Traficantes ligados a facção são transferidos de Feira para Serrinha

São cerca de 50 presos que alegaram 'inadequação' e 'risco de morte'

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  • Bruno Wendel

Publicado em 26 de outubro de 2018 às 21:51

- Atualizado há um ano

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Cerca de 50 presos que fazem parte de uma facção criminosa estão sendo transferidos do Conjunto Penal de Feira de Santana, no Centro Norte do estado, para o Conjunto Penal de Serrinha, unidade de segurança máxima que fica a cerca de 70 km de distância. A transferência começou desde o meio-dia dessa quinta-feira (25) e continuava desde a manhã desta sexta (26).

O diretor da unidade, capitão Allan Araújo, confirmou a transferência. “São internos que não estão se adequando à unidade. São provisórios e sentenciados. Eles estavam convivendo em pavilhões com outros regimes penais e se recusam a ir para outros pavilhões alegando risco de morte”, declarou o capitão ao CORREIO, que não confirmou a quantidade de presos transferidos.

Ao CORREIO, uma fonte do Sindicato dos Agentes Penitenciários da Bahia confirmou a quantidade de presos que estão mudando de penitenciária. Além disso, explicou que os detentos alegaram dificuldade para a convivência em outros pavilhões após o cumprimento do TAC sobre a separação dos presos por regime. O representante da categoria explicou que nenhum dos transferidos é uma liderança entre os criminosos. "Nenhum comandante de alta patente do crime organizado, seja general ou coronel, mas, sim, uma parcela dos soldados encurralados pelo comando das diversas facções que atuam no território desta unidade prisional de Feira", explicou a fonte.

Entre os presos transferidos, que assinaram um termo de compromisso alegando que não podem conviver em nenhum pavilhão do conjunto penal feirense, estão Wellington Silva Gonçalves, vulgo Batata; Jonas Carlos Pinheiro dos Santos, o Cucão; Ulisses Silva Dias, o Lissinho; Davi Rios de Oliveira, o Davi Gordo; Laedson Gomes de Lima, o Risadinha ou Lai; Fabrício da Silva dos Santos; Iago de Jesus dos Santos; e Kleidson de Almeida Costa, o Keu. 

Nenhum deles revela a facção à qual pertence e alegam neutralidade. Mas, de acordo com fontes ligadas à Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), um dos pavilhões é todo composto por integrantes da facção Bonde do Maluco (BDM).

Procurado pelo CORREIO, o juiz da Vara de Execuções Penais, Waldir Viana Ribeiro Júnior, disse que oficialmente não foi comunicado, mas que ficou sabendo das transferências, e que os presos encaminhados para Serrinha são traficantes ligados à facção criminosa.

“Conforme a Lei de Execuções Penais, fica sujeito à transferência o preso que tenha fundada suspeita de envolvimento com organização criminosa. Então, por que existe a recusa? Por que o risco de morte? Só pode ser disputa de facções”, declarou o juiz, que no último dia 20, quando realizou nova inspeção, encontrou presos de regimes diferentes custodiados em um mesmo espaço no Conjunto Penal de Feira.

A mistura de regimes entre os detentos da unidade fez com que a Justiça determinasse o cumprimento da Súmula Vinculante 56 do Supremo Tribunal Federal (STF), que estabelece que não podem ser mantidos no mesmo ambiente detentos com regimes de custódia diferenciados. Depois dessa decisão do juiz Waldir Júnior, mais de 200 presos já foram mandados para casa, em prisão domiciliar.