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Luana Lisboa
Publicado em 4 de agosto de 2021 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Roda de capoeira, jogo e cantoria estiveram presentes na base San Martin da Guarda Civil Municipal de Salvador na manhã desta terça-feira (3). O motivo? Uma saudação ao Dia Nacional do Capoeirista. Essa não é uma comemoração isolada dentre os servidores, que incluíram na reunião cerca de 15 alunos do trabalho social que realizam na instituição. São 3 aulas semanais para os aprendizes mirins, que moram nos bairros do entorno da sede e que, no dia, aproveitaram a oportunidade para homenagear a expressão afro-brasileira.>
Karen Conceição, moradora da comunidade do Calafate, pratica capoeira desde os 15 anos. Aos 18, ela acredita que a importância da comemoração à data perpassa pela palavra “representatividade”. Mas também vê os ganhos pessoais que obteve com o esporte. “Antes, eu não conseguia memorizar as coisas. Com a capoeira, eu melhorei minha memória, aprendi disciplina e desenvolvi minha capacidade motora e minhas habilidades sociais. Eu sou tímida, mas fiz amigos e melhorei bastante. Jogo em público e falo mais abertamente”, conta.>
Seu contramestre, Thales Cardoso, ou como é conhecido no ramo, Thales ‘Touro’, é só orgulho da menina. O guarda é um dos que coordena o projeto, que recebe cerca de 50 crianças e adolescentes da Fazenda Grande do Retiro, IAPI, comunidades da Rocinha e do Calabate, há 5 anos. Segundo o tutor, o objetivo do projeto tem muito a ver com a celebração da data especial.>
“A capoeira, como uma expressão afro-brasileira representa, hoje, uma ferramenta a serviço da educação, da socialização, da formação da identidade de jovens. Então, a gente precisa valorizar. A Guarda-Civil entende a importância da capoeira e atende diversos jovens de bairros periféricos com a segurança preventiva”, explica.>
Thales esclarece que a “segurança preventiva” é proporcionar aos jovens uma ocupação e, com isso, um afastamento da criminalidade. “A ideia é que eles busquem esse caminho do esporte e tenham uma vida fora das estatísticas que a gente tem visto dos jovens em bairros periféricos”. >
De acordo com levantamento realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, 96,9% das pessoas assassinadas por policiais na Bahia, em 2019, eram negras. “Por isso, a gente comemora o Dia do Capoeirista, porque no passado, a capoeira constava no código penal e hoje ela é símbolo para uma instituição de segurança pública. Essa é uma conquista que nós, capoeiristas, tivemos com o tempo”, diz o contramestre.>
As crianças treinam na sede da Guarda Civil Municipal. No último ano, o local passou por uma reforma e, em 2021, foi entregue a eles um galpão para a realização das práticas. Não só capoeira, mas também boxe, karatê, treinamento funcional, jiu jitsu, yoga e fit dance são algumas das atividades esportivas desenvolvidas no local, conforme explica a guarda-municipal Suelen Costa.>
“Todos os dias, pela manhã e pela tarde, algum esporte é disponibilizado para o guardas-municipais”. Ela pratica todos, mas sua ligação mais forte é com a capoeira, que faz desde os 15 anos. Nos últimos tempos, não estava tão ativa. Com a descoberta do projeto no local de trabalho, pretende voltar às aulas, junto com os adolescentes. >
“A capoeira faz parte da nossa cultura, mexe muito com nossa emoção e nos causa um bem-estar, para o corpo e para a mente. Quando ouço um berimbau tocar, quando vejo uma roda, ela me chama e me contagia. Por isso, vou frequentar as aulas, que achava que eram exclusivas para as crianças”, diz.>