Veja onde (re)aprender a dançar forró com o retorno das Festas Juninas

A dois meses do São João, listamos oito cursos de aulas de dança para manter o arasta-pé em dia

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  • Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2022 às 16:00

. Crédito: Igor Carvalho/Divulgação

O governo liberou, a fogueira vai esquentar e chegou a hora de tirar o pó das juntas. Com os festejos juninos confirmados em 2022, após dois anos, muitas prefeituras já anunciaram datas e atrações de peso, para atrair o maior público possível.

E quem quer fazer bonito nesse retorno, já está se preparando: a procura por aulas de forró e suas variantes (embora esse nome variante ainda cause calafrios) está enorme, com algumas escolas de forró já tendo que fazer até lista de espera. 

Mas onde vai dar para mostrar que o arrasta-pé está em dia?  Em Salvador, a festança acontece de 23 de junho a 2 de julho, com nomes como Juliette, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Estakazero, Targino Gondim, Solange Almeida, Thiago Aquino e Saia Rodada. O Forró do Lago, em Santo Antônio de Jesus, quer retomar a glória de eventos passados (Foto: Fábio Cunha/Divulgação) Cruz das Almas, no Recôncavo, contará com shows de Wesley Safadão, Adelmário Coelho e Tayrone. Santo Antônio de Jesus, também no Recôncavo, não deu detalhes, mas afirmou que esse ano ninguém passa vontade.

Em Irecê, centro-norte do estado, serão cinco dias de festa: 22 a 26 de junho. Jequié, na região sudoeste, terá 13 dias de celebração. Em Mata de São João, no Litoral Norte, Xand, Limão com Mel e Dorgival Dantas estão entre as atrações.

Localizada no centro-sul, Amargosa já garantiu que contará com 'a maior estrutura de todos os tempos', e apresentações de João Gomes, Flávio José, Calcinha Preta e Tierry. Sem contar as festas particulares que serão realizadas por toda a Bahia. Vai ser forró pesado!

Aumento da demanda

Em Salvador, faltando dois meses para o São João, aumentou a procura por aulas de forró. A designer Jovita Bahia, 35 anos, quer melhorar sua performance: "Iniciei há pouco tempo as aulas, assim que começamos a retornar os encontros presenciais. Porém, ainda com as medidas de segurança”, ressalta.

Desde 2020, Fábio Barreiros, 41, faz curso de forró on-line. Só em janeiro deste ano, o consultor de tecnologia também se sentiu seguro para fazer as aulas presenciais. “O forró é uma atividade física deliciosa, uma excelente maneira de conhecer pessoas novas. Não largo nunca mais”, empolga-se.

A analista de sistemas Carmem Andrade decidiu que, com o fim do casamento, era hora de retomar algumas atividades que lhe davam prazer. Dançar forró era uma delas. Depois de dois anos de pandemia, ela, finalmente, planeja seu São João: Carmem Andrade está treinando para fazer bonito no arrasta-pé da Chapada (Foto: Acervo Pessoal) “Vou para Mucugê. Minha expectativa é curtir um forrozinho tradicional e ainda aproveitar as trilhas e cachoeiras”, conta. São novos passos rumo ao recomeço. 

O forró e as variações da dança

Forró-pé-de-serra - Forró tradicional, executado por trios instrumentais, com acordeon, zabumba e triângulo. Assim nomeado por conta da relação do Rei do Baião, o pernambucano, cantor, compositor e sanfoneiro, Luiz Gonzaga, com as serras da cidade de Exú, onde nasceu. Sua configuração musical se baseia no cotidiano da vida nordestina e é usada para indicar estéticas musicais originárias desta matriz/motriz, como o baião, xote e demais ritmos/danças, inspiradas na cultura afro-indígena brasileira;

Xote - Ritmo musical mais lento que o baião, promovendo, assim uma dança de característica mais arrastada, controlada, valorizando movimentações pareadas, onde as duplas participantes executam dois passos para determinada direção (lado, frente e trás) e para outra, mantendo o contato corporal de forma harmônica;

Baião - Assim como no xote, a dança se desenvolve  em duplas e o pulso musical é marcado por movimentos de características mais rápidas, saltitantes, apresentando variações como o balanceio, o rodopio, o passo de calcanhar e possíveis desdobramentos. A umbigada, em algumas localidades nordestinas, também se aparece, quando acontece, na troca de uma pessoa por outra;

Xaxado - Difundida, principalmente, como uma dança de guerra e entretenimento pelos cangaceiros do bando de Lampião. Foi disseminada por vários grupos do cangaço do sertão nordestino, sendo genuinamente masculina. A espingarda era feita de par. Após a entrada de Maria Bonita e outras mulheres no bando, este formato passou a ser realizado também aos pares, com passos arrastados, num veloz sapateado, incrementado pelo uso das alpercatas de couro, que imprimem o ritmo da dança;

Forró estilizado (universitário e piseiro) - Ambos fazem parte do movimento musical do forró eletrônico, iniciado nos anos 90. Trazem esta nomenclatura para gerar diferenciação do forró tradicional, dialogando com as emergências do mercado musical, a partir de seus agenciadores e da mídia de rádio e televisão, sem perdermos de vista o advento da difusão da vaquejada. Tanto o forró universitário quanto o piseiro (descendente da pisadinha, surgida na cidade de Monte Santo, interior da Bahia, no início dos anos 2000) desenvolvem as suas danças a partir da elaboração de danças com a influência do funk e do pagode, sem a necessidade de se expressarem em pares, na relação corpo a corpo.

Fonte: Marilza Oliveira, artivista, artista da dança, pesquisadora das danças afrorreferenciadas, professora da escola de dança da UFBA e curadora

Quem oferece e onde fazer aulas de forró em Salvador: Cabrueira, escola de forró fundada em 2005 (Foto: Divulgação) - Danado de bom: Uma das mais tradicionais escolas de forró de Salvador, a Cabrueira foi fundada em 2005 pelo professor Edj Braga, 42, que já levou aulas do ritmo essencialmente nordestino para França, Alemanha, Suíça, Bélgica e Canadá. Por aqui, nos últimos meses, ele conta que o número de alunos chegou a crescer 70%. Professor há 20 anos, Edj acredita que essa busca tem a ver não apenas com a saudade dos festejos juninos, mas também com a saúde mental, tão fragilizada na pandemia: "Diante de tantas coisas, a necessidade de cuidar do corpo e da alma é maior. O aprender a dançar acaba sendo uma consequência”, avalia. Além de aulas de forró durante todo o ano, a Cabrueira realiza excursões para o interior da Bahia no São João. Em 2022, a viagem é para Mucugê, na Chapada Diamantina. Contato @cabrueiraoficial. Alberto Marinho, professor de forró surdo, faz o sinal para dança em Libras (Foto: Divulgação) - Cabra da peste: A Cabrueira, aliás, foi a primeira escola de dança do Brasil a ter um professor surdo ensinando forró a alunos também surdos. Alberto Marinho, de 25 anos, perdeu a audição ainda criança, por conta da rubéola. Hoje, conduz cerca de 10 alunos pelo maravilhoso mundo do forró, na unidade do Clube 2004, em Jardim Armação. Para ele, não ouvir não o limita: “A música não precisa ser ouvida, mas sentida. Danço através da vibração do som. Não ouvir a música não me prejudica, afinal a realidade que eu conheço é que a dança é para todos. O forró é muito intuitivo, os passos são dados através da técnica e do meu amor pela arte”, afirma. Contato @cabrueiraoficial. Géssica Barreto (de jardineira jeans) dá aula de forró para mulheres (Foto: Adriano Vaz/Divulgação) - O xote das meninas: Com aulas voltadas para todos os gêneros , mas com uma predominância feminina, Géssica Barreto, 27, notou uma procura maior nas aulas, de fevereiro para cá: “Cerca de 100% e acredito que vai aumentar ainda mais. Estou com quatro turmas no momento e mais duas com lista de interesse”. A professora e pesquisadora de forró ensina a dança através de um olhar feminista e contemporâneo, trabalhando autoconhecimento e criatividade. “A gente questiona o jeito tradicional de dançar, onde só o homem conduz e a mulher é conduzida. Vamos tentando quebrar um pouco essas regras e aprendendo a dançar de forma mais livre. Dá pra dançar forró sozinha, trazendo movimentos da dança a dois para a dança solo e, de quebra, trabalhar nossa criatividade, consciência corporal, nossa confiança”, diz. “E ainda é possível conduzir o parceiro”, avisa ela, que também atende homens: “Todos são muito bem-vindos, bem-vindas e bem-vindes”. Contato @gessicabarreto

