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Amanda mostrou o que é ser campeã


 

  • Ivan Dias Marques

Publicado em 15/09/2017 às 09:52:28
Atualizado em 17/04/2023 às 13:24:07
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Pode-se questionar o resultado geral da luta entre a baiana Amanda Nunes e a quirguistanesa Valentina Shevchenko, no UFC 215, sábado passado, mas jamais a postura da campeã, em se tratando de uma disputa dura de cinturão.

Dificilmente, alguém assistirá a um combate de MMA torcendo por uma luta estudada, tática e racional. Mas um campeão não pode abandonar esses aspectos se quer continuar vestindo a cinta. O que faz um vencedor de verdade não é apenas sua técnica, mas saber suas fraquezas e seus limites e reduzir a possibilidade do adversário minar esses defeitos.

A postura de Valentina era bem óbvia. Iria apostar no cansaço da baiana para capitalizar nos rounds finais. Amanda veio pronta para isso, se desgastou pouco e pôde fazer um 5º round - decisivo para o resultado final - gastando tudo que ainda havia no tanque.

Fazendo uma metáfora, foi uma velocista que decidiu se adaptar a uma prova de fundo. Em vez de gastar o gás para abrir vantagem, preferiu manter o mesmo ritmo e usar sua potência no sprint final.

Não faltaram reclamações de que Amanda lutou com o regulamento debaixo do braço. Eu não enxergo isso como algo depreciativo. Diversos atletas individuais utilizam essa forma de competir na hora de uma disputa mais acirrada. Adriano de Souza, no surfe, tem feito isso. No tênis, é comum tomar uma postura defensiva para esperar o erro do adversário. 

Até porque a postura de Amanda foi diferente da de Tyron Woodley, por exemplo, que defendeu seu cinturão dos meio-médios apenas buscando anular as armas do rival. A baiana atacou, buscou vencer. Mas ela compreende que hoje em dia há muito mais em jogo do que saciar a sede de sangue dos espectadores. Ainda bem.

De novo Com o resultado positivo da contraprova de seu exame antidoping antes da luta contra Daniel Cormier, Jon Jones teve seu cinturão, mais uma vez, retirado pelo UFC e, no caso, devolvido ao ex-campeão.

Do mesmo jeito que é incompreensível Jones tomar esteroides, me encho de ceticismo ao raciocinar sobre uma possível contaminação/uso inconsciente da substância dopante, no caso o turinabol.

Os motivos são vários: tomar uma substância esteroide sabendo que existia um exame antidoping marcado (Jones não foi pego em nenhum outro exame pré ou pós-luta, incluindo os realizados de forma surpresa), utilizar uma substância que pouco acrescenta sendo ingerida sozinha e num espaço de tempo tão curto (não é injetável, e, sim, via oral, dependendo da digestão pra fazer efeito) e correr o risco de ter a carreira abreviada se fosse pego. Pouco inteligente.

Ao mesmo tempo, Jones é responsável por tudo aquilo que ingere e o turinabol é um esteroide antigo, que dificilmente haveria contaminação de um suplemento na atualidade. O lutador, ontem, no Twitter, jurou pelos próprios filhos que nunca tomou qualquer esteroide, mas o que vai valer será o resultado de seu julgamento. A pena, caso condenado, pode chegar a quatro anos longe do octógono.

Memória Esta coluna é dedicada a Nina, alguém especial que nos deixou nesta semana.

Ivan é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras.