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Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2022 às 05:49
- Atualizado há 2 anos
Ubiraci Mercês é CEO da Sanar, empresa baiana que, desde 2014, se dedica a disponibilizar e estimular a produção de conteúdos de oito áreas da Saúde: medicina, enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição, psicologia, odontologia e medicina veterinária. A estratégia para fazer nascer a startup foi apostar na necessidade de digitalização da profissão do médico, e promover o acompanhamento desta nova geração de profissionais desde o início da vida acadêmica até as mais variadas especializações.>
A aposta deu certo, e hoje a Sanar conta com mais de 450 pessoas, entre funcionários e colaboradores, tem parceria com 15 universidades dentro do Brasil e conta com redes de compartilhamento de dados e informações que ajudam no aprimoramento da plataforma e dos conteúdos. A meta para os próximos anos é tornar a experiência dos profissionais da Saúde ainda mais digital e positiva. Ele é um dos convidados do 13º Fórum Agenda Bahia, evento promovido pelo CORREIO. >
CORREIO: A gente já tinha um mercado estabelecido de cursos online voltados para o Direito. Por que criar uma plataforma digital de conteúdo voltado ao estudante da área de Saúde? Ubiraci Mercês: A gente teve sim uma inspiração no Direito, mas a gente construiu algo muito particular e único na história da Sanar. Verificamos um problema na distribuição de conteúdo na área médica. Imagina uma área onde você tem uma transformação de conteúdo numa velocidade muito grande, pois os protocolos médicos e a fronteira da medicina estão sempre em evolução. E até então toda a prática de consumo de conhecimento era feita através de livro. Você tinha que mandar pra uma grande varejista para distribuir, se tivesse qualquer erro muitas vezes levava anos para corrigir um conteúdo médico que você precisa ter uma dinâmica muito rápida. Além disso, são produtos super caros e pouco acessíveis para um novo médico geracional, o novo estudante geracional da área da Saúde. Seja o médico que ficou mais próximo da classe B, classe C, seja o estudante da Saúde que queria ter contato em tempo real com o conhecimento. Foto: Divulgação Então, quando você juntava tudo isso, você tinha um problema de distribuição, um novo perfil de consumo de conteúdo combinado com esses preços não tão acessíveis. Então esse foi o pontapé inicial pra gente começar nossa história da Sanar. Mas, diferentemente do que existe no Direito e das empresas que estavam estabelecidas até então, a gente resolveu ser a empresa do profissional, a empresa do médico.>
Vamos ficar com o médico desde o momento em que ele pisa na faculdade até o seu último dia profissional entregando conteúdo, jornadas educacionais, tudo que ele precisa para sua carreira. Diferente de outras profissões, a área de Saúde, em especial a medicina, é uma constante. Depois do estudante tem a residência, depois da residência tem a especialização, depois tem a atualização médica, novos procedimentos… É uma jornada longa e o profissional precisa de muito suporte. Foi assim que a gente começou nossa trajetória, nos inspiramos no que existia no mercado que estava mais em transformação pro digital, como no Direito, e construímos nossa própria história.>
CORREIO: A Sanar hoje tem livros, editais, aulas para diferentes estágios da carreira de quem trabalha na área de Saúde, que contemplam medicina, fisioterapia, nutrição, farmácia, medicina veterinária… Por onde vocês começaram e como criaram mais braços? Na verdade a gente começou com duas ou três áreas da Saúde, uma delas era medicina. E foi na medicina foi onde a gente se estabeleceu, e investiu para construir a história de uma empresa que não existia em nenhum lugar até então do mundo. E, uma vez que a gente começou a pegar a carreira do médico e entregar serviços diferentes pra cada uma das etapas, a gente foi entendendo que o que funciona para o médico acaba funcionando para outros profissionais da Saúde. Você tem a faculdade, depois as residências multiprofissionais, depois tem a necessidade de atualização e a gente foi replicando um pouco do conhecimento que a gente foi desenvolvendo para o médico a algumas outras verticais da Saúde. Além da medicina, a gente atua em sete verticais. Mas o foco da companhia, todo o mantra, todo o direcionamento hoje da empresa está voltado para a vida do médico.>
