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‘Comia um quilo e meio’, diz soteropolitano que perdeu mais de cem quilos em aposta

O publicitário e ex-obeso Fabiano Lacerda lança, neste sábado (2), o livro 'A Aposta'

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  • Verena Paranhos

Publicado em 2 de setembro de 2017 às 11:02

 - Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

192 quilos e 800 gramas. Esse era o peso que o publicitário Fabiano Lacerda tinha aos 31 anos e não sabia. Achando que pesava 180 kg, em 2014, o soteropolitano apostou com colegas de trabalho que perderia 60 kg em seis meses. Mudando hábitos, ele atingiu a meta em cinco meses e não parou por aí. Em um ano, Fabiano eliminou mais de cem quilos. De lá para cá, manteve o peso ideal e hoje é um influenciador digital, com quase 50 mil seguidores no Instagram. Atualmente, ele faz palestras e atua como coaching, para motivar pessoas a saírem do sofá e mudarem suas vidas também, o que não tem necessariamente a ver com emagrecimento. O resultado de todo esse processo, Fabiano transformou em livro. Ele lança A Aposta (R$ 24,90), neste sábado (2), às 16h, na Livraria Cultura do Salvador Shopping. A publicação também pode ser comprada pelo site Menos 100. Leia abaixo o depoimento do baiano.

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Sempre fui gordinho desde criança. Só que era um gordinho que fazia esporte, gostava de atividade física. Até os 20 anos. No final da faculdade, precisei começar a trabalhar, aí abri mão disso. Meus horários ficaram desregrados, mudaram as regras. Na verdade, nem existiam. Aí eu comecei a engordar. Aos 20 anos eu tinha 1,83 m de altura e uns 105, 110 quilos. Eu emagreci mas não encolhi. Aos 31 anos, já tinha ganhado cem quilos. 

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O fato de ser bem-humorado e me aceitar esteticamente, me mantinha numa zona de conforto. Talvez fosse um artifício da maioria dos gordos: ser brincalhão para acabar se enturmando na sociedade. Mas tem gente que não é assim. Eles eram preocupados comigo, mas eu era aceito por meus familiares, namoro, amizade. Tinha meus limites, eu sabia. Não era todo mundo que eu conseguia flertar, ter uma amizade. Querendo ou não, as pessoas são preconceituosas, têm receio. Não sabem o que falar, como tratar, e acabam fazendo um julgamento de forma inconsciente mesmo. Algumas discriminam, mas muitas fazem sem saber. 

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Uma das coisas que me mantinha na zona de conforto era não beber. Mas comia muito mesmo, principalmente à noite. Chegava a comer um quilo e meio nesse horário. Eu sempre comia tudo, coisas saudáveis também, mas, se tivesse porcaria pelo meio, eu comia também.Na casa dos meus pais, em fast food e na agência de publicidade onde trabalhava. Nesses lugares você acaba comendo muita pizza, muita comida fácil, de fast food. Era essa a base da minha alimentação depois que concluí a faculdade. Não posso dizer que engordei porque trabalhava num lugar assim, porque foi lá que emagreci também. É uma questão de escolha. Aí, dos 21 aos 31 anos engordei mais de cem quilos.  A Aposta será lançado neste sábado (Foto: Divulgação) O que me incomodava eram os limites. Eu dizia um dia eu vou ter que emagrecer, mas quando esse limite chegasse. Eu não podia pegar um coletivo público, passar numa catraca, deitar numa rede. Praticamente não podia andar de avião, não era todo carro que eu andava. Eu iria emagrecer, talvez num dia que eu não conseguisse passar numa porta, mas seria muito mais extremo, me tirar da zona de conforto.  

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Alguns amigos de trabalho ficaram me provocando, dizendo que eu não seria capaz de perder uma quantidade de peso, apesar de gostar de dinheiro e de desafios. Ficaram fazendo isso durante um tempo. Aí um dia, eu estava numa ligação com meu pai e resolvi colocar no viva voz. Falei para meu pai dizer que eu era capaz de ganhar essa aposta para eles pararem de encher o saco. Aí meu pai falou: “Meu lance é R$ 5 mil”. O cara que eu esperava que ia ficar a meu favor, estava ali contra. Aí ele falou a frase que me fez mudar: “Eu quero perder esse dinheiro” e me provocou.

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Aí demorou mais uns dias até eu aceitar a aposta. Isso foi acontecendo dia após dias. Falei então vamos organizar a aposta. Alguém falou que eu poderia perder ⅓ do meu peso. Eu achava que eu pesava 180kg, mas na verdade eu pesava 192,8 quilos. Eu nem sabia. Aí alguém disse de lá, então pode ser em seis meses, dez quilos por mês. Eu fui gostando disso. Um, mais timidozinho, levantou a mão e falou “Você não vai perder nada se não cumprir sua meta?”. Aí eu disse: cada um aposta o mínimo de R$ 60 e, se perder, eu pago o dobro do valor. 

