Verdades, mentiras e incertezas sobre a vacina contra a covid-19

Após 9 meses de pandemia, o esperado nascimento é cercado de fatos, fakes e dúvidas

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  • Jairo Costa Jr.

Publicado em 5 de dezembro de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Joel Saget/AFP

Com a pandemia prestes a completar nove meses, os últimos dias foram marcados pela forte expectativa em torno do parto mais aguardado do mundo. Pela primeira vez desde o início do turbilhão global provocado pelo novo coronavírus, a vacina contra a covid-19 tornou-se fato concreto em um cenário ainda marcado por fakes e dúvidas, especialmente, sobre quando e onde ela estará disponível para todos os países afetados duramente pela doença, caso do Brasil. 

Entre as verdades consolidadas, é certo que o Reino Unido se prepara para iniciar o processo de vacinação em massa a partir da próxima terça-feira. A informação foi confirmada na sexta pelo diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde do país, Chris Hopson, em entrevista concedida à rede britânica BBC. Lá, as doses iniciais serão aplicadas nos idoso abrigados em casas de repouso, bem como funcionários que atuam nesses estabelecimentos.

Em seguida, de acordo com o plano aprovado pelo governo do Reino Unido, vêm pessoas com mais de 80 anos e profissionais de saúde. O que, segundo projeções feitas pelas autoridades médicas inglesas, pode prevenir até 99% das internações e mortes nos hospitais voltados a pacientes com covid. A partir daí, começaria a distribuição gradual do restante das 40 milhões de doses encomendadas pelo país, suficiente para atender 20 milhões de cidadãos.

Isso porque a vacina escolhida pelo britânicos, fruto de uma parceria entre os laboratórios Pfizer e BioNTech, necessita de duas doses para imunizar cada pessoa. A eficiência de 95% na fase final dos testes e a rapidez com a qual o Reino Unido agiu acelerou o processo em diversos outros países. Lista que inclui Alemanha e Itália. Nos EUA, a Pfizer aguarda o aval dos órgãos reguladores, bem como a farmacêutica Moderna, cujo imunizante atingiu 94,5% de eficácia.

Certo também é que a Rússia já deu a largada na corrida com criação própria, a Sputnik V, uma das mais de dez vacinas que entraram no páreo para combater o vírus (veja lista das principais ao lado). No entanto, a comunidade médica internacional ainda se mantém muito reticente quanto à confiabilidade do imunizante russo, já que os estudos clínicos e os métodos de desenvolvimento sobre ele nunca foram publicados em periódicos científicos.

A União Europeia, que havia anunciado no último dia 26 a compra de 600 milhões de doses de vários fabricantes, solicitou aos 27 países-membros do bloco um plano de vacinação. Na parte menos desenvolvida do planeta, é possível movimento semelhante. Chile, Equador, Panamá, Costa Rica, Peru e México, por exemplo, fecharam acordo com a Pfizer.

Falso e duvidoso Em contrapartida, o nascimento da esperança contra a covid veio acompanhado de fake news. Entre os quais, que algumas vacinas serias capazes de alterar o DNA da pessoa ou que existe um plano de implantar microchips rastreáveis, capitaneado pelo fundador da Microsoft, Bill Gates. Há ainda teses "científicas" atestando que ser infectado garante imunidade mais segura do que a vacina. Todas difundidas nas redes sociais e aplicativos de mensagem.

No rol de incertezas, o Brasil ocupa espaço privilegiado. Uma das três nações com maior número de casos, junto aos EUA e à Índia, o país ainda não apresentou um plano concreto de vacinação. Meta de cobertura com cronograma definido, previsão para o início do processo e até o tipo de imunizante que será adquirido pelo Ministério da Saúde, ou se haverá mais de um, permanecem sem respostas claras, deixando a sensação de que os brasileiros ficarão por último na sala de parto da pandemia.

O que é ou não mito sobre o processo de imunização contra o novo coronavírus

A vacina só terá efeito em metade das pessoas Ainda é impossível prever a taxa, o que somente ocorrerá após a vacinação em massa. Porém, dificilmente ela terá mais de 80% em curto prazo, estimam os infectologistas

Imediato retorno à vida normal no país Como será impossível imunizar os 211 milhões de brasileiros em pouco tempo, as medidas de proteção individual e as regras de isolamento devem ser mantidas

Aprovação permite uso automático nas pessoas O aval dos órgãos reguladores é apenas o primeiro passo para o acesso da população à vacina. Isso se dará após a escolha do tipo e do processo de  distribuição

O vírus deixará de circular em pouco tempo A redução no fluxo do novo coronavírus dependerá no índice de cobertura, da rapidez da vacinação e da eficiência do imunizante na população

Alguns tipos podem modificar  o DNA humano Este é o maior dos mitos sobre a vacina contra a covid, difundida como fato real nas redes. Nenhuma delas tem poder de alterar o código genético do indivíduo

O teste final será com a população A avaliação e a análise dos efeitos a longo prazo são a prova final, que ocorre com a aplicação em massa. É a chamada fase IV dos testes ou estudo de vida real

Existe risco real de indução ao suicídio Trata-se de outro boato disseminado pelas redes sociais e aplicativos de mensagem, cujo teor atribuía a uma estratégia para assassinar cidadãos

Imunizantes em estágio mais avançado

Pfizer e BioNTech Batizada de BNT162, é uma das mais adiantadas. Já foi aporvada para uso no Reino Unido e está em vias de obter aval nos EUA. 

Moderna A mRNA-1273 também integra a lista das vacinas em grau avançado, com eficiência de 94,5% na fase III dos testes. 

Oxford  Desenvolvida em parceria com a AstraZeneca, é a principal aposta do governo brasileiro para a vacinação em massa no país.

Chinesa CoronaVac  Fruto de uma parceria entre a Sinovac e o Instituto Butantã, em São Paulo, é a grande opção do governo paulista.

Sputnik V  Produzida pela Rússia, já começou a ser aplicada no país, mas é vista com ressalvas pela comunidade científica internacional.