CORREIO: Em 2014, quando vocês começaram, estudar com videoaulas e conteúdo 100% digital não era algo tão normalizado quanto hoje. Como vocês perceberam a mudança no perfil dos estudantes e como foi a adaptação ao longo desses anos? Eu acho que tivemos dois fatores. Um deles foi um desejo particular nosso, eu diria quase que nosso lado artístico de querer pintar um mundo diferente. A gente queria aumentar a potência do médico, expandir capacidade desse profissional. Então essa essa ideia, esse propósito de expandir a capacidade do médico foi um elemento importante.E o segundo objetivo, o outro fator, é que a gente fez a empresa nascer criando comunidades digitais pra profissionais da Saúde. Fomos criando redes específicas para estudantes, para o médico residente, para quem se formou. Elas inicialmente serviam para aproximar, socializar. Mas as pessoas foram interagindo, trocando ideias, trazendo bastante informação, por isso fizemos redes específicas para o estudante, para o médico residente, para quem já se formou. Cresceu muito mais rápido do que os nossos próprios conteúdos que a gente tinha até então, e essas redes tornaram a empresa com a maior comunidade digital da Saúde.CORREIO: E quais foram os ganhos que vocês tiveram? Uma foi a capacidade de conhecer o médico como ninguém. A gente foi tomando as dores que eles tinham assim que eles pisavam na faculdade. Vendo as lacunas que algumas faculdades deixavam. De professores, de conteúdo, métodos. A faculdade de medicina é zero digital, e estava surgindo uma nova geração de um médico que tinha outra forma de se relacionar, lá em 2014, 2015. Essa geração não estava sendo percebida. E diversas outras informações que a gente foi descobrindo, às vezes coisas contraintuitivas. Por exemplo, o tema de finanças para médicos. Isso ajudava, inclusive, na formação.>
E foi via essas redes, onde a gente foi tendo muita informação, que conseguimos dar consistência combinado com o propósito de querer aumentar a capacidade do médico. Pensamos assim: “olha tem uma transformação nesse mercado que está acontecendo. Está surgindo um novo médico, muito mais conectado, que gostaria de ter muito mais conveniência. Um profissional muito mais preocupado em entregar valor de fato. E a gente foi combinando tudo isso para montar a estratégia da companhia. Começamos com os produtos para o estudante, uma plataforma para o estudante, depois uma plataforma para o médico residente e agora a gente segue aí pra até a sub-especialidade do médico, até a sub da sub-especialidade do médico. Na verdade, médica, porque nosso público hoje tem mulheres na maioria.>
CORREIO: O que você falou agora já me traz uma outra abordagem, vocês estão verificando que hoje o médico na verdade é uma médica, e jovem, né? Houve essa mudança de perfil. Como vocês conseguiram capturar essa mudança e direcionar melhor o conteúdo da Sanar? Basicamente ela tem três grandes pontos de captura de informação desse mercado. Hoje um terço dos estudantes de medicina são assinantes da Sanar. Grande parte hoje dos médicos recém-formados também estão conectados conosco de alguma forma, e isso permite que a gente una três pontos. O primeiro é mídias sociais.>
Então a gente tem essas comunidades on-line baseadas em Instagram, YouTube, Telegram, diversas plataformas. Dois, a gente tem um portal médico, hoje gratuito, que é um dos top três portais médicos em número de acessos do Brasil. De informação médica, protocolo, ciência, artigos… E, por fim, os nossos próprios produtos. Como eu comentei, a gente tem bastante usuário e é sobretudo médico mais mais jovem. Ou médica mais jovem. Então tudo isso traz pra gente um repositório de informação que a gente captura e conecta todos esses pontinhos. E a gente quer saber o que o usuário das redes gostaria, o que apetece a ele, o que ele considera relevante. >
CORREIO: Ou seja, é necessário uma grande análise de dados... A gente vê todos os índices de engajamento baseados numa quantidade de dados enormes que o time de engenharia de tráfego olha com muita frequência. Nossos times de produto tecnologia olham todos esses dados de acesso do nosso portal, do que está sendo consumido, por quanto tempo, que tipo de conteúdo que é quente pra eles. E por fim, nos nossos produtos a gente tem interação, há troca de informação. Então, são três naturezas de informações, mas que todas combinadas, que trazem informações de qual é o tipo de conteúdo, o que falta, qual é a linguagem do conteúdo, qual é de responsabilidade do professor, qual não é com o professor...>
A gente foi descobrindo várias coisas que melhoram a experiência do aluno, e em tempo real. E também do lado de mercado, para a gente ser uma empresa que consegue reagir a essa nova derrubada de fronteira, que é onde a gente quer levar a Sanar. Agora vamos lançar um programa de robótica pra urologia. Acabamos lançar um programa de endoscopia de catarata. Todas as informações combinados trazem oportunidades. O que a gente quer, qual é a lacuna de formação médica, e como é que a gente pode ajudar. Então, tudo isso é baseado nessas interações, nesses três pontos de contato que eu comentei. Parte da equipe da Sanar (Foto: Divulgação) CORREIO: Como a pandemia afetou o trabalho de vocês? Mais gente apareceu, teve mais concorrência? Como vocês se mantiveram relevantes durante essa transformação? Então, você tinha um comportamento, eu chamo aqui de sopa orgânica, né? Então, você tinha lá todos elementos prontos ali pra ter uma transformação digital do médico. A pandemia basicamente foi um raio catalisador. E essa catalisação veio da diminuição das barreiras, e mudanças, sobretudo legislativas, ajudaram muito. Uma foi a necessidade de você ter conteúdo digital até para ajudar as universidade no momento em que estava todo mundo muito vulnerável. Era a única forma. O segundo é permitir a telemedicina. Essas duas coisas aceleraram muito o comportamento do médico para o mundo digital. Como resultado disso, a Sanar, hoje, é parceira de mais de 15 universidades no Brasil, duas no Paraguai, em Angola, a gente está fazendo programa para médicos de Moçambique que querem vir aqui fazer a formação.>
