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O apagão científico brasileiro


 

  • Da Redação

Publicado em 23/05/2019 às 04:00:00
Atualizado em 19/04/2023 às 19:33:06
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O recente contingenciamento das verbas para a educação superior acelera o ritmo crescente de cortes dos últimos anos na ciência brasileira. O resultado desta falta de investimento ainda não está refletido de maneira quantitativa na produção científica nacional, já que o Brasil ainda figura entre os 15 países que mais produziram artigos científicos no mundo, segundo ranking elaborado pela revista Scimago, contudo, certamente será sentido pelas gerações futuras (uma vez que se leva tempo para realização e publicação de pesquisas), um fenômeno que podemos chamar de “apagão científico”.

A capacidade científica de um país é um indicador importante de desenvolvimento, a história demonstra que países com investimento intensivo em Ciência e Tecnologia estão menos propensos a crises econômicas, já que sem esse investimento não há inovação, levando a economia a se estagnar, o que pode resultar em uma crise. 

O panorama da inovação internacional indica que grande parte da riqueza criada nos EUA, por exemplo, tem origem nas pesquisas universitárias, em tecnologias inovadoras, como a internet, os lasers, smartphones, drones, além dos produtos biológicos, desenvolvidos por pesquisadores em laboratórios acadêmicos. 

Podemos identificar três núcleos científicos na esfera internacional: o núcleo central de produção, aquele que possui o poder científico, composto pelos “Cinco Grandes” (“The Big Five”: China, União Europeia, Japão, Rússia e EUA); o núcleo semiperiférico, que possui certo poder científico; e os participantes periféricos, onde o Brasil se encontrará pelos próximos anos.

A periferia científica depende do núcleo central e precisa confiar no fomento deste, sujeitando-se aos seus objetivos científicos e importando teorias, uma vez que tem a sua própria produção ceifada pela falta de recursos. O desafio dos cientistas brasileiros se agrava já que além de recursos falta também visão estratégica dos políticos para posicionar a pesquisa como rota para o desenvolvimento do país. Os pesquisadores da periferia científica, já sem energia para convencer as autoridades políticas sobre a necessidade de utilizar a ciência em prol de solução de problemas sociais, sanitários e econômicos, migram para o núcleo central, fluxo denominado de “fuga de cérebros”.

As recentes medidas vão retirar o Brasil do mainstream científico pelas próximas décadas e reforçar a posição do país como importador de conhecimento e inovação enquanto exporta os cérebros que os produzem, posição que nos remete aos tempos do Brasil colônia, onde exportávamos nossas riquezas e importávamos bens de consumo, característica essa que permanece até hoje e que atingirá em cheio a produção de conhecimento científico, reforçando assim o “complexo de vira-lata” brasileiro.

Joana Avena, Mestre em Educação e coordenadora de internacionalização da Unijorge