Sucesso com séries e filmes exclusivos, Netflix volta suas atenções ao Brasil

Serviço tem crescido produzindo filmes e séries exclusivas, como Narcos, que estreia dia 28 com atuação de Wagner Moura

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  • Laura Fernades

Publicado em 12 de agosto de 2015 às 07:52

- Atualizado há um ano

Os serviços de vídeos sob demanda na internet, como o Netflix, revolucionaram a forma de assistir séries e filmes. Principalmente no contexto econômico de hoje, em que aquele superpacote de TV por assinatura é o primeiro a dançar no orçamento mensal.Netflix revoluciona mercado e faz sucesso com séries e filmes exclusivosAfinal, os canais mais procurados - de séries e filmes  -  encarecem bastante as contas. Sendo assim, além da assinatura mais acessível, os serviços de TV na internet apostam cada vez mais nas produções exclusivas para fidelizar o cliente e fugir da simples locadora virtual.

A Netflix, por exemplo, estreia dia 28 a série Narcos, com produção executiva e direção do cineasta carioca José Padilha (Ônibus 174/2002 e Tropa de Elite/ 2007) e atuação de Wagner Moura.  Wagner Moura interpreta o megatraficante Pablo Escobar na série Narcos, que estreia dia 28 na Netflix(Foto: Daniel Daza/Netflix/Divulgação)Além de Narcos - que tempré-estreia para convidados, amanhã, no restaurante Amado, com presença do ator -, a Netflix anunciou, na semana passada, sua primeira série brasileira: 3%, que será protagonizada pelo baiano João Miguel e pela atriz carioca Bianca Comparato, sob direção do uruguaio Cesar Charlone.

Com mais de 65 milhões de assinantes em mais de 50 países  - e 52 bilhões de dólares alcançados em ações, segundo a revista Exame  -, a Netflix possui outras séries exclusivas. Entre elas estão House of Cards e Orange Is The New Black, além de uma série com super-heróis da Marvel por semestre, baseada nos heróis das HQs Os Defensores  - a primeira foi Demolidor, que estreou em abril.

Assista abaixo ao trailer legendado de 'Narcos'

Originais  

Em carta, os diretores da Netflix, Reed Hastings e David Wells, anteciparam que, como o gasto global da empresa vai se aproximar de seis bilhões de dólares, em 2016 eles irão “dedicar mais investimentos para os originais. Isso inclui não apenas séries, documentários e stand-up, mas também o recurso para filmes originais”.Os atores Pedro Pascal e Boyd Holbrook vivem dois agentes da DEA na série Narcos, que se desenvolve a partir da narrativa de Boyd (Foto: Daniel Daza/Netflix/Divulgação)Ou seja, o público pode esperar mais novidades por aí. A empresa, que já oferece documentários exclusivos, como  What Happened, Miss Simone? - sobre a diva do jazz Nina Simone (1933-2003) -, vai criar seus próprios filmes. “Estamos nos movendo para o negócio de filmes originais, a fim de ter filmes de alta qualidade que nossos usuários possam encontrar apenas no Netflix”, justificaram os CEOs.

O primeiro deles, o drama de guerra Beasts of No Nation, está previsto para outubro. Já a comédia satírica War Machine, protagonizada por Brad Pitt, estará disponível com exclusividade para os assinantes da Netflix no próximo ano.Produtor executivo de Narcos, o cineasta carioca José Padilha repete a dobradinha feita com o ator Wagner Moura em Tropa de Elite (Foto: Daniel Daza/Netflix/Divulgação)Ainda em 2016, no final do ano, está previsto o lançamento de um filme dirigido pela atriz Angelina Jolie. Adaptação do livro First They Killed My Father: A Daughter of Cambodia Remembers, o longa da senhora Pitt terá participação do filho  Maddox, nascido no Camboja, e contará a história dos sobreviventes do genocídio do regime do Khmer Vermelho.

Narcos  

As produções audiovisuais da Netflix apostam em outras facilidades, além da financeira (já que o plano mais caro custa R$ 29,90) e da questão da exclusividade. Na série Narcos, por exemplo, serão lançados todos os dez episódios de uma só vez, no dia 28. Ou seja, o espectador escolhe quando e como vai assistir à temporada: pequenas doses ou maratona.

