Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Falta de acordo para assinar convenção coletiva se arrasta desde março de 2018
Gil Santos
Publicado em 16 de outubro de 2019 às 05:40
- Atualizado há um ano
Está marcada para esta quarta-feira (16) mais uma rodada de negociação entre o Sindicato dos Comerciários de Salvador e a entidade que representa os lojistas da cidade, o Sindilojas. A categoria está sem acordo coletivo deste março de 2018. Na próxima segunda-feira (21) seria feriado do Dia do Comerciário, mas, devido ao impasse, as lojas devem funcionar normalmente na capital.
Segundo o diretor jurídico do sindicato, Alfredo Santiago, o motivo da falta de acordo é que os patrões querem fazer alterações na convenção em alguns pontos como no banco de horas, mudanças no pagamento de atividade aos domingos e no repasse de taxa assistencial, o que não é aceito pela categoria. O imbróglio mais recente é sobre o Dia do Comerciário.
“É uma tradição de muitos anos que essa data seja de feriado para a categoria. O dia do comerciário é 30 de outubro, mas ficou acordado na convenção que ele será comemorado na terceira segunda-feira do mês de outubro, ou seja, no próximo dia 21 deste mês. O que queremos é que seja mantida a tradição”, disse.
Em nota, a entidade afirmou que nenhum trabalhador do comércio vai atuar na próxima segunda-feira. Acrescenta ainda que assinou acordos com associações e empresas lojistas garantindo essa folga, e que a postura do Sindicato dos Lojista é de "intransigência".
Já o Sindicato dos Lojistas disse que a lei 12.790/2013, que criou o Dia do Comerciário, não determina a data como feriado e que, por isso, as lojas terão funcionamento normal no dia 21 de outubro. O presidente da entidade, Paulo Motta, reclamou também das perdas no faturamento e afirmou que tem feito todos os esforços para chegar a um consenso com a entidade que representa a categoria.
“Segundo a lei federal, o Dia do Comerciário não é feriado, é dia normal, como o dia do médico, do engenheiro ou do advogado. Quando fazemos convenção, é uma tradição que a celebração do Dia do Comerciário seja na terceira segunda-feira do mês e que, neste dia, ele fique liberado para aproveitar a data, mas estamos sem convenção”, afirmou.
Os dois sindicatos tentaram entrar em um acordo trocando outras folgas pelo dia 21 de outubro. A primeira proposta pedia que os trabalhadores atuassem nos feriados de 12 de outubro, 2 e 15 de novembro e 8 de dezembro, mas foi recusada. A segunda estabelecia a obrigatoriedade dos comerciários trabalharem no Dia das Crianças e no Dia de Finados, em troca do Dia do Comerciário, mas também não foi aceita.
No último feriado, 12 de outubro, a maioria das lojas da cidade não abriu. A decisão foi dos trabalhadores e desagradou os dois lados. Segundo o Sindicato dos Comerciários, a categoria fatura em cima das comissões de venda e seria melhor que tivesse trabalhado. A entidade explicou que a decisão de cumprir o feriado aconteceu porque as propostas feitas pelos patrões não atenderam ao que queria a categoria.
Já o Sindilojas afirmou que o Dia das Crianças é a quarta data mais importante para o varejo, e que a paralisação dos trabalhadores nesta data provocou um prejuízo imenso para o setor. A entidade disse que ainda não calculou a perda, mas que o fechamento das lojas impactou diretamente no faturamento.
No ano passado, as lojas também não abriram no Dia das Crianças. A data não é dia de folga, mas é celebrada no mesmo dia de Nossa Senhora de Aparecida, que é um feriado nacional.
Os comerciários contaram que buscaram a intermediação do Ministério Público do Trabalho e da Câmara Municipal de Salvador para ajudar nas negociações com os patrões. Os dois sindicatos têm uma reunião marcada também no Tribunal Regional do Trabalho (TRT-BA) nesta quarta-feira (16), às 15h, mas o Sindilojas já adiantou que não vai comparecer. O presidente da entidade disse só haverá negociação depois do dia 21 de outubro.
Em nota, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA) informou que as empresas representadas pela entidade também vão abrir as portas no Dia do Comerciário. O mesmo acontecerá com os shoppings, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), apesar de algumas lojas terem feito acordos individuais com os trabalhadores.
Impasse A convenção coletiva dos comerciários estabelece os direitos e deveres da categoria e é fruto de um acordo entre o sindicato dos trabalhadores e o patronal. Através do documento é determinada, por exemplo, a obrigatoriedade de trabalhar nos dias de feriado. Ela sempre entra em vigor em março, mas desde 2018 as duas partes não conseguem chegar a um consenso.
No ano passado, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-5) decidiu que era direito dos comerciários não trabalhar aos domingos e feriados devido à falta de acordo sobre a convenção coletiva da categoria. Desde então, cada feriado é motivo de discussão entre os dois sindicatos.
Na prática, os trabalhadores estão sem reajuste salarial e outros direitos desde março de 2018, e os lojistas estão amargando baixos faturamentos nos feriados por conta da suspensão das atividades dos comerciários nestas datas.