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Até então eu estava emagrecendo por causa da aposta, para ganhar o dinheiro.  A virada só aconteceu depois da aposta. Comecei a me questionar o que eu realmente queria fazer da minha vida. Tinha perdido 60 quilos, estava com 132 e ainda era obeso grau mórbido 2. Entrei em conflito porque comecei a perceber que estava ali só por causa da grana. E não era só por causa da grana. Percebi que foi por meu ego. E fui movido pelo posicionamento de meu pai. O dinheiro era a mínima coisa que eu precisava ter. 

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Eu atingi a meta de 60 quilos em cinco meses. Peguei algumas pessoas desprevenidas, mas todo mundo pagou. Meu pai pediu mais um mês para pagar, foi pego de calças curtas. “Não achava que você iria ganhar, ainda ganha antes do tempo”, ele disse. 

***"Eu reconhecia metade de mim. Muitas vezes me olhei no espelho e não me reconheci magro" Fabiano Lacerda ***

Precisei trocar todo o guarda roupa, duas vezes. A grana também serviu para isso. Depois criei uma nova meta: perder cem quilos. Apostei comigo mesmo, o que era mais forte do que qualquer outra aposta. O dinheiro que ganhei, eu investi em mim e o restinho que sobrou no livro. A ideia é motivar outras pessoas não só a perder peso, mas tomar uma atitude e mudar de vida, ir atrás do seu objetivo, parar de fumar, se dedicar aos seus estudos para passar num concurso. 

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Manter é muito mais difícil do que perder. Há dois anos ganhei a aposta e fico fazendo escolhas o tempo todo. Quando acredito que vale a pena, eu vou lá e me permito. Se um dia eu vou para um aniversário, eu não fico restrito igual ao período do emagrecimento. Eu como o que quero. Tenho duas escolhas: ou me preparo antes, através de dieta e exercício, ou compenso depois. Mantenho uma dieta saudável, como bastante fruta. Não é necessário só ter equilíbrio corporal, é preciso ter equilíbrio emocional também. Algumas pessoas como eu  ficam triste se não comer o que gostam. Eu chegava a comer cinco acarajés e abarás. Hoje eu escolho um ou outro. Muitas vezes como metade de cada um. Convenço a pessoa a comer as outras duas metades. 

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Na época da aposta, o mais difícil foi abrir mão da vida social. Eu não podia ficar indo para lugares onde sabia que iria sabotar minha meta. O pessoal do trabalho muitas vezes tentou sabotar também, levava comida, mandar fotos dos pratos na churrascaria. No período, isso não me abalou. Depois foi pior, porque eu tinha uma flexibilidade maior para escolher. Sofri um pouco mais. Hoje, admito que deveria ter tido um acompanhamento psicológico. Não tive porque errei, fui inconsequente. 

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Mas contei com a ajuda de outros profissionais. Comecei com caminhada, procurei educador físico, nutricionista. Apesar de eu não querer uma vida saudável no início, sabia que esses profissionais iam me ajudar a bater a meta. Foi importante me ajudar a conseguir passo a passo. Eu não podia fazer atividade física pesada. O importante é querer fazer a constância, o que me mantém aqui é isso. Não uma atividadade física que me faz ficar magro. É porque todo dia eu vou lá e faço um pouquinho. Como em qualquer área de nossa vida. 

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Eu não preciso ser igual a outra pessoa. Muitas vezes a gente quer ser outra pessoa, não o que somos. A grama do vizinho é mais verde. Aí as pessoas não conseguem e desistem. Eu não dou dicas de alimentação nem de atividade física, porque eu não sou profissional dessas áreas. Não quero que as pessoas façam o que eu faço.Eu sei que estou indo contra a correnteza dos influenciadores digitais que não são profissionais da área e ficam dizendo o que as pessoas têm que fazer. Eu quero motivar as pessoas com a minha história. A palavra é motivar, mover.

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Tem um método e uma fórmula que são certeiros. O método é L. D. S.: levanta do sofá. Dá certo! A fómula: ideia + ação = transformação. É batata. Vem na hora. É com certeza. Muitas vezes, as pessoas têm uma ideia e não têm ação. E muitas vezes têm ação e não têm ideia. Isso tudo porque não querem ser quem são. Quando percebi isso, depois da aposta, digo que posso chegar aonde quiser. Minha grande motivação é motivar outras pessoas.