- Facilita: Professor de forró há 14 anos, Igor Carvalho, 32, garante que, mesmo faltando apenas dois meses para o São João, é possível aprender a dançar: “Começando devagarinho e com dedicação se consegue tudo. Importante também não desistir nos primeiros erros. Nem todo mundo aprende no mesmo ritmo e as pessoas precisam entender isso”, ressalta. Responsável pela escola de dança Forró 4º Andar, ele acredita que saber dançar forró facilita a paquera: “O clima do São João, somado com uma dança coladinha, melhoram tudo”. Contato @forro.4andar

- Baião granfino: Professor de diversos ritmos, Marcos Affonso, 42, oferece o curso ‘Musicalidade no Forró’. “A ideia é fazer com que os alunos desenvolvam a capacidade de aproveitar, corporalmente, as nuances musicais, não apenas a base rítmica da música, mas explorar características como breques, notas mais prolongadas, contratempos, síncopas. É conscientizar os alunos dessas possibilidades musicais e oferecer ferramentas corporais de dança”, ressalta. Em 2018, Affonso viajou para a Europa e levou os passos do forró a diversos países. Em Roma, na Itália, deu aulas para ninguém menos do que o físico Giorgio Parisi, que, no ano passado, recebeu o Prêmio Nobel de Física. Contato @marcosaffonsodanca

- A dança da moda: Flávio Moitinho, 45, do Forró Internautas, identificou um aumento de cerca de 75% na procura por suas aulas: “Principalmente por parte das mulheres, pois os homens são mais tímidos”, opina. Diferente da maioria dos professores de forró, que procuram ensinar os passos do forró pé-de-serra, Flávio dá aulas do chamado ‘forró estilizado’. “É um forró mais moderno, apresentado por artistas como Wesley Safadão, Zé Vaqueiro, Jonas Esticado, junto com o piseiro”, avisa. Contato @forrointernautas

- Alegria pé de serra: Já a Escola Forrozeando, fundada em 2001, preza por ensinar os passos do forró tradicional. "Nossa missão é a valorização do forró pé-de-serra, do legado de Luiz Gonzaga, através da dança. Fomos a primeira escola desse estilo em Salvador”, garante Helber Crisnan, 38, que, antes da pandemia dava aulas de forró na Espanha. “Tive que voltar ao Brasil e montar outro negócio no período pandêmico”, relembra. Em outubro do ano passado, ele reabriu a escola e retomou as aulas. Em dezembro, com o alerta de uma nova variante, houve uma redução no número de alunos. Em fevereiro deste ano, a busca voltou a aumentar. “Aos poucos, vamos voltando à normalidade e as aulas de dança entram nesse contexto, com uma relevância para o bem-estar e saúde mental de muitas pessoas”. Contato  @forrozeando

- Forró de cabo a rabo: O calendário de festas de forró não se limita ao período junino. Durante o ano todo, é possível treinar e colocar em prática tudo o que se aprendeu nas aulas. É o que garante a DJ Preta Barros, 33, idealizadora do ForroSound, coletivo de música nordestina que conta, ainda, com o DJ Terra Nova e DJ Negrão. “Nosso objetivo é levar forró para as pessoas o ano todo, em todos os lugares”, destaca ela. Preta comanda eventos de forró desde 2015, em espaços abertos, já tendo tocado na Ponta de Humaitá, Praia da Paciência e Largo da Mariquita. Com a pandemia, as festas tiveram que parar. Atualmente, o coletivo realiza apenas a ‘Particulino à Beira-Mar’, quinzenalmente, às sextas-feiras, 18h, na Komidaria (Rua Araújo Bastos, 03, Pituaçu). Quem quiser se inteirar sobre todos os eventos de forró que acontecem na cidade, basta seguir a @forrodesalvador, página no Instagram alimentada por Preta. Contatos  @djpreta @forrosound / @forrodesalvador