Vagas de estágio vão crescer 10% até março

Exigências e número de vagas aumentam nesta época do ano, veja dicas para garantir sua oportunidade

Publicado em 24 de dezembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

O Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) estima que no primeiro trimestre de 2019 haverá um acréscimo de 10% no número de vagas de estágio oferecidas em comparação aos 710 postos que surgiram no primeiro trimestre deste ano. 

A entidade considera os três primeiros meses do ano a melhor época para os estudantes conseguirem um contrato.  E o perfil dos selecionados está mudando. Cada  vez mais as empresas procuram por jovens que chegam dispostos a oferecer soluções e não se contentem em serem apenas meros aprendizes.

“As empresas começam a se interessar mais com o fator comportamental dos estagiários do que com o currículo”, afirma Alessandro Salvatore, gerente regional do Nordeste do CIEE.  Iniciativa, facilidade de trabalhar em grupo e capacidade de apresentar resultados quando se está sob pressão formam as características mais valorizadas por  recrutadores que passaram a enxergar o estagiário como alguém que deve ter voz ativa nas organizações.

Talentos

“As empresas precisam ter mais conexão com os programas acadêmicos”, avalia Luiz França, diretor de relações empresariais da ABRH-BA e diretor de RH e TI da Kordsa para a América do Sul. Ele avalia que é um grande erro manter estagiários fazendo atividades burocráticas.

“Precisamos inseri-los no processo e aproveitar os seus talentos”, defende França, cuja empresa em que trabalha levou este ano o Prêmio IEL de Estágio. A mudança no perfil dos estagiários é atestada pela gerente de Desenvolvimento de Carreiras do IEL, Edneide Lima, que vê aumentar o foco em seleções diferenciadas, com jogos, desafios e treinamentos nos quais os estudantes são avaliados pela capacidade de interagir, liderar e tomar iniciativas, uma vez que o conhecimento pode ser adquirido depois, dentro da própria  empresa. E quem mostra nessas atividades uma atitude empreendedora leva ainda mais vantagens.

“Isso não quer dizer que os estudantes que não se encaixam nesse perfil não conseguirão estágios. Mas para algumas vagas específicas, o comportamento é um diferencial”, explica Edneide. Ela mesmo está preparando para janeiro uma seleção de estagiários para uma multinacional instalada em Camaçari  que busca um esudante com espírito inovador.

Competitividade

“Em um momento altamente competitivo, as organizações precisam estar completamente conectadas às inovações, precisam se reinventar e mudar os seus mindsets. Para tanto, a contribuição dos jovens é imprescindível”, afirma Wagner Sanchez, diretor acadêmico de graduação da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap).

Em setembro deste ano, ele esteve em Salvador para fazer uma palestra a gerentes de RH, recrutadores e representantes de universidades, quando falou da experiência de alunos da Fiap que se transformaram em estagiários empreendedores.  

Para Sanchez, a vantagem dos estudantes de hoje em relação a profissionais de outras gerações é que eles não têm travas. “Os estagiários podem contribuir para uma rápida oxigenação dos departamentos e das empresas com um todo. Estas novas gerações possuem sinapses diferentes das gerações mais antigas e podem contribuir com insigths inovadores, trazendo diferenciais competitivos para as empresas”, acredita. 

O diretor acadêmico avalia que as empresas devem investir em seus programas de estágios por ser um “um ganha-ganha”, referindo-se ao modelo da Teoria dos Jogos, ramo da Matemática Aplicada. “De uma lado os estudantes podem aprender na prática com desafios reais. Já as empresas podem receber insigths para sua tão sonhada transformação digital e ganhar competitividade”, argumenta.

Sanchez afirma ainda que  basta vontade, disponibilização de investimentos compatíveis e uma boa causa para que as empresas consigam atrair estes talentos para os seus quadros.

Por fim, ele defende que a mão de obra jovem  é a mais adequada para a quarta revolução industrial, que está digitalizando e integrando  através da informática plantas inteiras de unidades fabris, um novo modelo de negócio e uma demanda de mão de obra cada vez mais qualificada e conectada com as novas tecnologias. 

“A quarta revolução industrial  propõe novos modelos de empresas pautadas na conectividade e mobilidade das pessoas, as empresas são obrigadas - principalmente as instituições de ensino- a buscar soluções que tragam valores e façam com que elas se tornem mais sólidas e competitivas perante mudanças e inovações que a sobrevivência no mercado exige”, afirma. 

Chances

Um levantamento feito pelo CIEE aponta que os universitários têm ao menos 25% mais chances de conquistar uma vaga no 1º trimestre do ano. O motivo é que nos três meses iniciais do ano é realizada a reposição de contratos que encerraram devido ao tempo de vigência ou porque o estudante encerrou o curso de graduação. Um segundo pico de contratações ocorre nos meses de julho e agosto, também em função da reposição de contratos com os estudantes que iniciaram o curso no meio ano.

A pesquisa apontou que a partir do 4º semestre, metade da graduação para a maioria dos cursos, as chances de ser contratado são de 18,03% e,  no 6º,   de 19,52%.

