Ufba afasta vigilante que atirou em aluno e afirma que segurança será revista

Segurança atirou contra aluno e fugiu. Jovem foi atingido no ombro, e precisará passar por cirurgia

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  • Edvan Lessa

Publicado em 12 de setembro de 2014 às 06:53

- Atualizado há um ano

Tiros disparados próximo ao prédio da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), por volta das 11h30 da quinta-feira (11), provocaram correria entre estudantes e funcionários. Os disparos foram realizados pelo segurança Reinaldo Conceição, que atirou contra o estudante de Ciências Sociais Daniel Sodré Benício Balthazar da Silveira, 28 anos, que pichava um muro do Laboratório de Estruturas S. P. Timoshenko. Foto do estudante baleado foi compartilhada nas redes sociais(Foto: Reprodução/Facebook)O jovem chegou a correr dos disparos, mas acabou baleado no ombro. Reinaldo é funcionário do Grupo MAP, empresa terceirizada responsável pela segurança da universidade.

Após a ação, ele entregou a arma na recepção da universidade e fugiu. 

O estudante, que cursa o 1º semestre de Ciências Sociais, foi socorrido ao Hospital Geral do Estado (HGE) por outros agentes de segurança, em um carro da MAP. 

O jovem passou por radiografias para avaliar uma suposta fratura na escápula, mas não corre risco de morte. Segundo boletim médico, a bala está alojada no ombro direito e ele precisará passar por cirurgia.

Até ontem à noite, a família aguardava transferi-lo a um hospital particular. 

Ação

A pichação de Ricardo no muro diz: “Deus = Você + Universo”. Uma estudante de mestrado que estava no laboratório, mas que não quis se identificar, disse que um amigo foi abordado pela vítima. “Ele dizia que tinha levado um tiro e precisava de médico”, lembrou.

Após ser socorrido, no HGE, Daniel disse à mãe que pichou a parede e, ao ouvir os tiros disparados pelo segurança, correu. “Ele disse que foi aí que viu que já tinha sido atingido”, disse ela. Ainda segundo a mãe do rapaz, Reinaldo segurou o filho após ter atirado contra ele. “Não sei se era para que ele não fugisse, mas meu filho diz que ele o segurou”, disse ela, que não se identificou. Pichação realizada por estudante em muro faz referência a unificação com o universo. Ao ouvir os tiros, jovem tentou correr, mas parou no fim da escada, onde aguardou atendimento(Foto: Almiro Lopes)De acordo com a assessoria da Ufba, antes de fugir Reinaldo relatou que o estudante teria sido advertido, mas continuou andando. Ainda de acordo com a assessoria, o segurança teria relatado que foi atrás do jovem, deu um tiro para cima e, ao guardar a arma, ela disparou.

Na ocorrência registrada no HGE, os seguranças que levaram o rapaz relataram que os tiros foram realizados após a pichação. Uma foto que circulou no grupo da Ufba no Facebook mostra Daniel sentado nos pés da escadaria da Politécnica, que liga o campus da Federação ao de Ondina, com a camisa suja de sangue.Não há orientação para utilizar arma de fogo dentro da universidade. A segurança é patrimonial e não para interpelar as pessoas Paulo Miguez, vice-reitor da UfbaAlgumas testemunhas contaram que os disparos aconteceram quando o estudante já estava na escada. Próximo à faixa de pedestres, já em Ondina, uma pequena mancha de sangue foi isolada por cones.

Investigação

Como a área da universidade pertence à União, a investigação do caso fica a cargo da Polícia Federal (PF), que realizou uma inspeção na área próxima à Politécnica após o crime. O CORREIO procurou a assessoria do órgão durante toda a tarde, mas não conseguiu contato.

No entanto, segundo um agente da PF que estava no HGE, Reinaldo foi autuado por tentativa de homicídio, e chegou a entrar em contato com a Polícia Federal, mas até que se apresente, é considerado foragido.

Ainda segundo o agente, a bala que atingiu o estudante é uma 38mm, e a arma utilizada para disparar o projétil já foi recolhida para perícia. Amigos do calouro visitaram o rapaz no HGE. “Eu o conheço desde antes da faculdade e ele é uma pessoa politizada”, comentou um deles, sem querer se identificar. Nenhum familiar ou pessoa próxima soube explicar o significado da pichação. “Eu nem sabia que ele pichava”, afirmou um amigo de Daniel.Assistência

O vice-reitor da Ufba, Paulo Miguez, e a pró-reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil, Cássia Maciel, ambos recém-empossados, prestaram apoio ao estudante e à família. Ambos ficaram no HGE para acompanhar a situação do estudante, que também foi acompanhado pelo vice-diretor da Escola Politécnica, Geraldo Queiroz.O segurança foi autuado por tentativa de homicídio, de acordo com um agente da Polícia Federal, mas está foragidoMiguez lamentou o ocorrido. “Não há orientação para utilizar arma de fogo dentro da universidade. A segurança é patrimonial e não para interpelar as pessoas”, afirmou. Ao ser questionado sobre a política adotada pela universidade para lidar com a pichação, o vice-reitor disse que a Ufba não possui nenhum regulamento que reprima ou incentive a prática. “O novo reitorado irá se debruçar sobre isso”, garantiu.

A pró-reitora, Cássia Maciel, disse que o atual sistema de segurança armada deve ser revisto. “Está claro que ele (o segurança) não recebeu a capacitação necessária para atuar”, disse. Segundo ela, já que os guardas atuam diretamente no contato com os estudantes, é preciso instrução para que não reproduzam preconceitos ou olhares que estigmatizem formas de expressão desse tipo.

Universidade afasta vigilante após disparo contra aluno

A Ufba vai notificar o Grupo MAP, empresa contratada para fazer o serviço de segurança, e afastará o vigilante Reinaldo Conceição, acusado de disparar contra o estudante Daniel da Silveira, 28 anos, que pichava um muro da Escola Politécnica.

O Grupo MAP foi procurado pelo CORREIO nesta quinta (11), mas preferiu não comentar sobre o caso. Por telefone, uma funcionária afirmou que a empresa está investigando o que ocorreu, mas que não se posicionaria ou prestaria informações.

O novo reitor da Ufba, o professor João Carlos Salles, que assumiu a gestão na última segunda-feira, vai rever a segurança dos campi. Ontem, a assessoria de comunicação da instituição informou que a nova gestão “tomará medidas para avaliar os processos de segurança e buscar a requalificação dos profissionais”.

De acordo com a assessoria, atualmente, a segurança da universidade é feita por cerca de 700 profissionais, entre vigilantes e agentes de portaria. Por conta da atenção à saúde do estudante baleado, ontem, a instituição informou não poder levantar com precisão quantos seguranças com porte de armas circulam dentro do campus, mas garantiu que se trata de um número minoritário, que é distribuído na vigilância de locais desertos e nas rondas realizadas pela noite.

Em entrevista ao CORREIO na semana passada, o novo reitor já mostrava disposição para reavaliar estrategicamente o que considera os altos custos com segurança. “Grande parte dos custeio é para a vigilância, (vamos) verificar outras formas de tratar essa questão de segurança”, afirmou, ao pontuar o tema como um dos desafios do seu mandato.