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O Bahia não nasceu pra ser pequeno


 

  • Darino Sena

Publicado em 21/11/2017 às 06:00:00
Atualizado em 17/04/2023 às 19:04:04
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Uma das minhas maiores tristezas enquanto tricolor foi presenciar a torcida do clube entoando o coro “Ê... Eu vou pra Série B!”. Há exatos 10 anos, quase 60 mil vozes gritaram isso numa Fonte Nova lotada, mais de uma vez na temporada 2007, quando o time disputava a famigerada Série C.

A cada repetição, o infernal “Eu vou pra Série B” era gritado mais forte e ficava mais alto. O “Bê” se prolongava e parecia que não ia acabar nunca mais... Aquilo entrava na minha cabeça e ressoava como um murro. Eu estava lá, mas não conseguia acompanhar a empolgação da galera. O constrangimento me paralisou. Era deprimente demais ver a massa que já fora bicampeã brasileira festejar polvorosamente o regresso pra SEGUNDA divisão! Naquele ano, o Bahia subiu, mas eu não consegui comemorar. A tristeza pelo momento histórico do clube era maior.

Infelizmente, nos últimos anos, a torcida do Bahia acabou se acostumando a pensar pequeno como naquele 2007. Consequência das sucessivas más gestões que fizeram o clube encolher esportivamente. Diminuíram o tamanho, as perspectivas. Mudou a mentalidade. Diminuiu a ambição do torcedor. Ele passou a se contentar em não cair pra segunda divisão, em lutar pra subir, em ser campeão baiano ou em comemorar vitórias pontuais.

O tricolor comprou até o discurso derrotista dos dirigentes incompetentes que o relegaram a essa situação e repetiam que “não há grana pra concorrer com os grandes do Sul”. Apequenou-se. O torcedor do clube que foi campeão brasileiro em cima do Santos de Pelé, maior vencedor do Nordeste, simplesmente parou de se permitir sonhar com coisas maiores. Foi tragado pela ciranda da mediocridade.

Até que veio a improvável arrancada nesta reta final de Série A, comandada por Paulo Cézar Carpegiani, Jean, Edgar Junio e companhia. A sequência de bons resultados, o bom futebol e a benevolência de um campeonato que pode classificar quase a metade de seus participantes pra Taça Libertadores devolveram ao torcedor do Bahia a ambição. Ele voltou a pensar grande.

Desacostumado que está a altos voos, o torcedor começou tratando a possibilidade como brincadeira. Fez piada de si mesmo. Levou na gozação. Mas o time foi crescendo, encostou na zona de classificação e agora, apesar da derrota pro Sport no domingo, a chance de ir para o torneio mais importante do continente ainda é real. Já tem gente tirando passaporte, os memes de “Rumo a Tóquio” pipocam nas redes sociais e Jorge Zarath já fez até versão do hino em espanhol. O Bahia vai brigar pela vaga até a última rodada do Brasileirão. “Buera”!

Mesmo que a classificação não venha, essa mentalidade tem que ficar. O Bahia é grande demais pra se contentar com tão pouco. A torcida tem que querer viver essa expectativa de disputar a Libertadores sempre e não de caju em caju... A última vez que o clube ficou entre os oito do Brasileirão foi há 16 anos. Não pode demorar tanto. Mas vai demorar. Se não houver cobrança e se o conformismo voltar. O Bahia não nasceu pra ser pequeno. A torcida não pode perder a consciência disso.

*Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras