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Bruno Wendel
Publicado em 4 de julho de 2017 às 18:57
- Atualizado há 2 anos
A cerveja já estava no freezer, a carne temperada ao gosto e o carvão separado. Tudo preparado para o churrasco, mas uma notícia pôs fim aos preparativos para a festa de aniversário do autônomo Adailton Ferreira de Souza Júnior, 24 anos, na noite de sexta-feira (30), na comunidade da Baixa do Tubo, no Vale do Matatu, em Salvador. Adolescente foi morto quando soltava rojões (Foto: Marina Silva/CORREIO)“Foi a pior notícia de minha vida. Meu irmão tinha me parabenizado meia hora antes. Me deu um beijo no rosto e saiu. Depois soube que ele tinha sido baleado”, contou Adailton, ao relembrar o último dia que conversou com Enderson Jesus Bacelar, 17 anos. O jovem morreu com um tiro na nuca quando soltava rojões. A família acusa um homem, morador do bairro, conhecido como Binha, de ser o autor do crime. Ele seria um policial. Um vídeo feito por moradores e que circula nas redes sociais, mostra o exato momento em que um homem saí de trás de uma árvore e dispara três vezes na direção de Enderson.>
“Quando se tem alguém na família envolvida (no tráfico de drogas), a gente já espera o pior, mas o meu irmão, estudante e trabalhador, morreu do nada, porque brincava com outros garotos da idade jogando rojões”, declarou Adailton. Enderson trabalhava numa gráfica e cursava a 7ª série no Colégio Estadual Frederico Costa, na Vila Laura. O adolescente não tem entrada na Delegacia do Adolescente Infrator (DAI), segundo a titular da unidade, Claudenice Mayo. A morte dele é investigada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).>
Segundo a Polícia Civil, Enderson deu entrada no HGE por volta das 22h30. Familiares contaram para os investigadores do posto policial da unidade que o adolescente foi baleado por uma pessoa desconhecida e não souberam informar o motivo do crime. Não há câmeras de segurança no local. A polícia disse que tem fotos de um suspeito do homicídio, mas não há informações de que ele seja policial. Os investigadores aguardam que testemunhas façam o reconhecimento dele nos próximos dias. Amigos e familiares pedem justiça (Foto: Marina Silva/CORREIO)Morte Enderson foi baleado na Rua São Crispim, por volta das 21h. Segundo Adailton, o irmão tinha acabado de deixar uma amiga em casa e depois foi ao seu encontro. “Falou comigo. Estava animado para a minha festa no dia seguinte, me parabenizou e saiu”, disse Adailton.Meia hora depois, Enderson participava de uma brincadeira comum no bairro, a tradicional guerra de rojões. Um dos amigos dele, um rapaz de 18, que estava a cerca de 40 metros dele contou ao CORREIO o que viu. “De repente ouvi três pipocos seguidos. Cheguei a pensar que eram os fogos, mas depois vi a menina que ficava com Enderson desesperada, dizendo que ele tinha sido baleado por um homem que saiu detrás de uma árvore”, contou.O rapaz disse que o socorro a Enderson foi dado por moradores. “Inicialmente, pedimos a alguns motoristas, que negaram. Foi preciso parar um carro para socorrê-lo”. O adolescente chegou ao Hospital Geral do Estado (HGE) desfalecido, com um extenso sangramento por conta do tiro na nuca, mas não resistiu aos ferimentos. (Foto: Marina Silva/CORREIO)Suspeito Segundo testemunhas, Binha é policial. “É o que se fala aqui dele. Mas ninguém sabe ao certo se ele é policial civil ou militar. Às vezes, ele é visto entrando em carros despadronizados com vidros fumê, sirene e alguns caras com pinta de policiais”, contou um morador. Nesta segunda, parentes e amigos de Enderson fizeram uma passeata pedido paz no bairro. A caminhada saiu da Baixa do Tubo, passou pelos dois sentidos na Avenida Bonocô e foi finalizada na cena do crime, que fica em frente à casa do policial. “Quando chegamos à casa dele, três viaturas da Polícia Militar estão no entorno. Provavelmente, ele achava que íamos invadir, pelo contrário. Meu irmão era da paz e fizemos um movimento pela paz. Oramos e depois soltamos rojões em sua homenagem”, relatou Adailton.>
O CORREIO esteva na casa onde, segundo os moradores, mora o suspeito, mas o imóvel estava fechado.VítimaEnderson era um rapaz vaidoso. “Era gostava muito de se cuidar. Tinha creme para o cabelo, para a pele, gostava muito de tirar selfies”, lembrou Adailton. O adolescente torcia pelo Esporte Clube do Vitória. “A maioria das fotos dele tinha que ter o escudo do time, era regra”, contou.>
Enderson era o caçula de quatro irmãos e era o xodó de Adailton. “Lembro-me como se fosse hoje. Quando ele nasceu, estávamos à busca de um nome para ele, foi quando sugeri Enderson e todos gostaram. Quando os nossos pais saíam para trabalhar, era eu quem arrumava ele para ir à escola, quem colocava a comida. Ele faz muita falta”, lamentou Adailton. O corpo do jovem foi enterrado no domingo, no cemitério da Baixa de Quintas.>