Assine

'As crianças chegaram ao limite emocional e mental', diz representante de escola sobre possível volta às aulas


 

Prefeito eleito Bruno Reis diz que considera retorno de atividades presenciais para início de fevereiro

  • Alexandre Lyrio

Publicado em 30/12/2020 às 05:00:00
Atualizado em 21/04/2023 às 22:46:04
. Crédito: Nara Gentil/Arquivo CORREIO

Os representantes de escolas receberam com satisfação e alento a sinalização do prefeito eleito Bruno Reis de que as aulas presenciais nas redes particular e pública podem retornar no início de fevereiro de 2021. Segundo diretores das instituições de ensino e representantes das entidades que reúnem as escolas particulares, ainda que as crianças sejam potenciais transmissoras do coronavírus, as perdas emocionais e mentais têm sido enormes.  

“Eu acho que essas crianças chegaram no limite emocional e mental. Mais um ano dessas crianças sem convívio escolar e social vai ser algo muito maléfico do ponto de vista do desenvolvimento sócio-emocional. A gente não pode ter mais um ano com as crianças em casa desse jeito. Há crianças adoecendo e somatizando gravemente”, afirma Walkyria Rodamilans, diretora pedagógica da escola Lua Nova.

O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino da Bahia (Sinepe-BA) informou que as escolas estão se preparando há meses para um retorno, seguindo os protocolos e medidas de segurança. “Vimos com muita satisfação a intenção do prefeito. Era um assunto que estava sendo postergado. Temos feito um trabalho muito intenso para que todos estivessem prontos. Achamos, sim, que é possível voltar. Tanto sob o ponto de vista de cumprimento de calendário quanto do ponto de vista da saúde mental das crianças”, afirma Jorge Tadeu Coelho, diretor do Sinepe. Ele confirma que muitas crianças estão deprimindo e desenvolvendo problemas de ansiedade. “Sem falar na sobrevivência dessas escolas. São muito empregos em jogo, muitos professores de educação infantil inseguros dos seus futuros”.

8 de fevereiro

Em entrevista ao Jornal da Manhã, nesta terça-feira (29), o prefeito eleito disse que prevê a retomada das aulas no ensino municipal em fevereiro de 2021. E deu até uma possível data. “Estamos tentando trabalhar com a data de 8 de fevereiro. Sendo que as escolas teriam uma semana para se preparar, fazer simulações e testes. "Tudo isso vai depender de como esteja o estágio da pandemia a partir de 20 de janeiro. Mantidos os números da pandemia, manter a média de, no máximo, 70% na ocupação da UTI, a nossa ideia é retomar em fevereiro", detalhou Bruno Reis.

Na retomada das aulas, o prefeito eleito disse que haverá rodízio de estudantes, distanciamento, higienização e parte das aulas vai continuar online. Bruno Reis acrescentou que ainda vai se reunir com o governador Rui Costa (PT) para alinhar a decisão. As aulas presencias estão suspensas desde março. “Nossa visão é que se não houver um retorno até fevereiro iremos comprometer o calendário de 2021. Vamos tentar condensar para recuperar este ano", disse.

Retorno seguro

O Grupo de Valorização da Educação (GVE), composto por 60 escolas particulares de Salvador e Lauro de Freitas, afirma que manteve contato com o prefeito eleito e também acredita em um retorno seguro. “O GVE vem tentando contatos com as autoridades estaduais e municipais de educação para elaborar de forma conjunta e responsável um calendário que permita a volta às aulas com toda a segurança. São necessárias várias providências para que às aulas presenciais recomecem e, por isso, quanto mais cedo houver uma decisão governamental a esse respeito, melhor para as escolas, os alunos e suas famílias”, observou o GVE.

Os representantes das escolas insistem que, antes de qualquer coisa, pensam na saúde emocional e mental dos estudantes. “Sabemos que as crianças apresentam quadros mais leves de covid-19, mas não deixam de continuar sendo transmissoras. Por outro lado, as crianças dessa idade aprendem basicamente presencialmente. Elas precisam conviver por uma questão de desenvolvimento emocional, social e mental. Estou falando tanto das crianças da rede particular quanto pública”, reafirma Walkyria Rodamilans, da Lua Nova.

Em termos práticos, no que diz respeito ao estabelecimento de protocolos para um ambiente seguro, algumas escolas particulares dizem que já existem propostas de regras elaboradas por especialistas. “Isso significa que vai ser fácil e de que o risco é zero? Não. Mas estaremos melhores preparados”, diz Walkyria. “Esse é um posicionamento ideológico meu. Morro de medo do vírus, mas defendo o retorno”.

Contradição

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Redes Municipal e Estadual da Bahia (APLB-Sindicato) é contrário ao retorno e diz que o prefeito eleito se contradiz. “Ele é contraditório na medida em que ele critica o Governo Federal porque não existe vacina para a segurança da população. Porque então as escolas devem voltar a funcionar?”, pergunta o coordenador geral da entidade, Rui Oliveira.

Ele diz que foi feita uma enquete com 13 mil educadores da Bahia em 331 municípios. A enquete mostrou que 97,3% dos professores condiciona o retorno às aulas à vacina. “Ele (Bruno Reis) está cedendo à pressão da rede particular”, diz Rui Oliveira, que não descarta convocar a classe para que continuem em casa protegidos do coronavírus. "Se eles insistirem nisso, vamos à luta!". 

Entre os professores da rede pública, porém, há os que defendem o retorno. “Concordo que deve voltar sim. Com todos os cuidados e protocolos necessários”, afirma Silvana Darzé Serrano, professora da Escola Municipal Julieta Viana.

Uma professora que ensina tanto na rede particular quanto pública ficou dividida: “Na escola pública é complexo porque é difícil oferecer condições sanitárias. Escola grande, realidade complexa. Por outro lado, eles estão desassistidos porque não têm estrutura de ensino virtual. Eu fico neutra. Eu como professora de escola pública não quero que volte. E como professora de escola particular sei que, se não voltar, a escola quebra", pondera a professora, que preferiu não se identificar.