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'Medo de não concluir o curso', diz estudante do Ifba, após bloqueio de recursos


 

Estudantes vão se reunir nesta terça (7) e quarta (8) para debater a situação dos institutos federais

  • Gabriel Amorim

Publicado em 07/05/2019 às 06:20:00
Atualizado em 19/04/2023 às 18:05:05
. Crédito: Foto: Divulgação

Os estudantes do Instituto Federal da Bahia (Ifba) estão se organizando para se posicionar diante do anúncio do bloqueio de verba da instituição feito Ministério da Educação (MEC). Na manhã desta terça-feira (7), acontece uma reunião entre os estudantes dos cursos técnicos de nível médio, que estão de férias. Os estudantes do nível superior se reúnem na noite de quarta-feira (8).

“A primeira ideia que se tem é que você não vai conseguir concluir o curso. O curso já é muito difícil e chegar na última etapa e saber que talvez não vai conseguir concluir é muito ruim”, destaca Maria Clara Simas, 17 anos, estudante do curso técnico em Química e integrante do Grêmio Estudantil Denilson Vasconcelos.

A estudante destaca ainda que o impacto já foi sentido e que o curso de Química, por exigir investimentos na parte prática, de laboratórios, deve ser um dos mais afetados. “O curso de Química deve sofrer bastante porque é caro, os reagentes, as coisas que tornam o curso prático, são coisas caras. Não dá pra ser só teórico”, afirma.

A estudante conta que, além das atividades em aula, faz parte de grupo de pesquisa na instituição. O grupo tinha conseguido desenvolver um processo para baratear o custo de uma substância usada nas aulas praticas de R$ 1.000 para R$ 200.“Íamos mostar o resultado dessa pesquisa em um congresso, mas já saiu uma nota dizendo que não vai mais ter verba para esses eventos”, lamentou.A nota citada por Maria Clara, foi emitida pelo Instituto Federal da Bahia nesta segunda-feira (6) e diz que estão suspensos pedidos de verba para visitas técnicas, viagens para competições, congressos e eventos.

Superior Além dos alunos de curso técnico de nível médio, os de ensino superior também estão preocupados com o futuro. É o caso de Luciano Rebouças Neto, 23. Aluno do IFBA desde 2009, Luciano concluiu o curso técnico em Eletrotécnica e agora está começando o último ano do curso superior em Engenharia Industrial e Elétrica.“É um sentimento de decepção com a situação do país, não só com a gente, mas com outros institutos. A gente não sabe até que ponto isso vai nos afetar, são muitas questões, se vai ter cancelamento de semestre, se vai afetar a entrada de gente nova, se quem tá lá dentro vai conseguir continuar. A gente não consegue ter nem ideia do que vai acontecer e dá medo”, destaca Luciano.O aluno acredita que o corte de verbas pode e deve afetar servidores terceirizados, que acabarão precisando ser demitidos, o que pode afetar o funcionamento dos cursos. “Não sabemos se vai gerar insatisfação nos professores e afetar o curso”, completa.

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Os cortes afetam não só o Instituto na capital, mas preocupam também quem está no interior. O professor Saulo Luis Capim, do campus de Catu, coordena oito projetos de pesquisa, todos voltados para a área da saúde, e terá que parar com seis das pesquisas. “É simplesmente desesperadora a situação“, lamenta.

Doutor em Química, o professor fala das diferenças entre ser pesquisador no Brasil e em outros países no mundo. “Em outros países, quando tem uma crise, o primeiro investimento que existe é na educação. Aqui tem o costume de se cortar logo na educação quando vem a crise. Isso nos deixa tristes, porque a gente sabe a importância”, conta.

Para Saulo, isso acaba interferindo não só nos pesquisadores com anos de carreira, mas também nos alunos. “Aqui, a gente tem projetos que são desenvolvidos por alunos do ensino médio e eles chegam na graduação com um nível de conhecimento altíssimo em pesquisa. Como incentivar um aluno a fazer pesquisa se ele percebe que a primeira coisa que se corta é a pesquisa? Não tem como incentivar. É por isso também que pesquisadores de renome estão deixando o Brasil”, finaliza ele.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier