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Alexandre Lyrio
Publicado em 8 de fevereiro de 2020 às 12:34
- Atualizado há 2 anos
Tem que ter fôlego para encarar esse roteiro! (Foto: Marina Silva/CORREIO) São muitos Carnavais aqui, pai! E tô falando de Carnaval da Bahia! Porque dia desses uma amiga de Recife tava perguntando quando eu ia lá conhecer a folia de Olinda. Minha irmã, que mora no Rio, me questiona a mesma coisa sobre o sambódromo. Minha resposta é sempre a mesma: “Pô, sou doido para conhecer os Carnavais de Recife, Olinda e do Rio. Pena que isso nunca será possível”.>
Claro, eles inventaram de marcar a festa deles na mesma data que a nossa. E aí sempre tentam argumentar: “Mas o Carnaval de Salvador só tem aqueles blocos com corda, de abadás caríssimos e cercados de segurança”. Perdoe Senhor do Bonfim, eles não sabem o que falam. Nem no auge da indústria do axé, em que os blocos lucravam muito, nosso Carnaval jamais foi exclusivamente deles. Imagine hoje que as cordas baixaram e os independentes comandam.>
Roteiro Minha missão aqui é mostrar para vocês o que considero a nata, a fina flor do Carnaval de Salvador. Baseado nas programações anunciadas até agora - mais de 700 grupos - fiz esse roteiro com as 18 atrações imperdíveis. Aviso logo! Pra me acompanhar tem que ter fôlego.>
Mas, se você quer viver um Carnaval diversificado, rico musicalmente, cheio de cultura, alegria e gente como a gente, cole na corda! Aliás, cole sem corda. Porque você não vai pagar nada por nenhuma dessas atrações. Leve só o dinheiro da cerveja. Não se perca de mim! Ou como diz o amigo Angelon: cole com o pai que você não cai! Nesse sábado tem palhaçada (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Palhaços do Rio Vermelho>
Se é para indicar as melhores atrações, nesse sábado começo com os Palhaços do Rio Vermelho, que completam 10 anos esse ano. Um movimento que surgiu como uma brincadeira e hoje se tornou uma das principais manifestações culturais de Salvador. Desde as quadras na Orla da Rua da Paciência, o bairro vira palco de um espetáculo cheio de alegria, arte e resgate de fantasias. Tô colado! Luiz: 50 anos de música e magia (Foto: Evandro Veiga) Luiz Caldas>
Atrás desse aí só não vai quem já morreu! Luiz Caldas é um monstro sagrado do nosso Carnaval, além de criador do hit Nêga do Cabelo Duro, gênese da axé music. Multi-instrumentista, esse ano Luiz completa 50 anos de música, já que aos 7 anos tocou pela primeira vez para um público pagante. Além da série de shows comemorativos intitulada Magia, que termina nesse domingo com uma apresentação na Área Verde do Othon junto com A Cor do Som, Luiz sobe no trio duas vezes durante o Carnaval: sábado (22) e domingo (23). Imperdível! Ladeira da Preguiça e seu Banho de Mar à Fantasia (Foto: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO) Banho de Mar à Fantasia>
Desde 2013, o banho de mar à fantasia voltou ao Carnaval. Ele acontece no domingo anterior ao início oficial da folia, na praia da Ladeira da Preguiça. O banho levou 20 anos sem acontecer. A tradição foi resgatada pelo Centro Cultural Que Ladeira É Essa?, que convoca foliões a tomar um banho de mar com suas fantasias. Esse ano, o evento terá Ministéreo público, Larissa Luz, Ilê Aiyê e Os Mascarados de Maragogipe. A tradição surgiu nos anos 30 e durou até os anos 90. Saída do Bloco De Hoje a 8 (Foto: Divulgação) De Hoje a 8 >
O bloco De Hoje a 8 sai nos sábados que antecedem a abertura oficial do Carnaval. Criado no Santo Antônio Além do Carmo, passou a reunir uma leva de fantasiados. Acontece que cresceu tanto que, ano passado, quase não sai e mudou o dia do desfile. Esse ano, o bloco ainda não divulgou o horário de saída, que deve ocorrer no dia 15. Que horas? Quem souber morre! Tem para todos os gostos no Furdunço (Foto: Beto Jr.) Furdunço>
Criado pela prefeitura em 2015, o Furdunço é um dos eventos mais legais da cidade. Esse ano acontece uma semana antes (domingo, 16) e também durante o Carnaval (21, sexta-feira). É tanta atração que eu costumo ficar pra cima e pra baixo feito um louco. A variedade de grupos a se apresentar esse ano (42 no total) atende todo tipo de público. Desde a galera que gosta do Microtrio de Ivan Huol até o reggae do Adão Negro, passando por Gerônimo, Forró do Tico e as duas principais atrações: Armandinho, Dodô e Osmar e BaianaSystem. Brown é Brown (Foto: Robson Mendes/Arquivo CORREIO) Carlinhos Brown>
Tá rebocado! O Cacique é o Cacique! Gênio da nossa terra, se você parar para calcular, uns 46,7% das músicas que tocam no Carnaval são composição dele. Já passei noites históricas de Carnaval atrás do Camarote Andante. Ultimamente deu uma sumida da folia, mas esse ano se apresenta duas vezes. Na abertura, quinta-feira (20), na Barra, traz o Movimento Percurssivo Timbaleira Drummers com 150 percussionistas. Vai ser uma abertura histórica! No último dia, 0h da terça-feira (25), Carlinhos vem com o Arrastão da Meia Noite. Quem não gosta de samba? (Foto: Claudionar Júnior/Arquivo CORREIO) Dia do Samba>
Eu acho massa a noite de samba no Circuito Osmar (Campo Grande), na quinta-feira. Se der tempo, assista a abertura do Carnaval com Brown e corra para curtir blocos como Alerta Geral, Pagode Total, Corrente do Samba, Alvorada e outros, que se tornaram tradicionais no Centro. Um deleite para os amantes do ritmo. Ainda não foram anunciadas as atrações desse ano, mas a noite do samba está reservada na programação. Quem não gosta de samba... Fantasia sempre (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO) Margareth Menezes e Os Mascarados>
Mesmo quando os blocos de abadás monopolizavam a avenida, Os Mascarados eram uma das resistências a eles. Sem dúvida, foi uma das inspirações para a volta das fantasias, o que tem ocorrido cada vez mais nos últimos anos. Como costuma sair tarde da noite, sempre me despeço do primeiro dia de Carnaval atrás deles. Esse ano, assim como ano passado, Margareth Menezes foi anunciada como atração na quinta-feira. Prepare sua fantasia! Pipoca do Kannário (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Igor Kannário>
Não ouço Igor Kannário em casa ou no carro. Mas não dá pra negar que é um fenômeno! Mais do que isso, dá vontade de participar da sua pipoca. Fiz isso dois Carnavais atrás. Barril dobrado! A swingueira come no Centro e a favela se espreme. O Príncipe do Gueto, que diz já ter reunido 3 milhões de pessoas na “maior pipoca de todos os tempos”, tenta controlar a massa como pode. Tem brigas? Tem! Mas muitas vezes a polícia exagera e quer passar “na tora”. Tô pensando em dar um pulo na sexta-feira (Barra/Ondina) ou segunda (Centro) para ver o deputado fazer a alegria dos eleitores. Mais belo dos belos (Foto: Claudionor Junior/Arquivo CORREIO) Saída do Ilê Ayiê>
A única coisa que me envergonho da minha trajetória carnavalesca é o fato de nunca ter ido para a saída do Ilê. Fundado em 1974 por moradores do Curuzu, homenageia países e tribos africanas, chamando a atenção para a importância de se combater o racismo. A saída do Ilê, acontecerá no sábado (22), e é considerado um dos eventos mais lindos da festa. Antes de o bloco iniciar o desfile, moradores e visitantes assistem a um ritual, que inclui a bênção promovida pelo Terreiro Ilê Axé Jitolú. Ainda tem as pombas, o toque dos clarins e a percussão que “empurra” o bloco ladeira acima. Esse ano, estarei lá. Navio Pirata (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) BaianaSystem + Armandinho + BNegão + Vandal>
Para mim, a BaianaSystem é uma das bandas responsáveis por reoxigenar o Carnaval de Salvador no momento em que ele parecia em declínio. Ano passado, fiquei um pouco decepcionado com a quase ausência do Navio Pirata na avenida (só saiu uma vez). Mas, esse ano, além do Furdunço e da participação no trio da Afrocidade, no dia 22, a Baiana deve ter o seu ponto auge na folia no domingo, 23. Os caras recebem o príncipe da guitarra baiana, Armandinho, além de BNegão e Vandal. Tem que ter disposição para acompanhar o mar de gente que segue o Navio Pirata, um público cada vez maior e diversificado. Pipoca democrática de Armandinho (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Armandinho, Dodô e Osmar>
Nada é mais democrático no Carnaval da Bahia do que a pipoca de Armandinho, Dodô e Osmar, dizem os fãs. O trio comandado com Armando Macedo, filho de Osmar Macêdo (da dupla Dodô e Osmar), idealizador do trio elétrico, é uma das atrações imperdíveis do Carnaval da Bahia. Além do Furdunço, dia 16, por enquanto Armandinho está programado para tocar também no pôr do sol da Praça Castro Alves. Mas é possível que seu trio seja confirmado em outras datas. Empurra que é Àttooxxá (Foto: Beto Jr./Arquivo CORREIO) Àttooxxá>
Leve fé! A Àttooxxá já é mais do que Popa da Bunda, a música do Carnaval de 2018 e que fez a banda estourar. No seu terceiro Carnaval, tem a chance de comprovar o que estou dizendo. Vale muito a pena curtir o som da Àttooxxá, que esse ano toca domingo (Barra/Ondina) e segunda-feira no pôr do sol na Castro Alves. Difícil é definir o som dos caras. “Um liquidificador”, se definem eles próprios. Tem Afrocidade com Baiana (Foto: Rafael Kent/Divulgação) Afrocidade + Baiana System>