Relato/ Wesley Victor

Sou estudante de Engenharia Elétrica da Unifacs e estou na Kordsa há um ano e meio como estagiário. Sempre tive vontade de propor projetos, mas no início fiquei na minha, observando as pessoas. Percebi que havia abertura para que os estagiários fossem ouvidos e comecei a fazer sugestões. Por mais louca que pareça a ideia, os diretores nunca dizem: esqueça! Eles falam para a gente fazer um estudo de viabilidade e apresentar. Há quatro meses, mostrei um projeto para melhorar a eficiência  energética dos motores da fábrica. Fiz um estudo de viabilidade e desenvolvi um modelo que permite a economia de R$ 40 mil anuais com energia. O projeto se paga em menos de dois anos. E se os antigos motores da empresa forem vendidos, ela ainda pode conseguir outros R$ 40 mil com o negócio. Esse projeto foi vencedor do Prêmio IEl de Estágio, em agosto deste ano. Também desenvolvi um outro projeto de melhoria de eficiência energética, relacionado a transformadores de potência, que vai concorrer no ano que vem no Kordsa Improvement Teams, na sede mundial da empresa, na Turquia. E tenho ainda na gaveta um projeto de aproveitamento de energia solar para o prédio administrativo da empresa em Camaçari, mas essa ideia  ainda vai ser avaliada pela direção da  empresa.

Dicas para aproveitar a oportunidade

Iniciativa Uma das características mais apreciadas pelos recrutadores é a capacidade de tomar as rédeas para fazer uma proposta. Enquanto a tendência é que a maioria dos estudantes fique estudando os movimentos evitando se expor, quem se apresenta ganha pontos. Mas a ideia não é aparecer por aparecer. O estudante precisa mostrar que sua presença e  intervenções são úteis para a empresa. Se não for o seu caso, não é o fim do mundo. Você pode não ter o perfil para aquela vaga, mas pode buscar uma colocação que se adeque ao seu modo de pensar e agir.  

Trabalho em equipe  As empresas não querem um geniozinho birrento que pense em conduzir tudo sozinho. Por mais talentoso que o estudante seja, precisa ter em mente que vai trabalhar com outras pessoas e que, quanto maior for a sua capacidade de integração com os colegas, maiores são as chances de sucesso. 

Rotatividade Grandes empresas  estão investindo em departamentos de inovação, que possuem em sua  maioria  a força intelectual de criação baseada em estagiários. A  realidade é que a rotatividade é muito grande, mas  cada contratação pode significar um novo talento que, eventualmente, pode ser aproveitado como funcionário. Se no antigo estágio a noção de sucesso muitas vezes estava ligada à possibilidade de cumprir o contrato até o final, agora os estudantes com perfil inovador têm a vantagem de poder prospectar outras possibilidades de trabalho. Especialistas em RH apontam que a relação entre estagiário e empresa está baseada na ideia de que o contrato tem que ser vantajoso para ambos.   

Feedbacks Uma vez contratado, procure seus superiores para que avaliem periodicamente como está indo a sua performance. Isso pode ser feito de forma descontraída durante um bate-papo no cafezinho ou, se estiver muito ansioso, quando perceber que a sua liderança está sozinha e aparenta não estar fazendo algo urgente.  Não precisa fazer um interrogatório tenso. O objetivo é só ter uma avaliação sincera do que está indo bem e do que precisa ser melhorado. 

Vestimentas Procure usar roupas condizentes com a realidade da empresa. Em um ambiente profissional, as vestimentas devem seguir mais o modelo de negócio envolvido do que a faixa etária dos empregados. Bonés e camisetas coloridas são convenientes para empresas da economia criativa, mas se o trabalho for no setor de TI de um banco é mais importante parecer um bancário do que um TI developer. 

Pontualidade Os diretores podem adorar sua criatividade, mas se os trabalhos maravilhosos ficarem prontos depois do prazo não vão ser muito úteis. Chegue às reuniões na hora marcada e cumpra as tarefas que receber. 

Tenha paciência Se você tem que cumprir prazos, também precisa entender que as coisas nem sempre vão acontecer do jeito e na hora que você deseja. Caso outros colegas atrasem as suas tarefas, o importante é ter a consciência tranquila de que a sua parte foi feita e a noção de que você, ainda, não é um chefe. 

Seja proativo Se perceber que uma nova tecnologia disponível no mercado pode melhorar a rotina da empresa, explique aos seus chefes a importância da ferramenta. Evite falar de forma que pareça arrogante ou  que sugira que os seus superiores são antiquados. Apenas dê uma informação que possa ser útil à organização. 

  Seja gentil A diferença geracional em uma empresa pode provocar, às vezes, um certo mal-estar. Procure entender que colegas de trabalho mais velhos vêm de outra rea- lidade e não menospreze suas atitudes. São grandes as chances de que um tenha coisas a aprender com o outro. E lembre que, em caso de haver  vários jovens talentos, o que for mais simpático tem mais chances de ser o primeiro a conseguir uma efetivação.