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Gil Santos
Publicado em 7 de março de 2017 às 21:28
- Atualizado há 2 anos
Ueslei Silva Sarinho, 22, principal suspeito de matar músico (Foto: Divulgação / Polícia Civil)A polícia identificou um dos homens suspeitos de envolvimento na morte do compositor Felipe Yves Magalhães Gomes, 21 anos, ocorrida nesta segunda-feira (6). Ueslei Silva Sarinho, 22, é apontado pelos investigadores como traficante e já era investigado pela polícia. Ele está com mandado de prisão em aberto por outros crimes, mas foi feito o pedido de prisão preventiva dele também pela morte de Felipe.
Segundo a Polícia Civil, Felipe Yves estava indo encontrar com uma amiga quando foi abordado por um grupo de homens armados na comunidade da Independência, na Boca da Mata. Ainda segundo a polícia, os bandidos questionaram de onde o rapaz era e ele teria respondido que era primo de um morador.
O que Felipe não sabia é que o primo que ele citou era rival do grupo que o abordou. Esse teria sido o motivo da morte do compositor, segundo a investigação inicial do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ele teve o pescoço semi degolado e foi baleado no braço esquerdo. O corpo foi encontrado em um matagal, na mesma região. O caso está sendo investigado pela 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central).
O corpo de Felipe foi sepultado na tarde desta terça-feira (7), no cemitério Parque Bosque da Paz, na Estrada Velha do Aeroporto. Cerca de 200 pessoas assistiram a cerimônia. Muito abalada, a família não quis comentar o caso. Alguns músicos, amigos do compositor, foram vestidos com camisas pretas e pediram por justiça.
"Ele era um menino que sempre levantou a bandeira da favela. Acontecer isso com ele é lamentável. Recentemente, ele fez uma música para EdCity falando da Favela da Paz. Ele defendia tanto a favela e agora acontecer isso com ele é muito triste", afirmou o músico e bailarino Jonatas Ueiser, 25.
O músico Thomas Barcelar, 22, foi vestido com uma camisa com a imagem de Felipe. “Ele era um grande amigo que passou por muitas dificuldades para ter seu trabalho reconhecido. Uma pessoa maravilhosa”, disse.Felipe Yves foi degolado e queimado em Boca da Mata (Foto: Reprodução)SilêncioAmigos de Felipe questionaram, durante o sepultamento, o silêncio de alguns dos artistas com quem o compositor trabalhou. O aposentado Manuel Santos, 57, conhece a vítima há 5 anos e lamentou o ocorrido.
"Ele fez músicas para Igor Kannário e Léo Santana que foram sucessos e nunca teve reconhecimento. Você está vendo algum representante deles aqui? Eles nem lamentaram o ocorrido. Ele (Felipe) merecia ser lembrado pela imprensa antes do que aconteceu porque ele era um artista, mas o compositor nunca é lembrado", disse, indignado.
O músico e produtor Douglas Carvalho, 24, conheceu Felipe quando ele ainda era uma criança. Ele contou que o amigo começou a compor músicas com 13 anos, na mesma época em que começou a tocar cavaquinho. Desde então, ele não parou mais de escrever.
"Ele sempre passou por muita dificuldade para divulgar o trabalho dele. Lembro de algumas vezes em que ele não tinha tênis ou uma roupa para ir no show de algum artista que ia cantar a música dele ou para fazer alguma participação especial. Muitas vezes a gente pediu ajuda para conseguir a gasolina para ir nesses eventos. A gente estava sempre junto. A vida dele sempre foi uma luta", afirmou.
Procurada, a assessoria de Igor Kannário não foi localizada para comentar o caso. Já a assessoria de Léo Santana informou que não conseguiu contato com o cantor porque ele está de férias.
Outra versãoAmigo de infância de Felipe, o técnico em refrigeração Charles Ferreira, 27, contou ao CORREIO que o compositor passou o domingo (5), último dia em que foi visto com vida, ensaiando com os amigos. "Ficamos juntos o dia inteiro. Ele ensaiou de 8h até às 14h, depois ficamos na casa da mãe dele. Por volta de 22h, ele recebeu um telefonema e saiu, pensamos que ele tivesse ido para casa, depois disso não tivemos mais notícias", disse.
Charles também acredita que o amigo tenha sido vítima de uma emboscada. "Ele era muito alegre, brincalhão e querido por todos. Passamos o domingo inteiro rindo, todo mundo feliz. Foi muita maldade o que fizeram com ele, estamos devastados", pontuou. Segundo o técnico, Felipe não voltou para casa e não atendia mais ao telefone. Já na segunda-feira, pessoas ligadas ao jovem receberam fotos de seu corpo, além de áudios, supostamente gravados pelos assassinos, anunciando o crime.
"Até o meio dia de ontem [segunda-feira], o celular dele chamava. Depois desse horário parou de dar sinal, desligaram. Só soubemos por causa das fotos, foi aí que o irmão dele veio ao IML e reconheceu o corpo", lembrou a madrinha. Os pertences do músico não foram encontrados pela polícia.