E a gente forma médicos para poder ofertar também medicina lá. Então tudo isso acelerou muito a formação médica permitindo o lado digital como um lugar de complemento. Uma preocupação que nós temos é com a qualidade do conteúdo. Temos um núcleo de mais de quarenta médicos aqui dentro da empresa, a gente avalia cada conteúdo, como é que esse conteúdo está dentro de um protocolo mínimo de ciência, do que é feito na OMS (Organização Mundial da Saúde). As instituições são base para que a gente mantenha ou eleve o nível de conhecimento da comunidade médica. Mas sim, teve um aumento de concorrência, de mais gente fazendo, e para a gente isso é muito bom. Porque a gente está numa fase ainda muito inicial de transformação, mais uma vez, de um profissional que era baseado no analógico e que está se permitindo ir ao mundo digital. E isso tem ajudado muito o médico, até executar serviços como na psiquiatria ou na medicina que você consegue fazer hoje via digital e só está no início. Isso permitiu que a gente se posicionasse de fato como a empresa parceira nesse novo ambiente, e é sendo parceiro de quem quer produzir conteúdo de qualidade para profissionais.CORREIO: Mas e olhando para o futuro, o que você enxerga como tendência desse mercado? A medicina está num momento de extrema mudança. Vinte por cento da população mundial ainda não tem acesso a médico, por mais incrível que pareça. A tecnologia na medicina pode ajudar a combater isso. Então cada vez mais a gente está se posicionando pra diminuir essa fronteira e essa distância, entre o mais avançado na medicina para que o médico tem hoje exatamente. A Sanar quer ser para o médico o que o Windows foi para o PC. Essa é nossa visão de longuíssimo prazo, onde hoje a gente está criando essa empresa de relacionamento com o profissional que vai durar por trinta, quarenta anos de jornada. >
CORREIO: Então é uma plataforma baiana que tem como objetivo fidelizar um médico, certo? Perfeito. Essa disrupção na Saúde vai continuar. E acredito que a gente vai conseguir elevar muito capacidade da Saúde como um todo. E isso é muito legal, ver isso nascer aqui na Bahia, inspirando outras empresas que querem entrar no setor, empresas de ouros setores que olham a Sanar como modelo de negócio. Dá orgulho, obviamente como empreendedor, de ver isso. Mas o ponto é poder construir uma medicina muito melhor e o dia a dia do médico muito melhor.>
Como será a 13ª edição do Fórum Agenda Bahia?>
No dia 18 de outubro acontecerá a 13ª edição do evento promovido pelo jornal CORREIO, que engloba inovação, empreendedorismo, tecnologia e tendências que vão das relações pessoais até o mundo corporativo. >
O evento acontecerá em formato híbrido e a parte presencial será no Wish Hotel, no Campo Grande, das 9h às 18h30 (com direito a recepção e happy hour). A interatividade continuará como marca registrada, e alguns momentos do evento terão transmissão para o público fora da capital baiana. É o modo híbrido, tão discutido durante a pandemia da Covid-19, conduzindo “Os Desafios do Agora”, tema deste ano.>
Nos últimos dois anos, o Agenda Bahia foi feito de forma digital. O retorno ao presencial foi muito festejado pelo CEO da Rede+ e presidente do Instituto Inova+, Rodrigo Paolilo. Ele, que é uma das pessoas diretamente ligadas ao fórum, já que a Rede+ é responsável pela curadoria do evento, adiantou que o formato pensado para esta edição equilibra a influência tecnológica que marcou a época mais restritiva da pandemia com as novas possibilidades e, até mesmo, desafios dos reencontros.>
“Vamos debater o que as cidades precisam fazer para inovar, criar melhores ambientes de negócios, como as pessoas e as empresas enxergam as tendências do futuro do trabalho, e as oportunidades que envolvem conexão com o futuro”, explicou. >
O Fórum Agenda Bahia será gratuito e as inscrições serão abertas nos próximos dias. Tudo será informado no jornal impresso, site www.correio24horas.com.br, aplicativo e redes sociais do jornal (@correio24horas).>
O Agenda Bahia 2022 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Acelen e Unipar e apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Fieb, Rede Bahia e GFM 90,1 e Apoio da Suzano, Sebrae e Wilson Sons.>