'Parte da minha vida': ex-alunos e professores se despedem do Colégio Isba

Colégio irá encerrar as atividades no final de 2020

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  • Gabriel Moura

Publicado em 23 de outubro de 2020 às 20:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva / Arquivo CORREIO

Durante os 56 anos em que, como diz seu hino, “serviu a todos sem distinção”, o Colégio ISBA teve milhares de alunos, que ficaram surpresos com o anúncio de que a escola iria encerrar as atividades ao final de 2020. Dentre esses filhos pródigos, que agora se tornaram órfãos, está a ex-BBB e digital influencer Carol Peixinho, que passou 10 de seus 34 anos entre as salas e corredores da escola. 

“Foi um grande baque esse fechamento, algo que não esperava. Quando soube, ontem, senti uma mistura de tristeza com felicidade. Triste pelo fim das atividades, mas quando comecei a lembrar de tudo que vivi por lá fiquei bem contente, pois só tenho lembranças boas de lá, mesmo nos perrengues ou de quando minha mãe foi chamada na direção porque fui pega colando na prova. Todos foram momentos importantes da minha vida que me fizeram crescer”, lembrou.

Carol se formou em 2001, mesmo assim boa parte de suas amizades que se mantém até hoje foram formadas lá. “Eu tenho um grupo de WhatsApp com as pessoas dessa época, são 12 ex alunos ao total. Ontém, quando a gente soube do fechamento, começamos a lembrar de tudo que vivemos lá”, disse.

Outra ex-aluna famosa que tem sua trajetória ligada ao colégio é Claudia Leitte. Foi lá onde, aos 12 anos, conheceu e se apaixonou pelo marido Márcio Pedreira, ou Marcinho do ISBA como era chamado na época.“Eu e Márcio estamos muito tristes. Temos histórias lindas, que contamos para os nossos filhos, que foram escritas ali. Nos sentimos indivíduos formados e capacitados por conta da educação que recebemos e o ISBA, certamente, foi a extensão de nossas casas nessa jornada de amadurecimento. Nossa história de amor começou lá. Muito obrigada, ISBA”, despediu-se Cláudia.‘Sem o ISBA não estaria aqui hoje’ O grande lema do Isba era garantir uma formação humana e cidadã para seus alunos. Este diferencial da escola, que tem tradição católica, é lembrado com carinho por todos os estudantes que por ali passaram durante as cinco décadas.

“Talvez sem o Isba eu não estivesse hoje aqui. O apoio humanitário que o colégio sempre teve foi extremamente importante para mim. Minha irmã também teve diversos problemas e o colégio sempre foi um apoio, dando lições de ética e humanidade que fizeram a gente se tornar o que somos hoje. O que o Isba ensinou para a gente vai muito além da sala de aula”, contou o fotógrafo João David Moraes, 33, que estudou lá de 2001 a 2005.

João ainda não tem filhos, mas uma parte do planejamento familiar já estava pronta caso ele tivesse algum descendente. “Eu já tinha certo para mim que eles iriam estudar no Isba para terem a mesma educação de excelência e humanitária que tive. Infelizmente, agora, isso não será possível”, lamentou.

Já a professora aposentada Iara Martins, 60, ensinou química por lá apenas durante três anos. Mesmo assim já foi o suficiente para entender os diferenciais da escola. Tanto que foi difícil para ela se adaptar quando precisou ensinar em um lugar diferente.

“O Isba sempre foi um colégio extremamente tradicional, comparado a Marista e Salesiano. Lá sempre se prezava muito pelo respeito e a forma como os alunos tratavam os professores. Tanto que quando fui ensinar numa escola com filosofia diferente, senti a mudança. Não dizendo que eles eram ruins, longe disso. Mas dava para sentir a diferença”, recordou.

Declínio Apesar do anúncio do fechamento ter sido inesperado, os estudantes que passaram por lá, mais recentemente, já percebiam que as coisas não iam bem. O número de alunos e turma estava reduzido e parte da estrutura já não recebia a manutenção adequada.

“A gente já sabia que o colégio provavelmente fecharia, mas não tão cedo. Estava tendo corte de pessoal e de bolsas de estudo, até por perder esse desconto eu saí do colégio no segundo ano e fiz o terceiro no Sartre da Graça (que também anunciou o encerramento das atividades)”, lembrou a estudante Ananda Borges, 19.

Ananda precisou sair, mas sua irmã mais nova, Luiza Borges, 16, continuou e segue aluna. Ela, que atualmente cursa o segundo ano do ensino médio, lamentou que o colégio não deu nenhum aviso prévio aos estudantes e pais.

“Eu fiquei bem chocada, pois foi algo ‘do nada’, avisado pelas redes sociais. O colégio não falou com a gente, com nossos pais ou os funcionários. É triste agora, pois estudei lá a vida inteira e agora no meu último ano de escola irei sair”, falou.

Boatos Assim que o anúncio do fechamento foi feito, diversos boatos começaram a surgir apontando o que seria feito com o local onde hoje funciona a escola. De clínica psiquiátrica a cemitério foram citados como futuras instalações, mas, segundo a assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Educação Familiar e Social (Abefs), responsável pelo colégio, nenhuma dessas informações é verídica.

Por enquanto o terreno continua pertencendo às associações e, até então, não há planos futuros.

O Centro Universitário do Instituto Social da Bahia (Unisba), faculdade que também é mantida pela Abefs, e o Teatro ISBA continuam funcionando.