'Todo garanhão é corno' (uma consequência da monogamia unilateral)

Flávia é produtora e mãe de Leo

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 4 de março de 2018 às 09:21

- Atualizado há um ano

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Mainha tem lá seu feminismo e duas filhas heterossexuais que cresceram ouvindo ditados e dicas de como não se lenhar mais do que o inevitável nas relações com o "sexo oposto". Muitas ótimas e a minha preferida: "todo garanhão é corno". Esta, de fato, genial.

Monogamia é um negócio difícil. Para todos, claro. O desejo não respeita convenções nem credos ou instituições. Escolher apenas um (ou uma) é decisão racional que a pessoa é livre pra tomar ou não. Sabendo que toda relação tem seus altos e baixos. E que depende de empenho mais do que de hormônios, quando a paixão passa.

Há outros formatos, reinvenções possíveis quando há amor, de fato, mas nunca tive um homem que topasse relação oficialmente aberta, pros dois lados. Nem aquelas tais "férias conjugais" que eu acho um charme. Porque, claro: na mulher "dele" ninguém tasca. Só que monogamia não é o forte do nosso honrado macho hetero tradicional. Mas é fazendo mulher de besta que eles gostam mais.

Na maioria das vezes, homens não terminam relações quando arranjam amantes nem são eles que dizem "sejamos mais soltos", se os sentimentos mudam. Isso, por pura territorialidade. Amor é meuzôvo que quem ama tem empatia e não faz o outro de palhaço. Salvo raras exceções, a infidelidade masculina é mesmo uma questão de hábito. Exercício de poder e afirmação de uma esquisita definição de "superioridade".

Como também era costume que a gente mil vezes perdoasse. Pelo menos aparentemente porque ninguém nunca me convenceu de que mulher, em algum momento da história, tenha sido, verdadeiramente, otária. Falo por mim, agora: já traí algumas vezes "de volta", digamos assim. Bem escondidinho. Sempre um primeiro passo pra pular fora. Um começo de desapego que não sou eu que vou sofrer, nesse caso. Uma "terapia" selvagem. Que não tem nada de "madura", mas quem liga? De certa forma, funciona. E é bem comum, aliás.

Queria poder mostrar o áudio da minha amiga dizendo "hoje vou transar muitooo, amanhã te conto" e não era do marido "garanhão" que ela falava. Me disse que não quer separar agora, por questões práticas. A outra, também descobriu umas coisas e não teve papo: passou um ano namorando com quem quis e arrumando o apartamento novo (escondido) até a hora do "beijo, tchau". Uma terceira batizou com o nome do amante um dos filhos do casal. Ela estava grávida quando descobriu um caso do marido e, como você sabe, gestantes também são desejadas. 

"Aprenderam o pior lado dos homens", dirão os mais tradicionais. Questão de sobrevivência, quem sabe? Fazer algo divertido, subverter a ordem, inverter os papéis, deixar tudo mais leve, ué! A "maturidade feminina" também é uma convenção. Às vezes, diante de uma dor, a saída é molecagem. E quem tem moral pra julgar? 

Alguns já se acostumaram e não vão ligar. Mas, pra quem treme só de ouvir a palavra "corno", a regra é clara, antiga e universal: trate os outros exatamente como quer ser tratado. Garantir não garante, mas ajuda muito a pessoa não provocar.