não tivesse aprendido a ler livros e amar a literatura, principalmente a literatura e a filosofia”, afirma Jean.

Autoexilado na Europa após receber ameaças de morte, o ex-deputado federal é um dos convidados da Festa Literária da Caramurê (Felica), que acontece de domingo (28) ao dia 04 de abril, no YouTube. Além dele, o evento gratuito reúne nomes como Itamar Vieira Junior, Nélida Piñon, Ruy Castro, Mabel Velloso, Wilson Gomes, Leonardo Boff, Érico Brás, Larissa Luz, Tom Zé, Carlinhos Brown e Hugo Canuto.

Jean conta que sua saída de Alagoinhas para desbravar o mundo, incluindo passagem pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, foi motivada pela “fome de conhecimento”. “A literatura saciava a minha fome de conhecimento e me fez vencer a outra fome, mais básica. Mas sou exceção. O justo seria que ninguém passasse fome de alimento para que tivesse outras fomes”, pondera.

Arma O tema “o livro como instrumento de transformação” serviu de mote para a Felica, “foi o ponto de partida e a bússola de toda a feitura da programação”, explica o curador e escritor Breno Fernandes. Na escolha desse tema está implícita a transformação social que se observa no Brasil, explica o curador, e que passa por questões de gênero, pelo racismo e pela política. 

“A Felica estabeleceu a defesa da cidadania e dos direitos humanos como pedra fundamental”, afirma Breno. “Temos o maior interesse, e um cuidado especial, em promover debates que deem ênfase a um conjunto de temas ligados à proteção dos direitos humanos e ao engajamento com o fim das desigualdades sociais. Com a transformação do país, como sugere o mote desse ano”, explica.

Na mesa “Esse filme a gente já viu e não quer mais ver: a censura no Brasil ‘democrático’”, por exemplo, Jean debate com a escritora Lívia Natália e o reitor da Universidade Federal da Bahia, João Carlos Salles, “sobre nós, como indivíduos e coletivo”, explica Jean. O encontro acontece no dia 2 de abril, às 18h30, mediado por Manuca Ferreira.

A leitura e o livro, destaca Jean, “são os melhores instrumentos de transformação e aquisição de poder”, por isso a informação está no centro dos debates atuais. “Os covardes e ignorantes recorrem às armas de fogo e de destruição, mas todos sabemos que são as ideias que mudam o mundo, daí estarmos vivendo essa guerra de desinformação e fake news, anticientífica, contra tudo que a humanidade produziu até agora de melhor”, afirma.

Imaginação Os livros são uma “ferramenta poderosa para o campo das ideias e da imaginação” e “abrir mão deles é abdicar de um legado da humanidade tão útil quanto a roda”, destaca o curador da Felica. Idealizador do evento, o editor e artista plástico Fernando Oberlaender, 58, acrescenta que a leitura é poderosa porque traz conhecimento e a capacidade de imaginar.

“O livro é a maior invenção do mundo porque não se desatualiza nunca. Uma história te conduz ao conteúdo e te faz imaginar. Além do fato de ter o entretenimento, de ler uma história, você ainda imagina o enredo. Esse exercício de imaginação é que faz do livro um instrumento poderoso e gigantesco de mudança, crescimento, educação”, define Oberlaender.

No exílio político e no exílio imposto pela pandemia, Jean conta que o que o salvou foi o exercício da leitura. “A ficção de uma maneira em geral. Sem as histórias de ficção, o confinamento seria insuportável. Elas nos permitem viajar mundos sem sair do lugar”, enaltece. Jean conta que tem “viajado” para um mundo de formas e cores que o reconecta com suas raízes brasileiras, baianas e alagoinhenses. 

“A leitura e os livros me fizeram não só imaginar, mas construir um outro destino para mim diferente do que estava programado pelo sistema de hierarquização das classes, dos gêneros, das raças e da orientação sexual. A leitura e o livro, qualquer que seja seu suporte, analógico ou digital, ainda são os melhores instrumentos de transformação individual e coletiva”, defende.

Serviço O que? 2ª Festa Literária da Caramurê (Felica)  Quando? De domingo (28) a 04 de abril Onde: YouTube da TV Caramurê e Instagram da Caramurê (@caramure) Gratuito

Programação Felica no YouTube

Domingo (28)

15h30 Mesa de abertura ‘Livro: o amigo da infância’ com Clara Beatriz, Lorena Ribeiro e mediação de Astrid Fontenelle

17h Mesa ‘O microfone tá mudo: os desafios de ensinar na pandemia’ com Anaisa Mira, João Eduardo e mediação de Anderson Shon

18h30 Mesa ‘Rir para transformar: o poder do texto de humor’ com Érico Brás, Zéu Britto e mediação de Franciel Cruz

20h Conversa cantada com Larissa Luz e mediação de Alex Simões

Segunda-feira (29)

15h30 Mesa ‘A sabedoria secular do cordel: lições de vida e de luta para as novas gerações’ com Sálua Chequer, Mestre Janete Lainha e mediação de Elton Magalhães

17h Mesa ‘Raul & Smetak: ideias para o amanhã’ com Migracielo, Edvard Passos e mediação de Fernanda Monteiro

18h30 Entrevista ‘Crônica de uma tragédia anunciada… e prolongada?’ com Wilson Gomes e mediação de Nelson Pretto

20h TV Caramurê ‘Caramurê na história: a Bahia de Caymmi’ com Fernando Oberlaender, Daniel Rebouças. Convidada: Mariene de Castro

Terça-feira (30)

15h30 Aula-show com Saulo Dourado

16h40 Mesa ‘A nova onda dos quadrinhos baianos’ com Hugo Canuto, Lila Cruz e mediação de Edimário Duplat

18h Entrevista Tom Zé com mediação de Breno Fernandes e Fernando Oberlaender

20h TV Caramurê ‘Nossa casa comum: fé nos direitos humanos’ com Eduardo Mattedi. Convidado: Leonardo Boff

Quarta-feira (31)

15h30 Mesa ‘Infância sem tabus: a arte como forma sadia de explicar o mundo às crianças’ com Carla Bittencourt, Luciana Comin e mediação de Laili Flórez

17h Mesa ‘Direitos da arte e direitos dos artistas: limites e conflitos’ com Ricardo Lísias, Rodrigo Moraes e mediação de Marcus Vinicius Rodrigues

18h30 Mesa ‘Histórias que dão água na boca’ com Itamar Vieira Jr. e Mabel Velloso. Mediação de Tereza Paim

20h Mesa ‘Como a literatura pode ajudar a superar o racismo?’ com Aldri Anunciação, Carla Akotirene e mediação de Alex Simões

Quinta-feira (1/4)

15h30 Mesa ‘Tempos de transformação: os desafios e as metamorfoses do escritor’ com Aleilton Fonseca, Carlos Ribeiro e mediação de Cássia Lopes

17h Mesa ‘Bahia que assusta: histórias de terror da cultura local’ com Julia Ferreira, Franklin Carvalho e mediação de Carolina Garcia

18h30 Mesa ‘Narrativas em podcast: uma nova mídia para o velho gosto de contar histórias’ com Pedro Duarte, Aline Valek e mediação de Daniela Souza

20h Bate-papo ‘Salvador, musa poética’ com Carlinhos Brown e mediação de Fernando Oberlaender (gravado)

Sexta-feira (2/4)

14h50 Lançamento do livro ‘Se eu pudesse, Danila, te levava pra tomar banho de mar em Guarajuba’ com Breno Fernandes

15h30 Bate-papo ‘Pequenos espaços, grandes acervos: experimentos para reinventar o comércio de livros’ com Fernando Oberlaender, Cecília Arbolave (Banca Tatuí), Renato Carneiro (Katuka) e mediação de Carol Dantas

17h Mesa ‘A economia nos une ou nos separa?’ com Luiz Filgueiras, Armando Avena, Fernando Oberlaender e mediação de Breno Fernandes

18h30 Mesa ‘Esse filme a gente já viu e não quer mais ver: a censura no Brasil “democrático” com Jean Wyllys, João Carlos Salles, Lívia Natália e mediação de Manuca Ferreira

20h Entrevista ‘Biografando o biógrafo’ com Ruy Castro e mediação de Renato Cordeiro

Sábado (3/4)

14h30 Contação de histórias com Diana Ramos

15h Live do Prêmio Felica de Jovens Autores com Anderson Shon, Ian Fraser

15h30 TV Caramurê ‘Rascunho porreta’ com Anderson Shon, Ian Fraser e Nivaldo Lariú

17h Mesa ‘Caramurê: 25 anos de arte e literatura baianas’ com Márzia Lima, Fernando Oberlaender e mediação de Breno Fernandes

18h30 Bate-papo ‘O tempo do romance’ com Nélida Piñon e mediação de Aleilton Fonseca

20h Conversa cantada com Josyara e mediação de Carol Morena Vilar

Domingo (4/4)

14h Contação de histórias com Regina Campana

14h40 Lançamento do livro Poeminhas Naturais de Sandro Ornellas

15h30 Mesa ‘Bahia latino-americana’ com Rina Rojas, Dany Velásquez e mediação de Juan Ignacio Azpeitia

17h TV Caramurê ‘Caramurê na história: a Bahia de Caymmi’ com Fernando Oberlaender, Daniel Rebouças. Convidado: Juarez Paraiso

18h30 Bate-papo ‘Lendo o Brasil de agora’ com Rita Batista e mediação de Fernando Oberlaender

20h Conversa cantada dedicada a Manuca Almeida com Targino Gondim e mediação de Alexandre Leão