Vítimas de João de Deus depõem em série do Globoplay

Criada por Pedro Bial, Em Nome de Deus terá primeiro capítulo exibido na Globo nesta terça (23)

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  • Da Redação

Publicado em 23 de junho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauricio Fidalgo/Divulgação

Em dezembro de 2018, Pedro Bial, em seu programa na Globo, entrevistou mulheres que afirmavam ter sido estupradas pelo médium João de Deus. As denúncias levaram outras vítimas a se manifestarem e, em janeiro deste ano, João de Deus foi condenado a 40 anos de prisão. Antes, já havia sido sentenciado a quatro anos de prisão por posse ilegal de arma de fogo. Contra ele, há ainda um processo por corrupção e por falsidade ideológica.

Passado um ano e meio daquela entrevista, estreia hoje no Globoplay a série documental Em Nome de Deus, criada pelo próprio Bial e com roteiro de Camila Appel, que havia roteirizado aquele programa especial que revelavam as primeiras denúncias. Antes de liberar a série no streaming, a Globo exibe hoje o primeiro episódio, às 23h15. O Canal Brasil exibe a partir de amanhã, às 20h50, diariamente, a série completa.

O programa, produzido durante 18 meses, acompanha a história do médium desde sua infância, em Itapaci, no estado de Goiás e vai até a prisão dele. Nos seis episódios, há depoimentos de vítimas, incluindo a coreógrafa holandesa Zahira Mous, que na entrevista de dezembro de 2018 foi a única que aceitou mostrar o rosto. Camila Appel, roteirista (divulgação) Reunião

Zahira está em um dos momentos mais marcantes do programa, que é o primeiro encontro entre as vítimas, onde elas falam sobre suas histórias. Camila Appel observa a importância daquela reunião, num estúdio: “Eu lembro de preparar aquele espaço mentalmente, para recebê-las com acolhimento e respeito. Não havia câmera alguma entre nós e era uma equipe mínima. Muitas mulheres me disseram que se esqueceram que estavam sendo filmadas. Ficamos mais de oito horas ali, em dois dias. Foi uma experiência emocionante e, apesar do nível de terror de tudo aquilo, uma experiência muito mais bonita do que triste. De esperança”.

Além de Zahira, que é coreógrafa, participam daquela roda uma advogada, uma atriz, uma fisioterapeuta, uma professora, a filha de João de Deus e uma costureira. “Em Nome de Deus é a história de mulheres e de sua coragem de reagir. Mais do que resistir, de agir, a partir do sofrimento, da humilhação e do massacre que sofreram. É um documentário sobre a voz das mulheres”, afirma Bial.

A apresentadora Xuxa Meneghel, uma das celebridades próximas do médium, dá um depoimento contundente sobre a decepção que teve com ele. O documentário também analisa a popularidade dos curandeiros espirituais no Brasil. A série acompanha passo a passo a investigação da equipe no Brasil e no exterior, em viagens para Holanda e Estados Unidos, revelando supostos crimes cometidos bem distantes de Abadiânia, interior de Goiás.

Para gravar a série, foi feita uma extensa pesquisa de arquivo em documentários e programas de TV nacionais e estrangeiros, além ter sido usado material de arquivo pessoal das vítimas e das casas em que o médium atuava em Goiás e no Rio Grande do Sul.

Pedro Bial diz que a série dá continuidade à entrevista realizada em dezembro de 2018: “O documentário surgiu como uma consequência natural do trabalho de reportagem, que continuou. Quando você começa a cavar um túnel, você vai percebendo que vai chegando em algum lugar e vai descobrindo também novos caminhos, e a história vai crescendo...Foi isso que aconteceu e essa história está contada no documentário”. Pedro Bial, criador da série (divulgação) “Sentimos a necessidade de dar um espaço maior para essas histórias de abuso, para entender seu contexto.  E, sobretudo, mostrar algo bonito surgindo disso, da exposição horrorosa de feridas simbolizada pela roda das mulheres. É a beleza da união, da fala e da escuta empática”, afirma Camila.