O CORREIO  teve acesso a três dos dez episódios da série escrita por Chris Brancato (Hannibal/2013 e Law & Order/2011), em parceria com Carlo Bernard e Doug Miro. Narcos narra a história verídica da origem e ascensão dos chefes do tráfico de drogas colombianos nos anos 1980. Retrata também a repressão, assim como a participação das próprias autoridades na evolução do tráfico.O documentário What Happened, Miss Simone?, sobre a diva do jazz Nina Simone (1933-2003), é uma das exclusividades da Netflix (Foto: Photofest Netflix/Divulgação)A produção destaca, ainda, o embate desumano em torno de uma das mercadorias mais valiosas do mundo: a cocaína. Nesse contexto está a figura emblemática do colombiano Pablo Escobar (1949-1993), megatraficante interpretado por Wagner Moura, 39 anos, que engordou 20 quilos para o papel e morou em Meddellín para aprender espanhol.

Bem relacionado e “homem família”, Escobar explorou o negócio ainda embrionário da cocaína, através da corrupção de políticos e policiais da Colômbia. À frente do cartel de Medellín, construiu hospitais e ajudou os pobres. Apesar da relativa “humanidade” e do glamour retratados na série, Padilha não ameniza: Pablo Escobar foi um “facínora”, “psicopata” e “terrorista”.

Quem narra isso em Narcos é Steve Murphy (Boyd Holbrook), um agente da DEA, agência americana para a repressão e controle de narcóticos. A partir do seu ponto de vista, a trama se desenvolve com muita crítica, cenas de ação e de sexo, em episódios que duram cerca de uma hora.Outra série exclusiva, o drama cômico Orange is the New Black é baseado na autobiografia de Piper Kerman, americana best-seller (Foto: JoJo Whilden/Netflix/Divulgação)Padilha, que dirige os dois primeiros, acredita que o enfoque da narrativa permite contar como os Estados Unidos interferiram na Colômbia e na luta contra o narcotráfico. Segundo ele, a grande questão é que, no lugar de resolver a demanda, tentou-se resolver a oferta e isso explica a migração do problema de país em país.

Assim, Narcos levanta uma série de discussões diretas e indiretas sobre o narcotráfico, sem medo de mostrar a participação das autoridades na manutenção do sistema corrupto. O que não é novidade para Padilha, que denunciou a participação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) no tráfico do Rio.

Atualmente morando em Los Angeles, depois de ter sido ameaçado e processado por vários policiais, Padilha é um entusiasta do modelo da TV na internet. Ele acredita que há uma maior valorização do trabalho autoral, ao contrário da indústria americana sustentada no marketing. Assim, ressalta ele, há uma variedade do catálogo e isso possibilita “liberdade criativa e dinheiro”.

Primeira série da Netflix 100% brasileira vai estrear em 2016

“As séries, hoje, são os espaços mais interessantes que existem na dramaturgia do audiovisual. A inovação está acontecendo de maneira muito interessante”, destaca o ator baiano João Miguel, 45 anos e 31 de carreira, cujo currículo passeia por papéis em séries como O Canto da Sereia (2013) e A Teia (2014) e em filmes como Estômago (2007) e Xingu (2012).O ator baiano João Miguel vai protagonizar a nova série da Netflix: 3%(Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo/Divulgação)Ao lado da atriz carioca Bianca Comparato (Irmã Dulce/ 2013), ele vai protagonizar a primeira série da Netflix produzida no Brasil: 3%. A direção é do uruguaio Cesar Charlone, diretor de fotografia de filmes como Cidade de Deus (2002) e Ensaio Sobre a Cegueira (2008) e diretor de O Banheiro do Papa (2007) e de um dos curtas de Rio, Eu Te Amo (2014).

Escrita por Pedro Aguilera e produzida pela Boutique Filmes, a nova série começa a ser gravada em fevereiro de 2016 e deve estrear no final do próximo ano. A trama mostra o mundo dividido entre progresso e devastação e a única chance de passar para “o lado melhor” é através de um processo de seleção cruel e por vezes injusto, no qual apenas três por cento dos candidatos são aprovados.

“A série traz à tona questões sobre a dinâmica da sociedade, que impõe constantes processos de seleção pelos quais todos nós temos que passar, gostemos ou não”, declarou o diretor Cesar Charlone, 57, durante o anúncio da série, na semana passada.

Sem poder revelar muito sobre seu personagem, João Miguel se ateve a dizer ao CORREIO que vai ser "um papel importante dentro da trama”. “A série vai tocar questões super contemporâneas, como poder, juventude, intolerância, justiça e injustiça...”, resumiu o ator que está em Salvador ensaiando a remontagem de Bispo, peça solo que o consagrou nacionalmente e que estreia em novembro na capital baiana. Assim que terminar a temporada,  emenda com a série da Netflix.

Sobre a dinâmica desta, João Miguel destaca que é “superpositiva a possibilidade do espectador escolher o seu próprio fluxo”. “A liberdade de escolha me interessa. Agora mesmo está acontecendo com o documentário da Nina Simone, que posso ver na minha casa”, comemora.