Vale soube de problemas com sensores de Brumadinho dois dias antes de rompimento

Engenheiro que assinou laudo de estabilidade diz que se sentiu pressionado

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  • Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 16:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: AFP

A Vale identificou problemas nos dados de sensores responsáveis por monitorar a barragem de Brumadinho dois dias antes da tragédia que deixou, até agora, 150 mortos - ainda há 182 desaparecidos. A informação é da TV Globo, que teve acesso a depoimentos que tratam de uma troca de e-mails entre profissionais da Vale e duas empresas ligadas à segurança da barragem.

A Polícia Federal identificou os e-mails. Dois engenheiros da empresa alemã TÜV SÜD, André Jum Yassuda e Makoto Namba, responsáveis pelos laudos de estabilidade da barragem, foram ouvidos. Os advogados dos dois preferiram não comentar o caso por enquanto. Ambos foram presos na semana passada, mas tiveram a liberação ordenada na terça-feira pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A TÜV SÜD disse que não comentaria o assunto por estar sob sigilo.

Os e-mails começaram a ser trocados no dia 23 de janeiro, às 14h38, e seguem até às 15h05 do dia seguinte. A barragem se rompeu no dia 25. Estão incluídos funcionários da VAle, da TÜV SÜD e da Tec Wise, outra empresa contratada da Vale. Os depoimentos não trazem detalhes, mas o delegado diz nas perguntas que o assunto das mensagens "diz respeito a dados discrepantes obtidos através da leitura dos instrumentos automatizados (piezômetros) no dia 10/01/2019, instalados na barragem B1 do CCF, bem como acerca do não funcionamento de 5 (cinco) piezômetros automatizados".

O engenheiro diz que só ficou sabendo das alterações dos dados fornecidos pelos sensores depois que a barragem se rompeu. Depois de ler as mensagens, um dos questionados perguntou a Namba o que ele faria se, de posse daquela informação, tivesse um filho que trabalhasse no local da barragem. Namba disse que "após a confirmação das leituras, ligaria imediatamente para seu filho para que evacuasse do local bem como que ligaria para o setor de emergência da Vale responsável pelo acionamento do PAEBM (Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração) para as providências cabíveis".

Pressão O engenheiro Namba disse ainda no depoimento que se sentiu pressionado pela Vale. Ele conta que fez uma reunião com funcionário da empresa sobre seu laudo de estabilidade. Ele disse que um funcionário chamado Alexandre Campanha quis saber se "a TÜV SÜD vai assinar ou não a declaração de estabilidade?". Ele respondeu que a empresa o faria se a Vale seguisse as recomendações feitas na revisão de junho do ano passado - mas mesmo assim, assinou o documento.

"Apesar de ter dado esta resposta para Alexandre Campanha, o declarante sentiu a frase proferida pelo mesmo e descrita neste termo como uma maneira de pressionar o declarante e a TÜV SÜD a assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato”, diz o depoimento.