Tiros e medo: comércio fecha as portas e ônibus param de circular em Valéria

Moradores vivem mais um dia de medo em meio à disputa do tráfico de drogas

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  • Da Redação

Publicado em 18 de agosto de 2021 às 08:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TV Bahia

O clima é de tensão na manhã desta quarta-feira (18), no bairro de Valéria. Moradores relatam muitos tiros desde as 6h30, na Rua das Palmeiras, Boca da Mata, na localidade do Penacho Verde. Com o clima de insegurança, o comércio fechou as portas e os ônibus pararam de circular.

O comércio local voltou a abrir as portas quando a situação foi controlada pela polícia. Os ônibus continuam sem circular nessas localidades e, por conta disso, moradores estão andando o Largo de Valéria até Nova Brasília. são cerca de 2,5 km de percurso.

Mais de 10 viaturas ficaram concentradas em Nova Brasília de Valéria, no começo da manhã. A situação de maior conflito foi na Rua das Palmeiras. 

Diversas viaturas da Patamo, Rondesp, Gêmeos, 31ª CIPM (Valéria) e 18ª CIPM (Periperi). Com armas em punho, os policiais estão fazendo incursões nas localidades. Nas ruas, poucas pessoas estão circulando. 

A Fábrica Gerdau, que fica no bairro de Valéria suspendeu as atividades nesta quarta, devido aos tiroteios. Os funcionários que estavam na sede só puderam sair com a chegada da polícia. De acordo com funcionários, a fábrica não vai funcionar hoje e não há previsão de reabertura. 

“O pessoal que ia largar o turno ficou apavorado com os tiros e não saiu. Quem estava dentro, avisou os colegas que estavam chegando através do WhatsApp. O pessoal do RH informou que não há previsão de retorno, porque há um risco muito grande de eles virem fugindo de lá para cá”, disse um dos seguranças.  Por volta das 10h30, policiais militares da Caatinga e do Batalhão de Choque circulavam pela mata que fica no entorno da empresa.

Medo e pressa Na Rua das Palmeiras, às 9h todas as portas e janelas das casas estavam fechadas, assim como os estabelecimentos comerciai, com exceção de uma casa de material de construção, que tinha meia porta aberta. “Só abri porque vou receber uma carga de cimento, mas já vou fechar. A coisa está braba”, disse o comerciante, que logo em seguida começou a receber a carga. “Se demorasse mais um pouco ia trancar tudo e ir embora”, acrescentou. 

Os rapazes que descarregavam o cimento também não esconderam o medo de estarem ali. “Está todo mundo aqui apavorado. É fazer tudo o mais rápido possível e sair. Esta é na nossa primeira e será a última entrega do dia”, disse um deles. 

Pouco moradores estavam na rua. Quem se arriscava sair, não queria falar sobre o assunto. “Nada a declarar”, disse uma senhora de passos apressados. “Quem é louco de dizer alguma coisa nesse momento?”, afirmou outra mulher que seguia em ritmo acelerado.

Comércios fechados e sem ônibus Na Rua Nova Brasília o comércio também fechou. Padarias, lanchonetes, depósito de água, salões de belezas, mercadinhos, todos estes estabelecimentos que normalmente abrem logo cedo, às 9h30 estavam todos com as portas cerradas. “O comércio aqui começa às 7h, mas ninguém teve coragem de abrir. Os tiros começaram às 6h. Estava aqui e escutei tudo da minha janela do fundo. Mas isso nem nos choca tanto assim, porque virou rotina, infelizmente”, disse uma moradora, cuja casa fica entre uma padaria e um mercadinho, ambos fechados. 

A reportagem encontrou dois senhores que conversavam no momento sobre a violência em Valéria. “A situação está barril! Isso não era assim. Cheguei aqui há 40 anos, quando isso aqui tudo era roça, quando a gente dormia de porta aberta. Hoje, a gente corre o risco de ser morto dentro da própria casa por essas balas perdidas, que de perdidas não têm nada, sempre encontram inocentes”, disse um deles.  

Enquanto os dois senhores conversavam, outras pessoas caminhavam aproximadamente 2,5 km. Isso porque os ônibus deixaram de entrar em Nova Brasília de Valéria. A linha que liga a região à Estação Pirajá foi suspensa devido ao tiroteio desta manhã. Os passageiros desciam na localidade conhecida como rotatória de Valéria – entrada da Rua Penacho Verde – e seguiam a pé. 

“Isso é ruim pra a gente porque tem que andar isso tudo debaixo desse sol. Fui levar minha filha na UPA de Valéria e estou voltando para casa com ela, que está com dores no corpo. Vou ter que subir e descer uma ladeirinha com ela nos braços porque não tem ônibus”, disse a mãe com a menina de quatro anos no colo.

Madrugada de terror O clima de tensão e medo tem sido frequente no bairro, desde a semana passada. Os ônibus chegaram a parar de circular em Nova Brasília de Valéria, devido aos tiroteios.

Os moradores do bairro viveram uma madrugada de terror durante o confronto entre as facções Katiara e o Bonde do Maluco (BDM). O tiroteio iniciou por volta das 3h desta segunda-feira (16) e durou pouco mais de duas horas. “Ninguém conseguiu dormir. Parecia até o Rio de Janeiro”, disse uma moradora de Valéria. 

As balas de fuzis, metralhadoras, escopetas, pistolas e revólveres encontraram casas, carros e até o portão de uma escola estadual que, por conta disso, teve suspensas as aulas presenciais. Ainda durante o confronto, bandidos cortam os cabos de rede, deixando parte da região sem acesso à internet. Até o momento, não há informações de mortos e feridos. 

O medo dos moradores de Valéria é pauta constante dos noticiários de Salvador. Em março deste ano, o CORREIO mostrou a situação de moradores que abandonaram suas casas crivadas de balas na Rua Penacho Verde, área dominada pela Katiara.