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Baixa dos Sapateiros: 33 toneladas de entulho já foram retiradas de casarões


 

Movimento fraco preocupa comerciantes; vizinhos lamentam morte de idoso

  • Vinicius Nascimento

Publicado em 05/09/2018 às 19:06:00
Atualizado em 18/04/2023 às 20:40:07
. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Casarões ainda apresentam 'focos de calor' na tarde desta quarta (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Quase 48 horas após o incêndio que destruiu três casarões na Baixa dos Sapateiros, as equipes da Defesa Civil do Salvador (Codesal) e do Corpo de Bombeiros Militar (CBM) seguem realizando o trabalho de rescaldo dos imóveis. O objetivo é resfriar o local por inteiro e, a partir disso, definir se haverá demolição do local.

Mesmo antes das prováveis demolições, a quantidade de entulho retirada do local já impressiona. No último balanço divulgado pela Limpurb, na tarde desta quarta-feira (5), horas após o corpo da única vítima fatal ser retirada dos escombros, foram recolhidas 33,24 toneladas de entulho no interior dos imóveis. Além disso, informa o órgão, foram recolhidos 2,27 toneladas dos chamados “inservíveis”, que são materiais como portões e objetos consumidos pelo incêndio.

O fogaréu começou por volta de 22h de segunda-feira (3) e vitimou o comerciante José Hunaldo Moura Carvalho, 85 anos, que trabalhava na Serraria Carvalho e vivia em uma kitnet no mesmo local. O corpo do idoso só foi encontrado no meio dos escombros após mais de 25h de operação, entre combate a incêndio e busca pelo corpo. Ele deixou cinco filhos, entre eles uma adolescente de 15 anos, fruto de seu último casamento.

Outras cinco lojas foram atingidas e consumidas pelas chamas.

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Comércio afetado Desde a noite do incidente, a Avenida J.J. Seabra – a principal da Baixa dos Sapateiros e Barroquinha – vem sofrendo com interdições do trânsito que acabaram prejudicando a maioria dos comerciantes locais. 

O principal bloqueio feito pela Superintendência de Trânsito (Transalvador) é na região do Aquidabã, já na altura da avenida. Os ônibus estão tendo acesso pela Rua Siqueira Campos, no Barbalho, e Ladeira Ramos de Queiroz. Os consumidores que querem chegar às lojas próximas ao local onde fica o casarão precisam descer no Aquidabã e seguir um trecho a pé. 

Segundo Ruy Barbosa, presidente da Associação dos Lojistas da Barroquinha e Baixa dos Sapateiros (Albasa), essa situação “afeta ainda mais um comércio que já estava prejudicado pela crise econômica que o país enfrenta”. Ele estima que cerca de 95% das lojas na região abriram nesta quarta, mas as vendas sofreram queda aproximada de 70%. Homens e máquinas no local, na tarde desta quarta (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Lembranças de Seu Carvalho Apesar da preocupação com as vendas, o luto ainda era o principal assunto, diante da morte do idoso, como afirma a vendedora Marlene Santos, 58 anos. A loja onde ela trabalha fica a pouco mais de 15 metros de onde ficava a Serraria Carvalho. Ela conta que Seu Carvalho, como a vítima era conhecida na região, vendia de tudo.“Tinha móveis bonitos e era uma pessoa muito querida na região”, comentou ela.A afirmação é confirmada por José Lopes, dono de uma loja de confecções e vestuário infantil no mesmo passeio onde funcionava a Serraria Carvalho. O lojista de 58 anos conta que já está na região há duas décadas e se mostrou surpreso ao contar que “não sabia que Seu Carvalho morava dentro da loja”. “Não tinha condições dele ficar sozinho ali”, observou. Corpo de idoso ficou desaparecido por 25 horas até ser encontrado (Foto: Nilson Marinho/CORREIO) O cheiro de material queimado que paira nessa região da Baixa de Sapateiros não impediu Hermínio de Araújo, 49, de ficar parado em frente ao casarão pelo segundo dia consecutivo. Bonitinho da Bahia, como prefere ser chamado, trabalha como animador de uma loja próxima a uma ladeira que dá acesso ao Pelourinho  e conta que Seu Carvalho, a quem chamava de “titio”, era um dos “cartões-postais do Centro”, junto com ele próprio.

Ele conta que conheceu o comerciante morto no incêndio há 12 anos. Na época que Bonitinho começou a trabalhar na região, Seu Carvalho já tinha “mais de 55 anos na praça”. 

O idoso trabalhava no casarão, que pertence à família há 70 anos. Inicialmente, ele trabalhou junto a seu pai na loja que já era uma serraria desde o fim da década de 1940. Após o falecimento do pai, a loja ficou sob responsabilidade de José Hunaldo, que viveu no local até o último dia de vida.

Ao CORREIO, comerciantes vizinhos, clientes e até familiares informam que Seu Carvalho vendia “um pouco de tudo” e, em sua loja, havia vários materiais inflamáveis. Apesar disso, o estabelecimento tinha instalações elétricas precárias, com fiação exposta, e não contava com plano de combate a incêndio – nem extintores o espaço possuía. Imagem da parte interna da Serraria Carvalho antes do incêndio (Foto: Emerson Cabral/LeitorCORREIO) Focos de calor O destino dos três casarões atingidos pelo incêndio ainda não está definido. Ainda é necessário retirar o restante do entulho que está no local. A Codesal explica que antes de tomar uma medida definitiva é necessário terminar o rescaldo e resfriamento do local, que acontece desde a tarde dessa terça. O procedimento ainda não havia terminado, na tarde desta quarta, por conta dos focos de calor que seguem surgindo no interior dos imóveis.

Só quando essa etapa estiver completa é que os engenheiros da Codesal vão avaliar se faz uma demolição parcial, ou seja, da fachada dos casarões, ou se realiza uma demolição completa, como informou a assessoria do órgão.

*Com supervisão do editor João Gabriel Galdea.