Natural de Camaçari, na Região Metropolitana, a banda Afrocidade conseguiu inverter a dinâmica musical com Salvador. “Normalmente Camaçari é que absorve o que vem de Salvador. Nós trouxemos nossa música para cá”, disse ano passado à repórter Marília Moreira o baterista e diretor musical Eric Mazzone. Vai ser lindo ver a Afrocidade receber o pessoal da BaianaSystem no sábado (22) de Carnaval. Tapete Branco (Foto: Paulo M Azevedo/Arquivo CORREIO) Filhos de Gandhy>
Sou Filho de Gandhy há cinco anos e não deixo mais de desfilar com o tapete branco. Fundado por estivadores portuários no Carnaval de 1949, O Gandhy completou 70 anos ano passado. Tornou-se o maior e mais belo afoxé do mundo. Inspirado pelos princípios de não violência do ativista indiano Mahatma Gandhi, o bloco traz a tradição da religião africana ritmada pelo agogô nos seus cânticos ijexá na língua Iorubá. Se assistir o Gandhy passar na avenida já é uma experiência incrível, imagine participar. É como disse certa feita Gilberto Gil. “É insubstituível! Tem muitas coisas boas na vida, mas tocar seu agogô ali na avenida é... Puxa... Não dá nem pra falar”. Irreverência e protesto da Mudança do Garcia (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Mudança do Garcia>
Na segunda-feira de Carnaval acorde mais cedo e vá ver a Mudança do Garcia sair por volta do meio-dia. Na Mudança, há espaço para tudo. Protesto (principalmente), agradecimentos, samba, frevo, máscaras, fantasia e, claro, sua principal característica: a irreverência. Segundo o repórter Ivan Dias Marques apurou com o pesquisador Nelson Cadena, a Mudança do Garcia é um evento tão antigo e curioso que conta até com lenda sobre sua fundação. Historicamente, o bloco surgiu em 1926, com o Arranca-Tocos. Virou Faxina do Garcia e, depois, já na década de 50, por sugestão do então vereador Herbert de Castro, ganhou seu nome definitivo. Mas a Bahia é rica em lendas e, no Garcia, ela tinha que envolver um dos seus filhos mais nobres: o sambista Riachão. Na realidade, seu pai teria expulsado uma prostituta do bairro numa grande algazarra. A mudança da mulher teria virado virou Mudança do Garcia. O melhor dom pagode da Bahia (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Harmonia do Samba>
O Harmonia é o maior do pagode da Bahia. Depois tantos anos de carreira e muitos Carnavais, Xanddy e sua trupe sacodem a galera com uma classe sem igual entre os pagodeiros. Voz tinindo, arranjos no ponto. É por isso que vou atrás do Harmonia fácil! Agora, se for fazer o mesmo se prepare! A galera não para de dançar e às vezes você é levado junto. De boa para quem tá acostumado com multidão. Além de alguns blocos, o Harmonia sai em trio independente na quinta-feira (20) de Carnaval. Daniela: rainha da pipoca (Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO) Daniela Mercury>
Daniela Mercury é a maior puxadora de trio da história do Carnaval. Pronto, falei! A pipoca de Daniela deveria ser tombada pelo patrimônio histórico. Participei do momento que ficou conhecido como “a maior pipoca do mundo”, em meados dos anos 2000. Sempre criativa, ao menos no Carnaval bota as outras divas no bolso. Além disso, tem o público mais diversificado do Carnaval. Todo mundo vai atrás de Daniela. Por enquanto, seu nome está confirmado em um independente apenas na quinta-feira.>
2021 - SUGESTÃO PAROANO Trio Nação Zumbi e Planet Hemp Em 1986, Luiz Gonzaga, fenômeno popular da época, subiu em um trio e tocou no Carnaval de Salvador. Só para dizer que nosso Carnaval cabe de tudo. Atenção organizadores da folia! Querem agradar um monte de gente e fazer o chão da avenida tremer. Tragam a pernambucana Nação Zumbi e a carioca Planet Hemp. Coloquem no mesmo trio que eles se entendem! Vai ser incrível!Se saia! Blocos com corda As cordas são o maior símbolo de segregação e violência do Carnaval de Salvador. Os blocos que ainda usam cordeiros tomam o espaço público e contribuem para as brigas justamente porque falta espaço para todo mundo. Então, seja dentro ou fora, se saia dos blocos com corda.>
Camarotes Bom, você pode até ir para um camarote. Mas saiba que não estará curtindo o Carnaval. Camarote não é Carnaval! É outra festa até mesmo para os que ficam na sacada vendo tudo o que passa. Carnaval é na rua! Só aceito o uso de camarotes por idosos e pessoas com dificuldade de locomoção. Agora, não vou ser hipócrita de dizer que nunca fui ou não vou para camarote. Eles servem para dar um tempo da rua, para descansar um pouco da muvuca. Quando as pernas estão desobedecendo, você veste o abadá, sobe no camarote, toma umas três birinigths sentado, recebe uma massagem e desce pra rua novamente.>