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A ciência do mar para as urnas


 

  • Da Redação

Publicado em 05/08/2022 às 17:35:56
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 Com um território marinho de 3,5 milhões de quilômetros quadrados, mais de 7 mil quilômetros de costa concentrando cerca de 27% da população, o Brasil ainda vive de costas para o mar. A chamada “Amazônia Azul” é fundamental para a economia do País, sustentando 85% da exploração de petróleo, 45% de todo o pescado produzido e 95% do transporte do comércio exterior brasileiro. A atividade turística nesta área responde por 35% do turismo interno e 70% do turismo internacional, gerando mais de 500 mil empregos formais e inúmeros informais.

O Brasil abriga praias, restingas, lagunas, manguezais, bancos de gramas marinhas, além dos recifes rochosos e de corais que sustentam muitos desses benefícios à população. Diariamente arriscamos essas riquezas econômicas e naturais ao fomentar a exploração marinha ou “expansão azul” ignorando informações científicas. Seguimos sem um plano consolidado de desenvolvimento costeiro, fomentando exploração de óleo, gás e mineração em áreas sensíveis e assumindo o risco de que rejeitos de mineração ou vazamentos de óleo comprometam a vida marinha e o que ela nos oferece, na esperança de que a imensidão do mar carregue tudo para longe dos nossos olhos.

Um relatório da UNESCO divulgado na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas deste ano coloca o Brasil entre os países que menos investem em ciência oceânica. Apenas 0,03% dos recursos aplicados em ciência no País são destinados às ciências do mar, 98% a menos do que a média global. O Brasil conta com menos de 10 cientistas do mar a cada 1 milhão de habitantes, enquanto em países como Portugal este número chega a 300 cientistas. Ainda assim, a ciência marinha brasileira mantém seu protagonismo global mesmo que sua relevância não seja reconhecida no País. Por exemplo, o Brasil não produz estatísticas pesqueiras há 11 anos, cuja importância é inequivocamente apoiada pela ciência nacional e global. O que isso significa? Que estamos tirando peixes do mar sem nem saber o quanto ainda resta para ser explorado. É como se estivéssemos usando um cartão de crédito sem saber do limite.

Com dados pesqueiros, a ciência seria capaz de orientar uma pesca sustentável ambiental, econômica, social e culturalmente. Este é apenas um de tantos cenários que demonstram o descompasso histórico entre as políticas públicas e as ciências do mar, prejudicando a economia, o meio ambiente e a sustentabilidade. Mas com tanta coisa para ponderar na hora de votar, como incluir o mar nesta decisão? Relembrando que políticas de meio ambiente, ciência e educação promovem o desenvolvimento socioeconômico sustentável e devem estar na ponta dos nossos dedos ao votarmos em outubro. Precisamos ajustar o prumo e resolver este descompasso. Um País que vira as costas para o mar, soterra seu passado e afoga o seu futuro.

Guilherme Longo é Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Este artigo foi escrito para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência.