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Larissa Almeida
Publicado em 7 de agosto de 2024 às 05:00
Na Olimpíada de Paris, Rebeca Andrade se consagrou como a atleta brasileira com maior número de medalhas da história. Além do feito, ela conseguiu, em uma só edição, o lugar mais alto no pódio com a conquista do ouro no solo, assim como duas medalhas de prata e uma de bronze. Os efeitos do desempenho inédito da ginasta, por sua vez, foram além – de modo que não seria exagero dizer que inspiraram os sonhos de jovens de todo o país. A prova disso é que, em Salvador, a procura pela ginástica artística registrou aumento de 100%. Desde o início da competição, os esportes olímpicos, em geral, registraram elevação das buscas em até 150% na cidade. >
Segundo Tatiana Brandão, vice-presidente da Federação Baiana de Ginástica (FBG), somente em um dos espaços voltados para a ginástica artística, em Salvador, houve 40 pessoas interessadas em se matricular desde a conquista do bronze da equipe brasileira. Para ela, a visibilidade e o exemplo dado pelos atletas são o segredo para a popularização do esporte. >
“As Olimpíadas vêm com a perspectiva de fomentar os esportes para a criançada e deixa as modalidades em evidência. Rebeca é um exemplo, a superação dela também foi possível porque outros atletas, como Daiane dos Santos, Daniele e Diego Hypólito, abriram caminhos e tiveram muita visibilidade”, afirma. >
No Movement Centro de Ginástica, espaço situado no bairro do Bonfim, a quantidade de aprendizes de ginástica dobrou: antes das Olimpíadas terem início, eram 70 alunos. Agora, são 140. “Meu celular não para de tocar. Eu durmo e acordo com pessoas me procurando para as aulas de ginástica. Normalmente, a procura é maior por parte de meninas, porque existe um certo preconceito com relação à prática da ginástica por homens. Aquelas que buscam o esporte, geralmente, já vêm da ginástica rítmica e o que atrai elas são os aparelhos, desde a trave até as barras, por conta de Rebeca Andrade. Todas elas querem ser Rebeca”, revela Rosemeire dos Santos, responsável pelo espaço. >
Esse é o caso da pequena Iza Valentina Martins, de oito anos, que mobilizou a mãe Karyne Martins, 29, a buscar um local para ela praticar ginástica. “Após acompanhar a Olimpíada, ela sentiu muito interesse no esporte e ficou encantada. Teve muita influência da Rebeca, porque Iza torceu muito . Como mãe, quero incentivar e realizar o sonho”, diz. >
Esportes 'novatos’ e tradicionais ganham o interesse do público >
Não só Rebeca Andrade e demais integrantes da equipe de ginástica foram responsáveis por despertar o interesse de crianças e adolescentes baianos para o esporte. Em Salvador, valeu também o exemplo de Beatriz Sousa, medalhista de ouro no judô; Beatriz Ferreira, medalhista de bronze no boxe; Rayssa Leal, medalhista de bronze no skate street; e Tatiana Weston-Webb e Gabriel Medina, medalhistas de prata e bronze, respectivamente, no surf. >
Em todas as modalidades acima citadas, nas quais o Brasil obteve medalha em Paris, houve aumento de procura por parte de novos alunos. A que registrou a maior taxa foi o skate, esporte que teve competição na Olimpíada de Tóquio, em 2021. De acordo com Rodrigo Curvelo, professor do Projeto Skatista, o normal, antes da competição, era a procura mensal de cinco potenciais novos alunos. Nas últimas semanas, ele registrou 15 pessoas, em um crescimento de 150%. >
“Teve interesse de alunos que me mandaram mensagens e teve bastante alunos que fizeram aula experimental. Com certeza, as Olimpíadas influenciam nisso, porque é uma das modalidades que os brasileiros mandam bem. É bacana porque as pessoas começam a se inspirar no semelhante. Quando as meninas viram a Rayssa e viram que uma menininha estava mandando bem, se enxergaram naquela menininha e a tiveram como inspiração para começar a praticar o esporte”, pontua Rodrigo Curvelo. >
O surf, também estreante na Olimpíada de Tóquio, despertou o interesse dos baianos quando Ítalo Ferreira conquistou o ouro naquela edição. No verão daquele ano, houve aumento no quadro de alunos da Escola de Surf Armando Daltro, feito que o professor Armando projeta que deve se repetir a partir de dezembro, com crescimento da procura em até 15%. “As Olimpíadas ocorreram durante o período de baixa temporada, devido ao período chuvoso e de ventos fortes. Com isso, não conseguimos absorver essa demanda que as Olimpíadas acabam trazendo de forma imediata. Mas, no verão, isso deve mudar”, idealiza. >
No aumento da demanda por efeito dos Jogos Olímpicos, constam também os esportes consagrados pelos brasileiros. Pelo judô, esporte que o Brasil conquistou o maior número de medalhas, a procura chega a 30% em escolas, segundo Marcelo Ornellas, presidente da Federação Baiana de Judô (Febaju). Mas essa estimativa, conforme ele garante, é só a iminente. A longo prazo, a perspectiva é de aumento proporcional ainda mais significativo. “Hoje, temos 9.900 atletas de judô cadastrados no sistema. A cada quatro anos, temos um aumento de 20% a 30% do número de alunos do judô. Daí, pode sair o nosso novo ou nova campeã olímpica”, diz.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>