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Portal Edicase
Publicado em 24 de agosto de 2024 às 18:35
Depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a Mpox uma emergência em saúde pública, muitos boatos têm surgido sobre a enfermidade, gerando dúvidas na população. Em meio a essas especulações, um dos rumores que tem se sobressaído se refere à possibilidade de uma nova pandemia. >
No entanto, segundo o infectologista Dr. Evaldo Estanislau, professor da Universidade São Judas e gerente de Pesquisa Acadêmica da Inspirali (ecossistema de educação médica), o estado de emergência foi decretado justamente para acelerar os procedimentos de contenção. Afinal, embora de menor gravidade, com menor impacto letal, tal doença tem um potencial de disseminação muito rápido. >
Sabendo disso, o Dr. Evaldo Estanislau esclarece as principais dúvidas sobre o tema. Confira! >
Antiga varíola dos macacos, a Mpox é uma doença viral transmitida por contato íntimo com reservatório natural vindo da natureza, especialmente de pequenos animais e dos macacos. Este vírus se transpõe para a espécie humana e tem uma transmissão mantida no continente africano. >
Recentemente, tivemos um surto a partir do continente africano que rapidamente se espalhou pelo mundo e que, em um primeiro momento, foi controlado. Porém, agora uma nova variante do vírus surgiu, com uma maior transmissibilidade, ou seja, ela se transmite com mais facilidade. A doença se espalhou a partir da República Democrática do Congo, foi para países da África, depois para países vizinhos e, rapidamente, virou uma emergência global com um número muito grande de casos. >
Por este motivo, a OMS decretou estado de emergência para dar o alerta e acelerar os procedimentos de contenção deste espalhamento da doença, potencializado pela nova variante. É importante deixar claro que uma coisa é decretar uma emergência para uma doença grave com grande risco para a população geral, e outra é decretar emergência para acelerar os procedimentos de contenção. Isso porque, embora seja uma doença de menor gravidade, o que ela tem de potencial se refere a uma disseminação rápida por contato para grupos específicos que têm maior vulnerabilidade. Em linhas gerais, esta emergência se trata de uma medida de contenção. >
A Mpox é uma doença de menor gravidade, mas extremamente desagradável. Ela pode, sim, ter excepcionalmente formas mais graves e essa nova variante eventualmente causar uma mortalidade. Porém, na maioria absoluta dos casos, se trata uma condição de manifestação muco cutânea . Ou seja, as pessoas terão algumas erupções, feridas que duram de alguns dias a semanas, mas sobretudo restritas a pele e a regiões mucosas do nosso corpo. >
Passado este período de 4, 6, no máximo, 8 semanas de evolução, estas tendem a regredir, cicatrizar e as pessoas, no máximo, terão cicatrizes. Então, é bem diferente de uma doença respiratória. Não se trata de uma enfermidade desprezível. Ao contrário, ela possui a sua complexidade, mas é de um menor impacto letal. >
Uma das principais razões da emergência é exatamente acelerar a fabricação de vacinas. Nós temos vacinas disponíveis, mas poucos centros produtores e em uma quantidade pequena. Além disso, uma característica epidemiológica da doença é que ela se transmite em contato de pele ou mucosa com a lesão, e esse contato não é qualquer, ele precisa de uma durabilidade, um contato íntimo, ou seja, atinge uma população de maior vulnerabilidade e mais prioritária para receber a vacina. >
Além disso, outros objetos de uso comum, como roupas de cama, toalhas e vestuário, se estiverem em contato com lesões, também transmitem a doença. Por isso, além do grupo de maior vulnerabilidade, situações de aglomeração, como transporte público lotado, em que você está muito próximo a outras pessoas, podem, mesmo que não seja o mecanismo preferencial, potencializar a transmissão da doença, especialmente se houver contato com lesões. >
A razão de não se recomendar uma vacinação para todos é, primeiramente, epidemiológica, ou seja, existem nitidamente grupos de maior vulnerabilidade. Em segundo lugar, há uma razão operacional, pois não é possível disponibilizar vacina para todos. >
Além disso, pessoas com mais de 50 anos provavelmente já receberam imunização contra a varíola, o que proporciona certa imunidade cruzada. Assim, a OMS acerta ao sugerir essa recomendação: a doença tem se espalhado rapidamente, e essa estratégia vai permitir que possamos vacinar o grupo mais vulnerável com maior rapidez e em quantidade suficiente. >
A Mpox é uma doença que se inicia com sintomas como mal-estar, febre e marcas na pele. Essas marcas se transformam em vesículas, ou seja, ficam elevadas, parecendo uma gota de líquido. Elas podem ser muito discretas e difíceis de visualizar, especialmente em áreas como a genitália ou a parte interna da boca, ou podem se espalhar pelo corpo, formando múltiplas elevações cutâneas. Ao notar qualquer mudança na pele, o ideal é procurar orientação médica. >
As lesões devem perdurar por alguns dias ou até poucas semanas e vão evoluir para uma ferida, crosta e sumir aos poucos. É muito importante que o diagnóstico seja feito por um médico em um laboratório especializado, que irá coletar um material da lesão para usar a técnica de PCR, permitindo a identificação do vírus. Uma vez feito o diagnóstico, o tratamento é sintomático. >
A pessoa deverá cuidar para que essas feridas não infeccionem – o que, para populações idosas, com doenças crônicas ou imunodeprimidas, pode representar uma grande complicação. Existem os antivirais, mas são medicamentos muito caros, inacessíveis para a maioria dos indivíduos. Por este motivo, na prática, o que fazemos é isolar os pacientes até que as lesões estejam completamente resolvidas, para evitar a transmissão a outros, e tratar com medicação sintomática, além de abordar eventuais infecções secundárias. >
Precisamos ter muito cuidado com aquilo que rotulamos. Uma doença ligada ao macaco pode dar margem a interpretações equivocadas e até eventuais atos de crueldade contra os animais. Cientificamente, como hoje o mecanismo de transmissão é inter-humano, e não do macaco, achou-se por bem adequar o nome para Mpox, que é o nome mais correto e representa bem o momento atual da doença. >
Por Juliana Antunes >