Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Portal Edicase
Publicado em 30 de abril de 2025 às 13:09
Uma rotina alimentar equilibrada exerce papel essencial na manutenção da saúde física e mental. Em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), esse cuidado ganha relevância adicional, já que é comum haver dificuldades relacionadas à ingestão de determinados alimentos — chamada de seletividade alimentar. >
Para esclarecer os obstáculos mais recorrentes enfrentados por famílias, cuidadores e autistas, além de destacar quais componentes da dieta merecem atenção especial nesse contexto, entrevistamos Aline de Piano Ganen, coordenadora do Mestrado Profissional em Nutrição da Pós-Graduação São Camilo. Confira! >
Indivíduos com TEA podem apresentar alguns déficits nutricionais associados a possíveis restrições e comportamento alimentar seletivo, tais como: cálcio, proteínas, zinco, vitamina D e B12. Essa ingestão inadequada pode resultar em comprometimento do crescimento e desenvolvimento, aumento do risco de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade. >
Suplementos de ômega 3 e vitamina D têm sido estudados em relação ao autismo. A suplementação combinada mostrou efeitos positivos nos sintomas sociais e comportamentais de indivíduos com autismo. Entretanto, reforça-se a necessidade de mais estudos para que seja um consenso. >
A seletividade alimentar em crianças autistas pode estar relacionada a sensibilidades sensoriais, preferências por texturas específicas ou dificuldades com mudanças na rotina. Uma técnica eficaz é a “cadeia alimentar”, também chamada de Food Chaining , que introduz gradualmente novos alimentos semelhantes aos preferidos da criança, facilitando a aceitação. >
Além da cadeia alimentar ( food chaining ), é útil envolver a criança na preparação das refeições , oferecer escolhas dentro de uma variedade limitada e manter uma rotina consistente nas refeições. A paciência e a celebração de pequenos progressos são essenciais. Além disso, o acompanhamento com nutricionista especializado neste público é essencial para a adoção de estratégias efetivas. >
Respeitar as sensibilidades sensoriais da criança é crucial. Ofereça alimentos com texturas aceitáveis e, gradualmente, introduza novas texturas em pequenas quantidades, sempre observando a reação da criança e evitando forçar a aceitação. >
As evidências sobre os benefícios da dieta GFCF são mistas. Alguns estudos relatam melhorias nos sintomas do autismo, enquanto outros não encontram efeitos significativos, reforçando a necessidade de mais estudos para ser um consenso no TEA. Devemos também considerar sempre a individualidade de cada paciente. >
Dietas como a cetogênica ou low -FODMAP podem ser consideradas para indivíduos autistas com distúrbios gastrointestinais específicos, mas devem ser implementadas sob orientação e supervisão médica e de nutricionista devido à sua complexidade e possíveis efeitos colaterais. >
Restrições alimentares sem orientação adequada podem levar a deficiências nutricionais, comprometendo o crescimento e a saúde geral, bem como piorar um quadro de seletividade alimentar. É fundamental buscar orientação de profissionais qualificados na área de nutrição e TEA ao considerar mudanças significativas na dieta. >
O eixo intestino-cérebro refere-se à comunicação bidirecional entre o trato gastrointestinal e o sistema nervoso central. Alterações na microbiota intestinal têm sido associadas ao autismo, e estudos sugerem que probióticos podem melhorar sintomas gastrointestinais e comportamentais em alguns casos. Entretanto, são necessários mais estudos para definição de quais cepas, quantidades e orientações individualizadas. >
Uma meta-análise encontrou uma associação positiva entre o consumo de açúcar e bebidas açucaradas e os sintomas de TDAH em crianças, entretanto, os pesquisadores destacam a necessidade de mais estudos para confirmar essa relação. Outro estudo sugere que alimentos ricos em açúcares, corantes artificiais e conservantes químicos podem contribuir para o aumento do risco de TDAH. No que se refere ao TEA, ainda são necessários mais estudos para estabelecer essas relações. >
Desta forma, reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e açúcares adicionados pode ser benéfico. Optar por uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, pode contribuir para a melhora do bem-estar geral e dos sintomas comportamentais. É importante consultar profissionais de saúde para orientações personalizadas. >
A suplementação deve ser considerada quando há deficiências comprovadas ou necessidades específicas, sempre sob orientação profissional. Monitorar mudanças nos sintomas e realizar avaliações periódicas ajuda a determinar a eficácia da suplementação. >
Suplementos devem ser administrados com cautela. Alguns podem interagir com medicamentos ou ter efeitos adversos. Sempre consulte um profissional de saúde antes de iniciar qualquer suplementação. >
Buscar orientação de nutricionistas em serviços públicos de saúde, aproveitar programas de assistência alimentar e focar em alimentos nutritivos e acessíveis pode ajudar a garantir uma dieta balanceada dentro das limitações financeiras. >
Escolas e cuidadores podem colaborar com famílias e profissionais de saúde para criar planos alimentares individualizados, oferecer ambientes de refeição tranquilos e respeitar as preferências e sensibilidades alimentares da criança. >
Um mito comum é que dietas específicas podem “curar” o autismo. Embora a nutrição adequada seja crucial, não há evidências de que qualquer dieta elimine os sintomas do autismo. Um planejamento e manejo individualizado, por meio de estratégias específicas para esse público, são primordiais para a promoção de qualidade de vida desses pacientes e de suas famílias. >
Por Carolina Fleischman >