Vinte monumentos de Salvador terão código para descrição em smartphone

No Dia do Patrimônio Histórico Nacional, comemorado hoje, cinco monumentos do Centro Histórico já contarão com QR Codes - espécie de código de barras que pode ser lido através de aplicativos para celulares e tablets

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 17 de agosto de 2017 às 05:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO

Entre o Elevador Lacerda e o Mercado Modelo existe um monumento de sete metros de altura que talvez poucas pessoas deem atenção. É a estátua do Visconde de Cayru (1756-1835), economista e político, e um dos nomes envolvidos no movimento que levou à Independência do Brasil. De autoria do artista Pasquale de Chirico (1873-1943), a obra, feita em bronze e pedra calcária, é datada de 2 de julho de 1923. E aí, será que se você tivesse que explicar a história por trás dessa estátua para um amigo turista, você conseguiria?

A partir desta quinta-feira (17), data em que se comemora o Dia do Patrimônio Histórico Nacional, esse e outros quatro monumentos do Centro Histórico de Salvador contarão com QR Codes - uma espécie de código de barras que pode ser lido através de aplicativos para smartphones e tablets. Eles direcionarão para um conteúdo explicativo sobre cada um dos monumentos. A inovação tem nome: é o projeto #Reconectar, da Fundação Gregório de Mattos (FGM), que será lançado também nesta quinta e pretende contemplar, no total, 20 monumentos até o final do ano.

De acordo com o presidente da FGM, Fernando Guerreiro, a ideia é fazer com que as pessoas, principalmente os jovens, se aproximem mais da História de Salvador.“Nós temos que tirar os monumentos da invisibilidade e do vandalismo, e a tecnologia tem essa possibilidade de traduzir a identidade da cidade. É muito bom esse contato do velho e do novo, essa possibilidade de diálogo entre passado e presente”, avalia Guerreiro.Os primeiros Além da estátua do visconde, os outros quatro monumentos que receberão as primeiras plaquinhas com os códigos serão a estátua de Thomé de Souza, fundador da cidade e 1º governador-geral do Brasil; a estátua de Zumbi dos Palmares, ícone da resistência contra a escravidão; o busto do primeiro bispo do Brasil, Dom Pedro Fernandes Sardinha; e o monumento do poeta Castro Alves, na praça de mesmo nome.

Para ter acesso ao conteúdo, basta aproximar um celular ou tablet com um programa que lê esse tipo de código (há algumas opções de leitor de QR Code nas lojas de aplicativos, a maioria gratuita).

Ao apontar a câmera para o código, um link automaticamente se abrirá com acesso à ficha técnica, contendo dados e um resumo sobre o personagem ou evento retratado naquela obra. Pensando em alcançar ainda mais gente, a fundação disponibilizou os textos também em inglês e espanhol, além do português. “É tanto para nossa população quanto para os turistas”, conta Guerreiro. Visitante confere a história do poeta Castro Alves: são três opções de língua (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Já está nos planos da FGM a expansão do projeto, que pode até virar jogo. “Pode ser de perguntas e respostas, levando de um monumento a outro”, adianta. Segundo o presidente, outra expansão possível é que, futuramente, os QR Codes sejam instalados em casarões tombados e outros imóveis, como restaurantes antigos e famosos.

O conceito do projeto nasceu dentro da própria instituição, tendo como idealizador Bruno Machado, assessor de comunicação.“Eu recebi um amigo de Recife (PE) aqui e, passeando com ele, que é historiador, vi que eu não sabia explicar quase nada sobre os monumentos”, revela o idealizador.Já ligado no poder dos QR Codes, Bruno deu a ideia numa das reuniões da fundação. “É interativo, barato e eficiente”, defende. Tão simples que em menos de um mês saiu do papel para a realidade, já que a FGM possuía o conteúdo descritivo sobre as obras.

Apelo Conhecido por dar dicas de como aproveitar a cidade, o blogueiro Iuri Barreto, do Guia de Sobrevivência do Soteropobretano, tem expectativas mais moderadas quanto à adesão. "Não sei se vai ter tanto apelo. O pessoal vai usar para brincar, para ver se funciona, mas tudo é questão de costume", argumenta."Se for divulgado, com um guia, será um diferencial para o turismo de Salvador. Se vai ser usado, vai ter que ter um trabalho de marketing porque o QR Code é para o turista mais independente, que não usa guia turístico”, aponta Iuri.No lançamento, haverá dois passeios guiados pelo historiador Rafael Dantas, que fará uma contextualização sobre as obras, conectando-as. O itinerário tem saídas marcadas para as 10h e 15h, partindo da Praça Cayru.

Setor do turismo exalta iniciativa O projeto #Reconectar agradou ao trade turístico soteropolitano. Paulo Gaudenzi, da Salvador Destination, conta que essa proposta já é adotada em lugares como a região da Toscana, na Itália. “A gente precisa se conectar com o mundo cada vez mais e Salvador já nasceu para isso. Então, é importante para a experiência do turismo, que exige e participa de todas as atividades tecnológicas que vão surgindo. Essa ideia de colocar em outros idiomas, sobretudo o inglês, é interessante, porque universaliza nossa história”, afirmou Gaudenzi.

O presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA), Sílvio Pessoa, apoiou a ampliação do projeto e falou sobre a importância da adesão aos recursos tecnológicos. “Quem não aderir estará perdendo o bonde da história e não podemos mais dar desculpa para isso”, disse ele.

“Antigamente, a gente comprava passagens de avião com seis meses de antecedência. Hoje, compra-se online em segundos, olhando a previsão do tempo para até reagendar, se quiser. O mundo mudou”, ilustrou Sílvio.

A FGM, criadora da iniciativa, não divulgou ainda quais são os outros 15 monumentos que receberão o QR Code, além das primeiras estátuas do Centro Histórico. Prepostos da prefeitura instalam placa com o QR Code (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Obras restauradas este ano De acordo com a Diretoria de Patrimônio da FGM, quatro monumentos foram restaurados neste ano pela prefeitura de Salvador. O mais recente deles foi o medalhão de bronze em homenagem ao capoeirista Mestre Bimba, da artista Mercedes Kruchewsky, que fica localizado na praça do Quartel de Amaralina.

Outra obra recuperada foi o busto de Mãe Runhó, antiga ialorixá do Terreiro do Bogum, de nação Jeje, que fica na praça do final de linha do Engenho Velho da Federação. Com 1,70 m de altura, o busto é a única homenagem pública da cidade a uma sacerdotisa de matriz africana. A obra, de autoria de Félix Sampaio, fica ao lado de uma imagem de São Lázaro, que também foi restaurada. Além disso, também foi colocada uma iluminação especial e um gradil de proteção.

Os outros dois monumentos recuperados foram o busto do padre Manuel da Nóbrega, de autoria do italiano Pasquale de Chirico, em frente à Igreja da Ajuda, no Centro, e o busto de Imaculada Conceição, nos Mares.

Ao todo, a prefeitura monitora 175 monumentos, entre bustos, estátuas, mausoléus, efígies (representação de uma pessoa numa moeda, pintura ou escultura), entre outros.