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Ex-goleiro do Ypiranga é o melhor do Brasil como trombonista


 

José da Silva, o consagrado Zeca do Trombone, é considerado o melhor do Brasil e um dos maiores trombonistas de pistão do mundo

  • Da Redação

Publicado em 02/01/2018 às 05:00:00
Atualizado em 17/04/2023 às 22:00:07
. Crédito: Foto: Divulgação

“Tudo que deve ser feito deve ser bem feito”. O conselho de Laura Soares da Silva, sua mãe, fez o goleiro Zeca, revelado pelo Bangu, com passagem pelo Campo Grande e profissionalizado no Ypiranga, desistir de uma carreira promissora no futebol para se dedicar inteiramente à música.   Hoje, José da Silva, o consagrado Zeca do Trombone, considerado pela crítica internacional como o melhor do Brasil e um dos maiores trombonistas de pistão do mundo, não se arrepende. Após estourar idade nos juvenis do Bangu, Zeca, aos 21 anos, indicado pelo técnico Paulo Emílio e contratado pelo Ypiranga, foi destaque no Campeonato Baiano de 1965.   “Encerramos o returno empatados com o Botafogo e o Fluminense de Feira e, embora tivéssemos um excelente time, terminamos vendo os botafoguenses, dos atacantes Cabinho, Nílson e Machado e do zagueiro Lapão, se classificarem para disputar o título de campeão estadual com o Vitória, vencedor do primeiro turno”, lembra Zeca, aos 73 anos, esclarecendo também que o título ficou em poder dos rubro-negros.   Dirigido por Estanislau Silva, o Ypiranga tinha, na época, um bom time até em dimensão regional, graças à dedicação e ao dinheiro do milionário presidente Humberto Rebouças, dono de muitas propriedades rurais nas proximidades de Jequié, no sudoeste do Estado. “Demos azar”, ressalta o músico, ao recordar da equipe ypiranguense, segundo ele, “injustamente eliminada”: Zeca, Teixeira, Zé Otto, Dario e Vavá II ou Galo; Sílvio Mário ou Josias e Siri ou Vavazinho; Vadinho, Jorge Bassu ou Poroba, Mascote e Waldir.

O Ypiranga treinava no campo da Chapada do Rio Vermelho e concentrava no Hotel São Bento, no Centro Histórico, onde moravam Zeca e Sílvio Mário, cujos familiares residiam em Ilhéus.

Nascido e criado no bairro de Campo Grande, na zona Oeste do Rio de Janeiro, desde moleque já tocava trombone. “Só por brincadeira, nas horas de folga, nos dias de concentração, para matar a saudade de meus pais”, explica, acrescentando que mantém até hoje amizades nascidas naquele período, como as de Siri e Josias, seus companheiros no Ypiranga. “Lembro-me ainda de um diretor de futebol chamado Homero Côrtes, braço direito de ‘Seo’ Rebouças”, falou, sem precisar exigir muito da memória.   Aqui Zeca ainda era o promissor goleiro do Ypiranga que disputou o Campeonato Baiano de 1965 (Foto: Arquivo Ivan Lima/Arte em Foto: Fábio China) O lugar da  música A doença da mãe, que acabou falecendo precocemente, determinou sua volta à Cidade Maravilhosa. “Queria continuar jogando futebol e até pensei em retornar ao Bangu, onde tinha muitos amigos e algum prestígio, por ter sido campeão infanto-juvenil em 1961, e a simpatia do técnico Tim, com grande influência no clube. Mas a música já havia tomado conta de minha vida”.   Foi aí que entraram os ensinamentos de Dona Laura: fazer as coisas sempre com perfeição. “Não podia conciliar o futebol profissional, que exige dedicação, treinamento e um bom preparo físico, com as atividades musicais, que passaram a ser frequentes e normalmente exercidas à noite, num ambiente de boemia”, declara.

Um discípulo de Rubens de Farias Aluno de música do grande maestro Rubens de Farias, o já instrumentista Zeca do Trombone não cabia mais em seu Campo Grande, bairro da zona Oeste do Rio de Janeiro. Inicialmente integrando o conjunto The Jet’s e, mais tarde, com voo próprio, percorreu o Brasil e países da América do Sul participando de trabalhos e de gravação de discos ao lado de artistas da MPB, a exemplo de Elizeth Cardoso, Milton Nascimento, Gonzaguinha, Ivan Lins, Tim Maia, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Alcione, Wando e Marlene.

Trocando o cabelo baixinho dos tempos de jogador por uma caprichada cabeleira black power, Zeca fez parte do show Praça Onze dos Bambas, do Projeto Pixinguinha, contracenando com a cantora Marlene, num espetáculo escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin e sucesso em todo o país. “Fui um dos pioneiros, entre os artistas brasileiros, a usar black power, antes mesmo de Tony Tornado”, orgulha-se.

Aos 73 anos, viúvo desde 2009, com sete filhos, 11 netos e quatro bisnetos, já não viaja tanto quanto antigamente, mas não se queixa da agenda sempre cheia, com exibições, sobretudo, nas casas de show na zona Oeste e no centro antigo do Rio.

Teresópolis, Macaé, São João da Barra e Casimiro de Abreu, municípios fluminenses, são lugares também sempre visitados por Zeca. “Graças a Deus, ainda tenho meu espaço e sempre estou trabalhando”, comemora, observando que o telefone (21) 99802-9672 e o e-mail zecadotrombone@ig.com.br estão disponíveis para shows.

Possui diversas gravações, desde a época dos velhos LP’s e compactos e, entre outros sucessos, fazem parte de sua discografia Zeca do Trombone e Roberto Sax, Zeca do Trombone, Rota do Mar, Gosto de Festa, no qual teve uma participação especial ao lado de Domingos do Estácio, e Gafieira, com composições que marcaram apresentações na ‘Gafieira Elite’, no Rio, em companhia de Carlos Dafé e da banda Malandro Dengoso.   Classifica como “inesquecível” um show realizado em 2005, no Bar Sacrilégio, na Lapa, centro boêmio do Rio. “Fui convidado pelos cantores Michel Tasky (belga) e Eliane Faria para prestar uma homenagem ao tradicional bloco Bafo da Onça. Foi demais”, confessa o antigo goleiro ypiranguense.