Cuidado com os fios

Ocorrido no início de maio, ainda está recente na memória dos brasileiros o incêndio que provocou a queda de um edifício de 24 andares em São Paulo. A investigação indica que a tragédia teria sido provocada por um curto-circuito. Apesar de nem sempre atingir tamanhas proporções, curto-circuitos são mais comuns do que parece pois, por descuido ou falta de conhecimento, a maior parte das pessoas negligencia a manutenção da rede elétrica em seus imóveis. Em Salvador, inclusive, salitre e umidade exigem uma atenção redobrada dos moradores.

Antonio Alencar, aposentado que reside em um apartamento no Acupe de Brotas há 40 anos, passou um grande susto no último mês causado por problemas no sistema elétrico. Os primeiros sinais apareceram no aumento da conta e, como se não bastasse o desgaste da rede antiga, o trabalho malfeito por um profissional contratado para dar solução por pouco não provocou um acidente grave. 

“O sistema elétrico daqui nunca recebeu manutenção pois nunca tivemos problema. Há algum tempo, começamos a perceber os sinais, e o ápice ocorreu quando minha esposa dava banho no nosso neto e o chuveiro deu defeito”, lembra Antonio. 

Para solucionar a situação, o aposentado contratou um eletricista que sugeriu a troca da fiação do apartamento, mas logo após o fim do serviço um novo problema surgiu.“As paredes por onde a fiação passava começaram a esquentar, até mesmo o teto, refletindo no apartamento do andar superior”, relata o aposentado.Ele explica que o mau isolamento dos fios ocasionou um fenômeno conhecido popularmente como “fuga de energia”, uma espécie de vazamento elétrico que, além de aumentar o consumo de energia - encarecendo a conta em até 50% - pode provocar curtos e iniciar incêndios.

O jeito foi contratar um outro profissional. “Já comecei a notar as melhoras. É fundamental procurar um profissional com boas referências, pois é um serviço de alto risco que podia ter posto a minha família em risco”, afirma Antonio. “Vemos, com frequência, casos de acidentes causados pela eletricidade”, completa.

Ocorrências

De fato,  as ocorrências não são raras: segundo o levantamento mais recente de Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), em 2017,a Bahia registrou 25 incêndios provocados por sobrecarga elétrica. Já no ranking de acidentes por choque elétrico, o estado ocupa a primeira posição em toda a região Nordeste, com 82 ocorrências e 57 mortes.

Para o engenheiro elétrico e professor André Pedral, que presta serviços de vistoria em edificações, o saldo é resultado da negligência e da contratação de profissionais não qualificados. “Infelizmente, as pessoas costumam trocar segurança pelo preço e confiam algo tão sério a profissionais que não são capacitados para o serviço”, afirma. 

O engenheiro elétrico aponta que a salinidade de cidades litorâneas como Salvador torna recomendável a manutenção anual do sistema elétrico, pois a condição climática contribui diretamente com o desgaste mais rápido da fiação.

Um outro grande vilão no uso doméstico da eletricidade é o ‘benjamin’ ou ‘T’, acessório que permite o uso de diversos aparelhos em uma única tomada, pois o aumento da potência pode causar um superaquecimento e iniciar um incêndio. 

Dicas para evitar acidentes

Periodicidade Especialistas apontam que,  após a construção,  o imóvel deve receber vistorias bienais na instalação durante os cinco primeiros anos. Passado esse período, a verificação deve ser realizada anualmente. A manutenção - troca de fios, por exemplo - pode ser realizada a cada 10 anos. 

Atenção Um sistema elétrico problemático costuma dar sinais antes da manifestação de ocorrências mais sérias. Esteja atento a aspectos como fios desencapados, picos de energia, odor de queimado, aumento progressivo da conta de luz, tomadas e paredes com temperatura alta, além de aparelhos ou eletrodomésticos danificados sem motivo aparente. Realize os reparos o mais rápido possível, antes que o quadro evolua para uma situação mais grave.

Gambiarras É um contrassenso fazer a manutenção no período correto se no uso diário do sistema elétrico você o utiliza de maneira imprópria. Sobrecarregar tomadas com vários aparelhos, usar dois ou mais benjamins (‘Ts’), emendar fios inadequadamente, utilizar aparelhos com potência incompatível, utilizar produtos de qualidade duvidosa e contar com o serviço de profissionais não especializados são práticas que aumentam muito a probabilidade de acidentes elétricos.

Contratação Por conta da situação econômica do país, é comum que as pessoas prio- rizem a melhor pechincha na hora de contratar um profissional para realizar os reparos na instalação elétrica de casa, porém, esse é o típico exemplo do “barato que sai caro”. Busque referências e verifique se o trabalho desenvolvido pelo eletricista está em consonância com as normas da ABNT.

Material  Não é só na mão de obra que o contratante pode achar vantagem de preço, produtos como cabeamentos, condutores, interruptores e tomadas de qualidade inferior podem ser encontrados no mercado até pela metade do preço das marcas garantidas, contudo, a velocidade  do desgaste desse material pode ser dobrado. Busque marca confiáveis.