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Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2022 às 13:31
- Atualizado há 2 anos
Teve quem acordasse cedo, cruzasse um bairro inteiro em direção a outro ou decidisse votar antes mesmo de ter obrigação. Suportando as dores de uma hérnia de disco, apoiando-se em muletas enquanto subia uma ladeira ou levasse até mesmo um respirador portátil de oxigênio, sabendo até que não poderia passar muito tempo fora de casa. Houve quem desmaiasse de calor, quem tivesse medo de ser vítima de alguma violência política e quem esperasse por horas na fila. >
Teve todo tipo de esforço possível - só não dava para não ir. Do Subúrbio Ferroviário à Orla, essa justificativa era quase unânime, entre os eleitores que foram às urnas em Salvador nas primeiras horas deste domingo (2). No maior colégio eleitoral do estado, com 1.938.198 pessoas aptas a votar neste pleito, a sensação era de que, no voto, havia um compromisso maior do que nunca com a democracia.>
Foi esse sentimento que fez com que a estudante Talita Moraes, 16 anos, decidisse tirar o título de eleitor para votar pela primeira vez. Ao lado do pai, o servidor público Adilson Moraes, 40, ela chegou ao Colégio Estadual de Praia Grande, em Periperi, antes mesmo que os portões se abrissem, às 8h. Alguns minutos depois, Talita daria seu primeiro voto na mesma escola onde estuda. Talita votou pela primeira vez acompanhada do pai, Adilson (Foto: Marina Silva/CORREIO) “É algo novo para mim. Me sinto um pouco nervosa, mas feliz de poder decidir o meu futuro. Fui analisando as pautas (dos candidatos), vi quais poderiam beneficiar mais e o que poderia acontecer”, contou. Ela diz nunca ter visto uma mobilização tão grande entre colegas da mesma idade para votar. Em geral, explica a jovem, costumam esperar até completar 18 anos, quando o voto passa a ser obrigatório. Para Talita, votar em um contexto de ataques à democracia, como os que têm crescido nos últimos anos, teve uma importância grande. “Só tive a cautela de escolher uma cor mais neutra, porque tem gente que não quer deixar os outros decidirem como exercer a própria democracia”, lamentou. O pai, Adilson, explica que conversou com ela, mas que não a influenciou a votar em nenhum candidato. “A decisão é toda dela. Explicamos que a gente está aqui escolhendo o futuro do nosso país tanto para a gente quanto para as novas gerações”.>
O medo de alguma confusão provocada por extremistas políticos também foi o que motivou a manicure Larissa Vieira, 20, a sair de casa cedo. Ela levou a filha, Isabella, 3, mas disse acreditar que, à tarde, seria mais provável ver algum tumulto. “Só não podia deixar de vir hoje. Está em nossas mãos. Tudo isso é complicado. Mas a gente precisa vir, é direito de todo cidadão”, reforçou, enquanto estava na fila da seção 452, no bairro de Praia Grande. Larissa foi com a filha Isabella (Foto: Marina Silva/CORREIO) A manicure Evellyn Ferreira, 26, saiu de Marechal Rondon para votar cedinho em Periperi - queria fazer sua parte logo, também com medo de confusões ou algum tipo de violência política. “Hoje, eu sei que vai ser bagunça pura. Tem gente que não tem consciência, então achei melhor vir logo”. Ela diz não gostar de política. Decidiu votar nulo em todos os candidatos, com exceção de presidente. “Sei que será decisivo”, acrescentou. Evellyn diz não ser fã de política, mas foi cedo votar. Decidiu votar apenas para presidente (Foto: Marina Silva/CORREIO) Com todo o esforço A dona de casa Joselita Pereira, 53, tem um problema pulmonar que a obriga a andar com um respirador portátil há cinco anos. Ainda assim, ela foi logo cedo votar em Plataforma, no Colégio Estadual Democrático Bertholdo Cirilo, acompanhada do filho de 13 anos. >
Mesmo com a dificuldade de locomoção, ela diz que sempre comparece às urnas. Dona Joselita, mesmo com respirador portátil, foi votar acompanhada do filho (Foto: Marina Silva/CORREIO) “Foi tranquilo, porque eu tenho prioridade, porque o oxigênio não pode esperar muito tempo. A gente tem uma situação delicada, mas estou feliz de ter votado. A gente tem que correr atrás dos nossos direitos”, explicou ela, que mora em São João do Cabrito. Lutando contra as dores da hérnia de disco e usando muletas, a aposentada Maricélia Santos, 61, fez quase uma peregrinação. Com dificuldades de locomocação, foi a pé e desceu uma ladeira - que teria que subir para voltar para casa, acompanhada da filha, a estudante de Administração Edmara Santos, 23. Dona Maricélia apontou as dificuldades da redução do financiamento do SUS (Foto: Marina Silva/CORREIO) “Acho que o mais importante é fazer eles enxergarem o erro deles próprios. A educação foi prejudicada, a saúde foi prejudicada. Antes, eu conseguia tudo pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas quebraram o SUS e agora tenho que pagar ortopedista. Hoje, você não consegue nada”, disse Maricélia. A filha, Edmara, comentou que a população fica entre um lado e outro. “Entre um que não condiz com o que eu penso e um que já me favoreceu, eu vou escolher esse para ter a democracia que a gente tanto precisa”, explicou ela, que reforçou ser bolsista do Prouni. >
Ainda que fosse a visão da maioria, havia exceções. Ao lado da neta Natália Santana, 13, a doméstica Valdeci Cardoso, também decidiu ir cedo porque quis evitar ‘a agonia’ da tarde. No entanto, diz que, se pudesse, não iria de jeito nenhum. “Eu acho importante a votação, mas acho que ninguém respeita a gente. Para mim, é caso perdido”, lamentou. >